SEXTA-FEIRA (Original Ideia)

Sexta-feira

Todos saem de seus trabalhos e vão se divertir, beber, comer, namorar, coisas comuns, mas há sempre aqueles que não fazem isso, alguns continuam trabalhando.

Empregados da vida.

Provavelmente tinham outros sonhos, outras metas, mas não as alcançaram e estão presos a isto.

Este é o caso dela.

Esta com vinte e poucos anos, uma garota admirável, ótima aluna, ótima filha, tinha vários sonhos, um deles era viajar o mundo, se aventurar, mas em vez disso está presa a uma mesa de escritório, com a cara num monte de papelada, seus olhos castanhos escuros estão focados no canto da sala, talvez esteja pensando nas possíveis viagens que teria feito.

Pura tristeza.

Poderia ter se tornado uma modelo, pois é linda, cabelos escuros, lábios sempre com um batom rosa, maquiagem escondendo sua beleza natural. Aquela beleza típica de garota do campo.

Viveu com seus pais, em uma fazenda, sonhava em sair dali e conhecer o mundo, viajar, estudar, comer outros tipos de comida, conhecer pessoas. Mas não.

Formou-se em algo que te deu à oportunidade de trabalhar num escritório grande, aqueles com as janelas enormes, que dão para ver toda cidade, tinha até uma secretária que nunca estava onde devia, sua sala espaçosa tinha uma pequena prateleira com bebidas de diversos países, algo que a ligava com o seu sonho, tinha também uma cafeteira moderna, mas que fazia um péssimo café.

Desanimada.

Havia muitas canetas ali, algumas bem interessantes, muitas contas da empresa, e mais papéis, aquela vida era entediante, mas dava dinheiro, que infelizmente não foi o suficiente para seu noivo ter ficado, a largara a pouco tempo, dava para perceber pela marca da aliança em seu dedo, talvez esse acontecimento tenha a forçado a trabalhar ainda mais.

Uma garota tão linda, presa nessa vida, algemada a essa mesa de escritórios, com a cara no trabalho, seus olhos sonhando com os sonhos passados, havia uma caneta vermelha, estava sobre a mesa, molhada com algo vermelho que reluzia e pingava, não era tinta. Era sangue, ele gelou rápido por causa do ar condicionado, a cor rosa de seu batom estava dando lugar para o roxo pós-morte, suas roupas estavam bem alinhadas, morreu com uma ótima aparência, a algema em sua perna que a impediu de fugir parece estar muito desconfortável.

Retiro-a.

Arrumo uma mecha de seu cabelo que estava caída sobre a poça de sangue, seus olhos ainda estão focados no canto da sala, talvez tenha visto seus sonhos passarem enquanto sentia sua vida a deixar.

Que frio.

Combina com a imagem.

O café é terrível.