Assassino profissional
Apesar do bulício, avistou o alvo. Parado ali, inocente e fácil. Talvez a mais simples dos "serviços". Só não mais tranquila seria se caso não houvesse tanta gente, mas já decidira: esperaria o garoto sair da praça e o seguiria até um lugar menos movimentado; uma pena não poder acabar logo com aquilo. Ficou ali, à espreita, esperando que o jovem resolvesse sair. Estava a ler um livro de Física e com um bloquinho anotando, talvez, alguma lição - método meio estranho para se aprender, não? O tempo passou e sua paciência esgotou. Eis que ouviu o relógio apitar: já eram umas cinco e pouco da tarde; nada dele sair. Todo assassino - profissional - precisa ser paciente, coisa que faltava naquele homem. Não fosse tão grande o valor pela cabeça daquele, desistiria; ora, um mero garoto, fosse um chefão ou coisa assim...
Nem percebeu, mas passou todo aquele tempo refletindo sobre a profissão... Estava esperando o momento certo para matar uma pessoa que tinha anos e mais anos possíveis para viver. Uma pessoa inocente. Que estava ali, apenas a estudar e garantir um bom futuro. Bem diferente dos criminosos que já matara: líderes de quadrilhas, mafiosos e afins.
A razão do contratante para tal - não que importasse, mas, nessa única vez, estranhou o fato e perguntou o motivo de ser contratado para dar cabo de um menino de doze anos - era que o pai do mesmo tomou seu posto na empresa; isso trouxe sua fúria e queria descontar no filho.
Automaticamente, como qualquer mercenário, não ligou para as palavras e apenas maquinou na mente a forma perfeita para tal ato. Porém, no ócio da espera, como é comum a qualquer pessoa, perdeu-se nesses pensamentos...
Acabar com uma vida, que nada a ver tinha com o conflito, apenas para levar a tristeza a uma pessoa - e não só a ela, por consequência - que apenas fazia seu trabalho de modo competente...
Deixou os pensamentos de lado quando viu o rapaz, enfim, levantar-se. Logo pôs a segui-lo, disfarçadamente, um pouco de longe. Não havia decidido o que fazer, ainda. Apesar de bom profissional, titubeou - pela primeira vez - no ato...
E, quando bem atrás daquele inocente estava, filou-o, mas falhou ao puxar a faca guardada no bolso.
- Quer alguma coisa, senhor? - perguntou, estranhando aquela atitude do homem elegante a tocar-lhe.
Não conseguiu responder.
- Err... - tirou a mão, respeitosamente, daquele indivíduo de seu ombro - vou indo, então. Desculpe-me se algo te fiz, mas tenho mesmo que ir.
E foi distanciando-se...
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N.R.
C.D.