SEM SANGUE

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Em cada rua, em frente a cada casa de número par, um corpo gélido, duro e sem uma única gota de sangue, os rostos eram encovados, como se todo o sangue lhes tivesse sido sugado, só faltava se descobrir por onde e como, pois não havia uma só marca, que pudesse responder a essa questão. Matheus O Quinto, como era chamado pelos colegas, era um policial da antiga, de uma longa linhagem de policiais, era o quinto de sua paterna geração, em sua trajetória de quase vinte e um anos, a serviço da polícia, nunca havia visto nada semelhante, precisavam dar uma resposta à sociedade, pois o povo estava alvoroçado e apavorado, e tudo o que seu final de carreira não precisava, era de algo assim. Os investigadores estavam em polvorosa, perícias severas e minuciosas, estavam sendo engedradas. Um biólogo apareceu uns dias depois, afirmando que sabia o que tinha acontecido, havia presenciado e sentido na pele, o que havia acontecido com aquelas pessoas. Os policiais o escorraçaram de lá, não queriam nenhum lunático, querendo seus dez minutos de fama, plantando bobagens sobre discos voadores, seres espaciais e outras loucuras mais, nas cabeças das pessoas, que já andavam apavoradas.

Só que depois de dois meses, nenhuma resposta ainda, podia ser dada à população. Matheus O Quinto, então, se lembrou do tal biólogo, será que havia um fundo de verdade em suas alegações? 

Lembrou que ele dissera trabalhar na Universidade local, resolveu procurar por ele, se não desse em nada, mal também não faria. Não foi difícil encontrá-lo, um japonês meio ruivo, não era muito comum, rapidamente soube como chegar até ao Professor Hiroki, que o recebeu dizendo.

- Sabia que afinal iriam me procurar!

Contou-me que estava saindo da Universidade às dez e meia da noite, logo após sua última aula, o Campus já estava meio vazio de estudo e sobrava intentos de diversão aos moradores, plena sexta-feira, bruxas soltas pelos alojamentos, muita adrenalina e hormônios envolvidos, ah! A juventude...o professor suspirou ao expressar esse comentário. Seguindo o relato, disse que depois de caminhar uns quinhentos metros até quase chegar ao portão de seu sitiozinho, viu uma luz meio embaçada, lilás e arredondada, pairando sobre uma  moça que parecia ter entrado em transe, pois não proferia uma só palavra, o corpo dela simplesmente foi ficando pálido, murcho, a luz soltou-o como uma muchiba molenga no solo, ele se escondera atrás de uns arbustos com os olhos arregalados e o grito preso na garganta. Se esgueirando, correu na direção contrária, mas, a luz o alcançou iluminando parte de sua perna, ele sentiu uma dormência fria e buscando forças, não tinha a menor ideia de onde, empreendeu uma corrida desabalada pela estradinha que levava ao Campus, só parando, quando percebeu que a luz desaparecera. 

Matheus O Quinto, ouvia o relato absurdo, com a incredulidade estampada em seu olhos e no curvar cínico de seus lábios, quem acreditaria naquilo, foi quando, o Professor Hiroki, levantou a perna da calça, tirou o sapato do pé esquerdo e a meia mostrando parte de seu pé e panturrilha, meio arroxeados,  meio murchos e extremamente pálidos, como se não fizessem parte da mesma perna, pois apesar do sangue inexistente, apesar de não estar necrosada, aquela parte do corpo dele, perdera a vida. Naquele instante, defronte ao professor, estava um polical estupefato. Hiroki, refez seu trajar e caminhando sem saber como agir, seguiu em direção a viatura, um Matheus O Quinto com cara de besta...



 
Cristina Gaspar
Enviado por Cristina Gaspar em 01/10/2016
Reeditado em 01/10/2016
Código do texto: T5778271
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