Uma sombra negra ...
O quarto estava encoberto pela escuridão. Tudo exatamente no seu devido lugar.
A cortina balançava suavemente. Sendo possível às vezes visualizar a janela.
A janela nunca fecha completamente, a casa é velha e ela está emperrada há anos.
O interruptor está ali ao alcance da mão dele. Só que a mão está em completa inércia, não se move, nem com todos os seus esforços, ela não se move.
Bem em frente a sua cama esta a penteadeira, herança de sua vó, como quase todo o resto dos móveis que decoram o quarto. Apenas com exceção da cama, que é nova e moderna.
As paredes pintadas de um cinza intenso, que com a luz tremulante que atravessa a janela se torna quase negra.
Sua esposa e o filho dormem tranquilamente, alheios ao seu desespero de se libertar. Pesadas correntes envolvem seu corpo. Mordaças sujas fecham sua boca. Apenas seus olhos conseguem se movimentar.
E eles se movem aflitos, angustiados e assustados perante a cena que se desenrola bem ali, sobre a cama da família.
È uma sombra. Uma sombra negra . Tem a forma de uma criança.
É um menino, está completamente nu. Nu e sentado aos pés da cama. Ele ri. Ri de forma enigmática.
Os olhos são negros e vazios. Tem brilho diferente, um brilho que trás todo o saber de uma outra vida.
Ele gira o corpo e ri mais uma vez. O riso é alto e profundo. A criança olha com malevolência para sua família.
Ri de forma obscena e gira o corpo de forma inumana.
Levanta da cama e vai saindo de mansinho escorregando os dedos levemente sobre a penteadeira.
Dê um salto ele conseguiu, libertou-se das correntes, arrancou a mordaça. Correu atrás do menino.
Ele estava esperando em frente ao quarto do filho. Seus olhos terríveis o convidavam a segui-lo. Ele foi atrás.
A criança estava no quarto. Ela ria e com movimentos deslizantes quebrava tudo que tocava. Quebrava e ria.
Não estava mais no quarto.
Podia ouvir o som daquele riso ali por perto. Saiu á sua procura.
A sala estava toda quebrada. Os sofás rasgados. As janelas escancaradas.
O riso se ouvia. Eram mais agora. Tinha mais crianças, ele podia ouvi-las.
Saiu pela porta escancarada rumo ao jardim. Elas estavam pelas árvores.
O jardim estava todo destruído. Os cachorros ganiam desesperados de medo.
O mal estava por toda a parte ele podia sentir. Podia sentir na pele. Podia sentir seus ossos congelando.
Começou a rezar baixinho. Gemendo e suplicando que uma força divina o iluminasse e mandasse aqueles seres do mal embora.
Sentiu a mão que puxava seu braço. A mão era forte, sacudia e o puxava para dentro da casa. Para longe daqueles seres noturnos.
Virou-se assustado rezando com toda a força de seu pulmão , com toda a fé do seu coração.
Então ele a viu. Ela estava clara, luminosa. Chamava seu nome com energia. Dominando com seus gestos as crianças maléficas. Trazendo luz e calor ao seu corpo.
“Querido?? O que foi ? o que está fazendo aqui na sala? Você está congelado... Por favor o que está acontecendo?” A voz refletia sua preocupação.
Aliviado e trêmulo ele abraçou a esposa. Em fim estava acordado.
Em fim as crianças malditas haviam ido embora.
* Aconteceu mesmo. Ele está tendo pesadelos, ao longo deste ano. Alguns são realmente assustadores.