Eu quero acreditar

Andrew Reese precisou caminhar mais algumas dezenas de jardas até encontrar o poste com o telefone de campanha usado para comunicar o progresso da patrulha à base.

- O que houve, Reese? Você está atrasado - disse a voz da sentinela do outro lado da linha.

- Vi um movimento suspeito na praia - informou brevemente.

- Precisa de reforços?

- Não. Alguém na rodovia estava fazendo sinais para uma embarcação de algum tipo; não pude identificar o que era, barco ou submarino.

- Alertamos a Marinha? - Questionou com preocupação a sentinela.

- Seria bom, embora com esse nevoeiro é pouco provável que possam avistar alguma coisa. Eu vou continuar na ronda e na volta mostro o que encontrei na rodovia; creio que foi a pessoa que estava sinalizando quem deixou cair.

- Não conseguiu ver quem era?

- Não. Estava muito escuro e eu não queria chamar a atenção acendendo minha lanterna; partiu num automóvel no sentido Hither Hills, pouco antes que eu conseguisse chegar à pista.

- Está bem. Vou dar o alerta à Marinha e ao FBI - replicou a sentinela.

Reese desligou, fez um carinho entre as orelhas de Greta e prosseguiu na patrulha. Quando retornou à base, já era alta madrugada.

* * *

- Agente Nathan Murray, FBI.

O visitante em trajes civis exibiu uma carteira com um distintivo para Reese. O encontro havia sido arranjado no início da tarde pelo comandante da base da Guarda Costeira em Long Island, tão logo Reese despertara e tomara o desjejum após sua noite de guarda.

- Seu comandante me disse que você havia encontrado uma evidência do possível sabotador em Hither Hills, nesta madrugada - inquiriu Murray.

- Sim, eu pus neste envelope - replicou Reese, retirando um envelope de carta dobrado do bolso da jaqueta escura de serviço e o entregando ao agente. Murray o abriu com suspeição e ergueu os sobrolhos.

- Uma guimba de cigarro? O que isso prova?

- Ainda estava acesa quando a encontrei. Provavelmente, deixada pela motorista do automóvel que sinalizou para a embarcação.

- Marca de batom. Sua dedução parece correta - assentiu Murray.

- Aqui em Long Island nós fizemos treinamento básico com a polícia local; sobre como abordar suspeitos, procurar evidências, esse tipo de coisa - explicou o rapaz. - É necessário, já que prestamos serviço próximo de áreas densamente povoadas. Há todo tipo de gente circulando nas imediações da praia, mesmo que o acesso à ela hoje seja restrito.

- Compreendo - aprovou o agente. - Mas você não conseguiu visualizar nenhum detalhe da motorista ou do veículo?

- Lamentavelmente não, agente. Sei apenas que era um carro de passeio, não um caminhão ou utilitário.

Murray balançou a cabeça em concordância, enquanto guardava o envelope num bolso do terno preto.

- De antemão, creio ser pouco provável que o que tenha visto possua alguma relação com forças inimigas - declarou. - O mais provável é que se trate de contrabandistas. Desde que capturamos os oito espiões nazistas ano passado, graças à ajuda da Guarda Costeira, não acredito que os alemães seriam tão estúpidos a ponto de tentarem entrar novamente nos Estados Unidos pelo mesmo lugar.

- Ou talvez estejam esperando que não contemos com essa possibilidade - retrucou Reese.

Murray balançou negativamente a cabeça.

- Um raio não cai duas vezes no mesmo lugar, patrulheiro.

- [27-06-2020]