No bar
A porta atrás de mim fechou violentamente, empurrada pelo vento forte e frio daquela noite de sexta-feira. Todos me olham assustados.
O velho bar estava deserto, coisa rara pois eram justamente nas sextas que haviam as apresentações musicais, única opção de lazer naquela velha e pacata cidade de trabalhadores braçais bêbados e mães solteiras.
Procuro uma mesa isolada das poucas pessoas, um canto escuro aonde não vejam meu rosto ou queiram sentar comigo e puxar conversa fiada. Minha companhia: uma garrafa de uísque, alguns cigarros, um canivete e um colar de ouro (única lembrança de meus tempos de casado). Viúvo. Não mais abraços e beijos de amor, corpos entrelaçados ou afagos em meus cabelos.
Alguém entra rapidamente, encapuzada, fugindo do terrível frio invernal. Se aproxima do balcão, retira o capuz e um silêncio sepulcral toma conta do ambiente. A música para e todos os olhares, inclusive os das putas, se voltam para o rosto angelical que a poucos minutos se escondia debaixo da capa.
Eu estava prestes a acender um cigarro, mas diante de tanta beleza, não pude desviar a atenção. Dei mais um gole em minha bebida antes de me levantar, nesse intervalo outros cinco bêbados fizeram o mesmo. Ia tentar falar com ela, mas o que dizer?: – Boa Noite, posso acompanhar a dama num drinque? Muito clichê. Mudei a rota ao ver aqueles homens indo na mesma direção. Fui ao banheiro.
Lavei o rosto para tentar disfarçar o cheiro do álcool e dos cigarros tragados durante o dia. Limpo a poeira do casaco e recoloco o chapéu de couro em minha cabeça. Não sei se devo falar, melhor evitá-la, talvez seja alguma ladra fugitiva que busca sua presa, alguém entre esses seres sem escrúpulo algum, que pudesse mostrá-la o banco ou qualquer outro local que havia mais recursos. A casa do prefeito, quem sabe.
Sem pensar mais, saí daquele local com cheiro de mofo, éter e pessoas mal cheirosas.
Subi em meu cavalo e antes que eu pudesse começar a cavalgar, um tiro. De dentro do bar. Desci de imediato, saquei meu revólver e abri a porta calmamente.
Outro tiro. O primeiro na cabeça dela, o segundo no meu peito.
Descobriram nosso plano, éramos nós os bandidos.