A MISTERIOSA VILA 33 - DEVANEIOS E TRAIÇÃO
A noite fria não foi indiferente aos meus sentimentos, o cavalheirismo do meu anfitrião se mostrou em pele feminina e atraente. Após me recolher aos aposentos da grande fortaleza, uma figura adentrou ao meu quarto soturna e silenciosamente. Sob o travesseiro meu sabre descansava, rapidamente minha mão deslizou e o alcançou firmemente. A figura caminhou gentilmente em minha direção e se revelou uma linda mulher, era de fato bela e sensual. Suas curvas por baixo do manto transparente, deixavam a mostra seus lindos seios que desafiavam a gravidade enquanto ela se movimentava. Ao chegar à borda da cama senti um leve aroma de cravo, suas pernas e coxas a mostra, eram de uma perfeição artesanal. Parada em frente a mim, sua voz macia e suave proferiu.
- O capitão me mandou lhe fazer companhia.
Um homem que está em desespero, não se furta a expurgar demônios da sua mente. Naquele momento pensei que estava sonhando, ergui a mão e toquei seus lindos cabelos brilhantes, com um sorriso ela avançou e se deixou cair sobre mim. Seu corpo sobre o meu não pesava, seus seios tocando meu peito, exauriam sua sensualidade pelos poros. Ainda meio incrédulo perguntei seu nome e o que queria. Ela encostou os lábios mornos em meu ouvido e disse:
- Estou aqui para ama-lo, você precisa de uma noite de amor, todos precisam, Asgard me mandou.
O louco devaneio me abraçou, algo no meu cérebro reativou meus instintos animais. Em busca do gozo soberano, me lancei no precipício do prazer e da volúpia da carne. Minha alma destroçada, ganhou uma nova moldura naquele momento. Real ou surreal, não poderia fugir, não se trata de razão ou emoção, e sim de algo que não cabe dentro de um ser humano normal, se extrapola a compreensão.
Nada falamos, nos entrelaçarmos entre beijos ardentes e sexo quase animal, nossas mãos buscavam deslizando sobre nossos corpos as partes mais sensíveis e eróticas, extraindo múltiplos orgasmos que se sucediam repetidamente, os gritos de prazer ecoaram de encontro as paredes de pedra do quarto. Não lembro quando adormeci exausto, mas quando acordei estava sozinho, ela havia desaparecido, tão leve como havia chegado. Recobrei a serenidade e somente aí me dei conta do que havia praticado, agora uma locomotiva desgovernada, atritava suas rodas de aço sobre os trilhos da minha mente, revelando a traição que havia imprimido a Isabelle. Em um pulo felino me levantei, me vesti, e sai ao encontro de Asgard.
Chego ao grande salão e o cumprimento.
- Bom dia Asgard.
Ele responde com propriedades e sapiência dos fatos.
- Aros, esvazie sua mente, você não precisa ter culpa, a vida já lhe cobrou preço alto até aqui.
Respondo.
- Asgard, que fiz foi algo inaceitável, Isabelle não merece isso.
Ao que ele retruca.
- Se concentre em tudo que virá daqui por diante, seu amor por ela está acima de tudo, e isso não passou de um sonho.
O desjejum foi carne, muita carne, não ousei perguntar de que espécie ou de onde viera, apenas consumi, pois, estava faminto, e desejava como nunca retornar para casa.
Asgard pronuncia quase que uma profecia.
– De agora até o nascimento, você receberá o sinal da minha chamada.
Levanta-se da mesa olha para mim e diz. - Você já pode ir Aros. Em seguida acompanhado pelos dois cães negros, desaparece entre a sombra e a escuridão do grande salão. Olho para o grande portão de ferro, e a minha espera está o guardião que me escoltou na chegada. O caminho de volta é por entre as tumbas sem nome. Já a margem da estrada, ele parou entre as rochas e apontou em direção a carruagem, era o velho cocheiro que me aguardada.
- Bom dia Aros. Disse o velho
- Bom dia. Mal respondi.
Saímos apressadamente do desfiladeiro em direção ao vilarejo. O ruido das rodas de madeira friccionando o eixo, se confundia em minha mente com o ruído da consciência e da minha incerteza.
O bem pelo qual lutei durante toda minha jornada estava nas minhas mãos, porém, escapava de um jeito fugaz e sutil diante daquele nova realidade, um filho, um filho de quem? Meu? De Isabelle e do maligno? Como poderia conviver com este terror? Nada mais a fazer a não ser aguardar o nascimento da criança? Ama-lo odiá-lo? matá-lo ou entrega-lo ao demônio que um dia em conheci em Baltimore?
Uma sombra negra como ébano em forma de ave se mostrava no alto dos penhascos nos seguindo.