As chaves
Passos largos. Caminho. Olho em volta.
Tudo escuro. Ruas desertas, sombras paradas.
Silêncio. Os únicos sons que ouço são meus pés tocando as poças d'água e as gotas que caem nos velhos telhados.
Atrás de mim uma sombra em movimento. Minha respiração acelera e junto com a chuva, o suor frio escorre por meu corpo já trêmulo.
Caminho mais depressa, sem ousar olhar para trás. Continuo sendo seguido. Corro.
"Faltam poucos quarteirões e logo estarei seguro".
Não há trânsito. Cruzo as ruas em velocidade sobre-humana.
Chego à porta de casa e enfim, olho para trás. Não há ninguém.
"Que alívio".
Ponho as mãos no bolso esquerdo: não encontro as chaves. Bolso direito: algumas moedas somente.
"Não posso tê-la perdida. Talvez as esqueci na mesa do bar, pouco antes de sair".
- Que droga! "Eu não volto pelo mesmo caminho. Estou certo de que fui seguido, é provável que o bar já tenha fechado"
Meu medo logo se transformou em ira.
Por um instante senti uma mão enrugada tocar-me. Me viro lentamente e num sorriso sombrio aquela pessoa vestindo preto me olha profundamente e estende uma das mãos com as chaves.
Sujas de sangue de algum outro infeliz...