As paredes geladas

São seis horas da manhã, assim como de todas elas. É um horário crucial para se perguntar: por que estou acordada? Minha mente não para. É um trabalho incansável pensar em tudo e não resolver nada. Mas afinal, resolver o que? Talvez preencher um vazio de pensamentos concretos, ou imaginar-me feliz em uma vida que não seja a minha, quem sabe... A grande questão é poder conservar meus pensamentos positivos mesmo que sejam fictícios. Ou não também, tanto faz. São tantos pensamentos, a inconstância é imensa, mas se formos analisar nada é mais complicado do que viver. Pelo menos é o que minha mente entende como complicado, incerto. Pensar... Processar... Repensar... Mais uma noite em branco, ou talvez poluída, estou esgotada. Essas horas insistem em morar na minha casa, justo no meu quarto. Pra quê gastar energia com luz ligada a noite quando possuo um cérebro eficiente, não?

Essa imaginação está de parabéns, não cessa! os fios fizeram um nó tão grande atrás do relógio da parede que não sei se terei condições de desatá-los. As paredes deveriam ficar paradas dentro do quarto enquanto a janela estivesse fechada. Mas com sempre, tudo se faz ao contrário do que digo. Contentar-me-ia só com essas paredes giratórias, pois a casa revolveu se cobrir com algo que não entendo o que seja. Minhas mãos estão trêmulas, perdi o controle sobre elas, sinto o ar do desespero passar por essa corrente de ar, com uma leve pitada de dor. O passado está gargalhando nesse exato momento por tudo aquilo que desperdicei, ou fingi não ligar porque no fundo eu sempre me importei. As más línguas falam que pensar demais deixa a gente doido, mas nesse caso é diferente, sinto uma dor suportável, talvez por que tenha aprendido a cuidar dela ou ela a cuidar de mim. Os fios do relógio começaram a surtar, parece fogo aquilo ali? E esses ventos? Por que não consigo me esquentar com esse negócio cobrindo a casa? Não aguento mais errar tanto em um mesmo momento, ou talvez eu me supere – como sempre! Talvez pudesse cortar logo esses fios, não aguento mais. Ande mãos, mexam-se! Cubra-nos a fim de cessar esse frio repugnante que invade minha morna pele de cheiro de rosas brancas.

Yara Oliveira
Enviado por Yara Oliveira em 18/06/2018
Reeditado em 18/06/2018
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