Pesadelo de Katy IV
Já havia escurecido e chovia forte quando Katy saiu da biblioteca, só se deu conta que não havia levado o guarda-chuva nesse momento! Nenhum táxi por perto quando se precisa de um, teria que ir andando até em casa, ainda bem que não estava muito longe. Resolveu colocar os fones de ouvido e ligar seu mp3.
A chuva ficava mais forte e o vento lhe gelava o corpo. Lembrou-se do túnel que cortava caminho até a rua paralela a de sua casa, poderia chegar mais rápido e se molhar um pouco menos. Era um lugar que estava sempre movimentado e não correria nenhum perigo se optasse seguir por ali.
Seguiu adiante mais um pouco e chegou ao túnel, viu algumas pessoas saindo, mas nenhuma entrando, não por aquele lado ao menos, pensou. Resolveu ir em frente com sua idéia, pois estava quase congelada, conseguiria pegar um resfriado com certeza e ouviria um belo sermão de sua tia Moli.
O túnel estava um pouco escuro, nunca havia caminhado por ele à noite! Seu mp3 começou a falhar, a bateria estava terminando, logo agora pensou Katy, desligou-o e guardou na mochila. Podia ouvir o som dos seus próprios passos no chão, o sapato de salto fazia barulho e ecoava... plec, plec, plec... O local estava deserto, se enganara quanto a ter gente ali naquele momento. Faltavam somente alguns metros pra sair daquele lugar agonizante. De repente não era somente o barulho de seus passos que escutava. Havia mais alguém ali, alguém que havia entrado pelo mesmo lado que ela. Parou e olhou pra trás, não havia ninguém! O barulho cessou instantaneamente... Poderia ser sua imaginação pregando alguma peça, o que é normal de acontecer quando nos encontramos sozinhos e em locais aparentemente desertos.
Continuou, faltava pouco agora. Os barulhos de outros passos surgiram novamente, mas dessa vez ela não olhou pra trás, apenas começou a correr, queria sair logo daquele lugar. O som continuou compassado atrás dela tec, tec, tec... O final do túnel não chegava nunca, na verdade parecia estar cada vez mais distante a cada passada...
As poucas luzes que funcionavam no lugar começaram a piscar, avisando que falhariam a qualquer momento, era preciso se apressar e sair dali. Se conseguisse sair estaria na rua e a salvo! Não precisava sentir pânico. Um trovão forte a fez sentir-se mais assustada ainda, faltou luz... Era só o que faltava agora! Correu o mais rápido que pôde e que seus sapatos permitiram, o chão estava molhado e tinha que cuidar para não escorregar, ainda mais naquela escuridão, porém o cuidado foi em vão, acabou pisando de mau jeito em algum buraco, torceu o tornozelo e caiu, gritou de dor.
Pôde sentir quando algo começou a se aproximar dela, o bafo era quente, o hálito forte cheirando a enxofre, sentiu algo viscoso pingar em seu ombro... Lágrimas de desespero escorriam de seu rosto agora! Achou que estava tendo mais um daqueles sonhos estranhos, mas dessa vez era verdade! A coisa a cheirava e rosnava com raiva, agora Katy só podia rezar...
Outro trovão ecoou no céu e a luz voltou! Lá estava Katy, sentada na lama, totalmente descontrolada. Ela olhou para todos os lados, mas não avistou nada nem ninguém, estava sozinha! Um choro desesperado tomou conta da garota. Precisava chegar em casa, só conseguia pensar nisso. Tirou os sapatos, afinal já estava toda molhada e suja mesmo. Tentou levantar, uma fisgada no tornozelo e uma dor latejante que queimava, não conseguia apoiar o pé no chão. Mesmo assim continuou caminhando lentamente apoiando-se às paredes do lugar, sentia um musgo nojento grudando em sua mão, mas não havia outra alternativa. Ouviu novamente um barulho de passos atrás de si, olhou desesperada para trás, era apenas uma moça que vinha em sua direção perguntando se ela estava bem e se precisava de ajuda. Elas chegaram até a outra extremidade do túnel, lá estava a rua movimentada e iluminada.