Sempre Alerta!

O dia começara, como de costume, às 5:30 h da manhã com o apito estridente da sargento Carson e o grito enfático:

- Pro chão!

E colocar os pés no chão do dormitório que dividia com outras 19 garotas, lá foi Jeanne Rowland, após deslizar para fora das cobertas com um jogo de corpo que já se tornara instintivo. Ainda estava escuro, fazia frio e chovia, anotou mentalmente, enquanto se posicionava na fila para o banheiro mais próximo.

- Café às 6:00 h! - Acrescentou talvez sem necessidade a sargento, antes de sair. Sim, todas sabiam que só teriam 30 minutos para a higiene matinal em apenas dois banheiros, e era um milagre diário que conseguissem fazer isso sem que ninguém se contundisse.

Meia hora depois, uniformizadas e penteadas, sob o comando de Carson, as vinte garotas marcharam em ordem-unida sob chuva, até o refeitório.

- Sem correr, pelotão! - Exigiu a sargento, caminhando ao lado do grupo para verificar se todas estavam em formação.

Para Jeanne Rowland, o único consolo que conseguia antever era uma boa caneca de café quente. Nem mesmo o retorno à cama no fim do dia era tão apreciado quanto aquele momento no início de cada manhã.

- Deve ter sido daqui que veio o lema da Guarda Costeira - comentara certa feita com as colegas, ao tomar café. - Semper Paratus, Sempre Alerta!

- Café e cigarros - arguiu a recruta Wanda Willis.

- Não dá pra fumar em serviço - alertou outra. - Imagine ficar de guarda numa estação da Guarda Costeira, à noite, e o inimigo lhe acertar um tiro pela posição da brasa do cigarro!

- Não vamos fazer serviço de guarda - replicou Rowland. - Mas a ideia de poder acender um cigarro nas horas de folga, me agrada.

- Qual marca você fuma? - Indagou Wanda Willis.

- Ardath - replicou Rowland. - Com filtro.

* * *

Jeanne Rowland e Wanda Willis, juntamente com outras reservistas trajando uniformes azul-marinho da Guarda Costeira, estavam na plataforma da estação, aguardando o trem que as levaria para fora de Stillwater, Oklahoma.

- Quando me disseram que eu teria que fazer treinamento para a Guarda Costeira em Oklahoma, pensei que o recrutador estivesse brincando - relembrou Rowland, cigarro no canto da boca. - Como assim, Oklahoma? A costa fica a mais de 1400 milhas de distância!

- Illinois também não fica exatamente perto da costa - alfinetou Willis.

- Justamente por isso eu queria ir logo ver o mar - replicou Rowland. - Meu pai ainda atravessou o Atlântico, quando foi lutar na Europa em 1917, mas nem eu, nem minha mãe ou minhas irmãs, chegamos perto de água salgada.

- Acho que vi o Atlântico por boa parte da minha vida - suspirou Willis. - Afinal, eu sou de Massachusetts. Mas confesso que estou com saudades, principalmente depois das últimas semanas de treinamento no meio do mato.

- E você estava morrendo de medo de ir para a estação de serviço - riu Rowland. - Ratos, cobras, e índios selvagens, não foi o que te disseram?

- Confesso que não vi nenhum - reconheceu Willis. - Ainda bem!

- E esse tal posto misterioso para o qual nos inscrevemos? O que acha que pode ser? - Inquiriu Rowland, esfregando as mãos enluvadas.

- Pediram voluntárias com experiência em equipamentos de rádio, e você achou que seria uma boa ideia nos inscrevermos - avaliou Willis. - Seja lá o que for, parece bem mais divertido do que trabalhar como ordenança em alguma base naval.

E diante do olhar confiante de Rowland, acrescentou com uma ponta de malícia:

- Espero não estar enganada desta vez.

- [05-07-2020]