O aviso

Eu estava sentada numa espreguiçadeira branca na beira de uma piscina, com o meu kit de unhas. O que me chamava a atenção era o formato da piscina. Ela formava a letra L, mas era uma letra espelhada, ou seja, para esquerda. Eu me encontrava bem no vértice, onde se formava o ângulo. Minha irmã, Selma, estava comigo. Eu disse:

─ Selma, fica de olho no Léo pra mim, por favor, enquanto eu faço as unhas? Não deixa ele se aproximar da piscina.

No instante seguinte eu o vi. Meu pequeno bebê estava lá no fundo da piscina. Pulei desesperada na água e o trouxe para fora. Eu gritava para Selma:

─ Por que você não ficou com ele? Por quê?

Eu gritava, gritava e apertava o peitinho dele com força tentando expulsar a água dos seus pequenos pulmões. Então... acordei num sobressalto, agradecida por ter sido só um sonho ruim. Abracei meu marido e voltei a dormir.

Pela manhã, contei para o José o pesadelo da noite anterior. E ele me disse:

─ Que estranho! Eu sonhei algo parecido. Não com essa riqueza de detalhes, mas lembro que o contexto era o mesmo. O Léo se afogava numa piscina. Seria um aviso pra gente ficar de olho nele?

─ Que bobagem! ─ afirmei. ─ Lá vem você com essa besteira de premonição. Nosso prédio tem piscina, mas ele é muito pequeno pra descer sozinho.

Sorri e fui para o trabalho. Não era mulher de acreditar nessas coisas. Ninguém poderia prever o futuro muito menos nos sonhos.

Como uma profissional da mente humana e cientista, se algo não podia ser explicado dentro dos parâmetros da ciência, não merecia minha atenção. Aprendi nos livros que fenômenos paranormais tinham sempre uma explicação científica que desmistificava qualquer candidato a médium, curandeiro ou xamã. Paranormalidade e ciência sempre bateriam de frente. Assunto encerrado.

Algumas semanas se passaram e fomos convidados para uma comemoração de aniversário de casamento de nosso amigo Paulo e sua esposa Tânia. A festa seria no sítio da família, a alguns quilômetros de onde morávamos. No dia da festa tudo estava bem, conversávamos animadamente e a comida estava deliciosa.

Em um dado momento a Tânia me chamou para passearmos pelos arredores do sítio. Ela queria me mostrar as plantas que ela cultivava e as reformas que estavam pretendendo fazer. O lugar era mesmo muito bonito e aconchegante. Não sei por que, mas alguma coisa me impedia. Não consegui ir com ela.

Durante o resto do dia a Tânia me mostrou a nascente que cortava a propriedade, alguns pés de frutas no pomar e a quadra de tênis que eles estavam construindo.

Quando já estávamos voltando pra casa, já na estrada, de repente comecei a chorar, pois foi neste exato momento que algo me chamou a atenção. Percebi que a piscina do sítio tinha o formato de um L, como no meu sonho. O formato peculiar espelhado era exatamente o mesmo. E a espreguiçadeira também estava no mesmo lugar – bem no vértice. O José brincou com o Léo e outras crianças na piscina e em nenhum momento eu percebi que todo aquele lugar era o mesmo. Só então me dei conta de que, instintivamente ,eu não consegui sair de perto do Leo. No meu íntimo eu sabia que não poderia deixá-lo sozinho e percebi que o mundo espiritual se comunica conosco a todo momento. Só precisamos prestar mais atenção.