O BAIXISTA (Segundo ato) (Valquíria)

O tempo passava e eu não tinha motivos para ficar feliz, afinal já havia se passado quase um mês e não tinha ninguém para julgar nesse caso.

No dia 14/05 recebi uma mensagem na secretaria eletrônica que dizia:

-Entre no jogo, atente-se aos números, datas e partituras.

-Se você não me entender nunca irá me deter.

-E para facilitar sua vida, te darei mais um endereço e outra contemplada, afinal, já te considero meu amigo.

E lá estava eu, novamente na zona leste, com outra vitima de nome Valquíria, bonita, pele branca, longos cabelos negros e cacheados.

Mãos amarradas com cordas de contra baixo, com outra enrolada no pescoço e com as pontas perfurando seus ouvidos.

Ao lado de seu corpo outro pedaço pequeno de papel desenhado uma partitura e na parede um relógio antigo do tipo cuco parado mostrando a hora 3h04m (na hora não me atentei a esse detalhe).

Comecei a pensar nas datas e todos os outros detalhes, mas nada disso fazia sentido, afinal as datas eram diferentes, os relógios não me mostravam nada e eu não sabia nada sobre as partituras.

Alem de toda essa tragédia, ainda tem o fato desse maníaco assassino achar que isso é apenas um jogo e tentar me obrigar a jogar como se fosse uma simples partida de xadrez.

Eu não entendia nada sobre musica ou instrumentos musicais e comecei a pensar que esse conhecimento me seria muito útil neste caso, mas não teria tempo de me aprofundar em teorias musicais e sim precisaria ter alguém que me pudesse auxiliar no assunto, mas infelizmente eu necessitaria entender tudo que fosse possível para tentar entrar na cabeça deste psicopata e comecei a ler tudo sobre partituras, teoria musical e contra baixo.

Sem poder deixar de me atentar nos números e datas, minha mente está cansada, ando me desgastando em excesso com esse caso, o que seria apenas um criminoso comum torna-se um assassino em serie e eu atolado até o pescoço nesta podridão.

Por mais que me esforce em entender toda essa loucura, o tempo está contra mim e agora já não durmo, não como e minha vida se resumi a um criminoso psicopata.

Ainda não sei o significado do numero 1504, mas cheguei a um resultado igual com a data do segundo crime 14/05.

14+05=19-15=04 e assim cheguei a mais um numero 1504, não sei se isso faz algum sentido ou se apenas estou enlouquecendo também e temos ainda os dois relógios parados em 1504, minha única conclusão sobre isso é que ele também é maníaco por números.

Enfim, tive a ideia de contratar um especialista em musica para me auxiliar com as partituras. A senhorita Érica, uma professora de musica renomada e muito experiente em teoria musical.

Nesse momento de minha vida, toda ajuda é bem vinda e todo seu conhecimento me será muito útil.

Ela começou por tentar decifrar o que as partituras poderiam querer dizer, pois até o presente momento estamos com um novelo de lã em mãos e com varias pontas soltas e não temos conclusões e nem ligações de nada a respeito de nada, mas a vida seque seu rumo e nós temos vários motivos para continuar com nossas vidas em virtude de outras vidas, de mulheres que nem conhecemos.

Quanto às partituras, nesse momento aprendi que a clave de Fá é usada para a leitura das notas mais graves de um instrumento musical e que o contra baixo tem esse nome e utiliza a clave de Fá por emitir um som grave. (chamado por alguns de “detonador de sub frequência”) Foi assim que percebemos que ele toca ou gosta de contra baixo e começamos nos referir a ele como “O BAIXISTA”, mas isso ainda não me diz nada referente aos crimes.

Ao examinar as partituras, a professora Érica percebeu logo de imediato, que a pauta continha uma nota MI “E” e nesse momento ela me deu minha primeira aula de musica.

Érica me explicou:

-O nome das notas (dó, ré, mi, fá, sol, lá, si) tem a sua origem na música coral medieval. Foi Guido d'Arezzo, um monge italiano, que criou este sistema de nomear as notas musicais - o chamado sistema de solmização. Seis das sílabas foram tiradas das primeiras seis frases do texto de um hino a São João Baptista, em que cada frase era cantada um grau acima na escala. As frases iniciais do texto, escrito por Paolo Diacono, eram:

Ut queant laxis,

Resonare fibris,

Mira gestorum,

Famuli tuorum,

Solve polluti,

Labii reatum.

Tradução: "Para que os teus servos possam cantar as maravilhas dos teus atos admiráveis, absolve as faltas dos seus lábios impuros"

Mais tarde ut foi substituído por do, sugestão feita por Giovanni Battista Doni, um músico italiano que achava a sílaba incômoda para o solfejo, e foi adicionada a sílaba si, como abreviação de "Sante Iohannes" ("São João"). A sílaba sol chegou a ser mais tarde encurtada para so, para uniformizar todas as sílabas de modo a terminarem todas por uma vogal, mas a mudança logo foi revertida.

As sílabas ut, ré, mi, fá, sol e lá, chamadas vozes, não correspondiam a alturas absolutas na escala, mas apenas a graus num hexacorde. A altura das notas era designada por letras de A a G. A partir de um trecho escrito num modo eclesiástico qualquer, podia-se transpô-lo de uma quarta, quinta ou oitava, sem modificar nenhuma das vozes sobre as quais o trecho seria cantado. Uma sequência ré-mi-fá transposta de uma quarta continuava a ser considerada ré-mi-fa, na solmização, e não sol-lá-si bemol como no sistema atual, embora fosse designada por G-A-B♭ em vez de D-E-F. Mais tarde, nos países latinos, adoptou-se a designação "dó ré mi fá sol lá si" para representar "C D E F G A B".

Nossa conclusão continuava vazia, o que tínhamos percebido até o momento era, que a primeira partitura mostrava uma nota MI “E” e a segunda continha uma nota Ré “D” e tínhamos dois relógios que marcavam a hora de 15h04m que coincidentemente ou não, era a data exata do primeiro crime, mas isso não nos parece ter qualquer ligação.

Minha vida segue ladeira abaixo, essa perseguição consome todo meu tempo e está afetando todos ao meu redor, sinto-me constantemente irritado com tudo e com todos e cada vez mais, tenho duvidas sobre como pegar esse maníaco.

Não entendo como e nem por que uma mente pode ser tão transtornada a ponto de matar outras pessoas com tamanha crueldade.

Não consigo entendê-lo, não consigo prendê-lo...

Começo a me sentir paranoico, todas as vezes que algum telefone toca, sinto um frio na espinha, minhas pernas travam como se estivesse esperando por mais noticias ruins, só em pensar que possa ser ele, com a notícia de uma nova vitima meu corpo todo treme.

A mesma paranoia me domina quando vejo a luz da secretaria eletrônica avisando que existe uma nova mensagem, que mesmo contra minha vontade, terei de ouvir.

Às vezes eu sinto que loucura é como uma tempestade numa plantação de soja, por mais que eu corra, por mais que eu fuja para o mais longe que eu puder, nunca estarei totalmente livre e mais cedo ou mais tarde eu serei atingido e contaminado como se fosse um vírus que penetra através de minha pele para possuir minha mente fazendo com que eu perca o controle de minhas faculdades mentais.

Meu sonho é acordar deste pesadelo...

Continua...

Eduardo Perez
Enviado por Eduardo Perez em 30/10/2016
Reeditado em 30/10/2016
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