Eles Estão Entre Nós - Capítulo Zwei

Era óbvio que eu não compartilhei essa experiência com outras pessoas. Todo mundo sempre tem uma opinião e falam besteiras com o peito estufado como se tivessem certeza das coisas. Mas resolvi que tentaria descobrir o que havia visto na noite anterior.

Esperei anoitecer e fui para o lado de fora. Trouxe uma câmera que havia comprado de manhã e esperei com ansiedade. Algumas boas horas haviam passado e nada. Comecei a me perguntar se realmente aquilo acontecera.

Acabei pegando no sono. Quando acordei uma mulher estava parada na minha frente. Me olhava com uma certa curiosidade e fiquei um bom tempo tentando entender como ela ficou esse tempo todo me observando sem eu notar uma única vez.

Arrisquei um oi um pouco tímido e sonolento. A mulher continuava me olhando fixamente. Pelo que lembro bem ela tinha uma estatura mediana, talvez um pouco magra e um estranho cabelo negro que deduzi ser alguma peruca barata.

- O que você quer?

Eu realmente estava sem paciência para aquilo tudo. O sol começava a brilhar muito forte contra o meu rosto e me senti forçada a colocar minha mão no olho para me proteger. Quando conseguir enxergar novamente a mulher desaparecera. Em seu lugar tinha um pingente de um X. Apenas uma letra X minúscula prateada. Quando peguei do chão fez uma queimadura na minha mão. Soltei um palavrão e cobri minha mão com a barra da camiseta.

Levei o pingente para dentro de casa e o soltei em cima da mesa da cozinha. Eu tinha uma lupa em algum lugar mas não consegui achar de imediato. Deixei-o ali mesmo e fui para o centro da cidade procurar outra lupa, dessa vez uma maior.

No caminho passei por uma praça com uma fila enorme de pessoas. Eu odiava fazer parte de grupos curiosos mas não pude ignorar o que estava presenciando. Parei o carro e desci. Perguntei para o último da fila, um homem careca com cara de poucos amigos, o que estava acontecendo. Ele me olhou incrédulo:

- Você não viu no jornal?

Pela minha cara de dúvida ele com certeza concluiu que eu não havia visto o jornal. Com uma fala rápida e movimentos das mãos ele tratou de me explicar tudo o que eu havia perdido.

De maneira resumida: Uma criança encontrou um suposto homem azul no meio de um dos brinquedos, avisou a mãe, que avisou outra mãe e todos começaram a se reunir ali para entender de onde veio aquela criatura. Fiquei intrigada e sai para ver o tal homem antes mesmo do careca terminar a explicação.

Realmente eu via uma coisa azul parada do lado do balanço. Empurrei algumas das pessoas e cheguei perto. E percebi alguns segundos depois que apesar da grosseria eu tinha feito a escolha certa. Pois assim que pude prestar atenção no tal homem vi um colar com um pingente igual ao que estava na minha frente mais cedo.

O homem não piscava ou falava. Acredito que estava assustado demais com aqueles vários olhares curiosos para cima dele. Ofereci minha mão para tentar tirá-lo dali, ele mexeu o olho em direção aos meus dedos e novamente senti uma onda de calor muito forte. O sol agora estava acima da minha cabeça e não fui capaz de enxergar com precisão o que tinha acontecido.

Lembro de sentir um toque suave na minha mão estendida e em seguida uma dor aguda. Meus olhos ardiam e resolvi procurar uma sombra. Por que nunca levo meus óculos escuros?

Quando cheguei embaixo de uma árvore e olhei para minha mão a respiração pesou. Uma marca de X exatamente igual a da queimadura com o pingente de manhã. Eu confesso o meu medo e olhei imediatamente para onde o homem estava parado. Ele havia sumido mas a multidão continuava parada no mesmo lugar. Completamente imóveis. Todos com as duas mãos nos olhos e uma postura estranhamente reta.

O que diabos havia acabado de acontecer? Todos ali pareciam estar em alguma espécie de hipnose. Uma nuvem enorme cobrira o sol e indicava a formação de uma tempestade. Aproveitei a sombra momentânea e fui em direção àquelas pessoas.

O que tanto olhavam? Tentei falar com uma mulher que estava do lado de uma criança, provavelmente eram mãe e filha. Toquei de leve no seu ombro, nada. Nem uma reação sequer. Fui na criança e comecei a estalar os dedos. Parei na frente da mulher e fiquei batendo palma e assoprando seu rosto. Ela nem sequer piscava.

Algo estava estranho. Disso eu tinha certeza. Fui para o lugar que o homem estava parado antes e no seu lugar apenas o pingente. Após a lição aprendida de manhã usei um pano para enrolar o pingente e guardei no bolso. Voltei correndo para o carro, dei partida e fui o mais rápido que pude para o centro.

*****

Comprei uma lupa enorme. Cheguei em casa e joguei o pingente do lado do outro. Ambos eram um X e ambos queimavam a pele no toque. Com a ajuda da lupa vi uma pequena marquinha. Em um pingente tinha um círculo minúsculo desenhado perto da ponta do X. No outro tinha um circulo com um traço no meio exatamente no mesmo lugar.

Procurei por aqueles desenhos no google mas não consegui achar nada satisfatório. Apenas algumas páginas com significados sobrenaturais e conspiratórios. Mas eu tinha certeza absoluta que isso era um culto religioso. Só podia ser. Que outra coisa seria?

Annie Bitencourt
Enviado por Annie Bitencourt em 19/06/2018
Código do texto: T6368721
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