A CARONA
Eu já estava há horas pedindo carona na beira da estrada. Queria ir visitar os meus avós, que raramente eu podia encontra-los por morar em outra cidade. Os poucos carros que passavam, pareciam nem notar a minha presença ali, quase implorando por uma solidária carona. Às vezes, eu ficava um tempão esperando passar um carro e nada; nem sequer sinal de uma única alma viva.
De repente, avistei um carro que vinha longe, mas mesmo assim, eu podia ouvi-lo se aproximando em alta velocidade. Quando passou por mim, o motorista me viu ali desesperado pedindo carona e freou o carro; parou vários metros longe de onde eu estava parado. Corri na direção do veículo com minha mochila nas costas, feliz da vida; minha carona havia chegado. O carro era um incrível Opala SS preto, de quatro portas. Uma máquina possante.
Ao chegar à janela do Opala, cumprimentei os cavalheiros. Havia três homens dentro do veículo. O motorista me perguntou para onde eu estava indo e eu respondi que ia até a próxima cidade. Mandaram-me embarcar, pois eles estavam indo para a mesma cidade; era o meu dia de sorte. Os homens estavam muito bem vestidos, eram simpáticos e educados. Eu logo me senti a vontade.
Durante toda a viagem, fomos conversando sobre diversos assuntos. A todo o momento, alguém contava uma piada e todos riam muito. Eu estava em companhia agradável e divertida. Perguntaram-me sobre minha família, meus avós, onde moravam; essas coisas. Gentilmente, um dos homens comentou que eles poderiam me levar até a casa dos meus avós; mas antes, eles precisavam fazer uma rápida parada para resolver um assunto no centro da cidade.
Eu disse que seria um prazer convidá-los para um café na casa dos meus avós, pois os velhinhos eram extremamente hospitaleiros. Quando chegamos ao centro da pequena cidade, notei que os homens estavam calados; às vezes resmungavam alguma coisa que eu não entendia. Não dei importância, já que nem os conhecia direito. Estacionaram o Opala na rua ao lado do banco. Eles se olharam e sacaram armas; eram pistolas e revolveres. Eu levei um grande susto.
Dois dos homens desceram do Opala com as armas nas mãos e mandaram que eu ficasse quietinho aguardando no carro junto com o motorista, que nada de mal me aconteceria. Disseram ainda, de maneira irônica, que precisavam fazer um saque no banco e já voltariam para todos irmos juntos até a casa dos meus avós para tomar um café. Nessa hora, eu fiquei ainda mais apavorado.
Os homens foram em direção ao banco enquanto eu implorava ao motorista para que me deixasse ir embora. O homem me mandou ficar quieto para não ter que atirar em mim. O bandido disse-me ainda que se eu colaborasse, eles não fariam nada contra mim e nem contra os meus avós, pois eles só precisavam de um lugar para se esconder após o assalto. Fiquei paralisado de medo, em pânico.
Um ou dois minutos se passaram e foi então que ouvimos um tiroteio. Aparentemente vindo do banco. O motorista do Opala ficou muito nervoso, parecia não saber bem o que fazer e foi nesse momento que eu abri a porta do carro e saí correndo pela rua. Rapidamente dobrei a esquina, mas ainda assim, ouvi o homem gritando que iam me caçar e me matar. Eu nem olhei para trás; corri o máximo que pude e me infiltrei no meio da multidão para despistar, caso alguém estivesse atrás de mim.
Com meu coração disparado e quase saindo pela boca, vi carros da polícia passando em alta velocidade, com suas sirenes ligadas. Eu nunca tinha sentido tanto medo na minha vida. Resolvi não ir procurar a polícia, fiquei preocupado, pois se alguém tivesse me visto no carro com aqueles homens, poderiam me acusar de cúmplice ou algo assim. Esperei a poeira baixar e peguei um ônibus até a casa dos meus avós.
Já era quase noite quando cheguei a casa deles. Meus avós me disseram que não se falava outra coisa na cidade; todos só falavam sobre a tentativa de assalto ao banco do centro da cidade. Meu avô contou que viu no noticiário que o segurança do banco trocou tiro com os bandidos e logo depois a polícia chegou e prendeu três assaltantes. Eu fiquei muito aliviado. Não contei a ninguém que estive com aqueles homens, que conversei com eles, que dei risadas das suas piadas e que viajamos no mesmo carro. Após esse episódio, eu nunca mais tive coragem de pegar carona com desconhecidos.