A CAIXINHA
Foi em uma noite sombria, em que o silêncio se fazia mais presente do que qualquer outra ocasião.
Estávamos sentado na varanda: eu, minha amada esposa e nosso pequeno cão.
Não trocamos uma palavra durante horas, apenas olhávamos a copa do velho baobá sendo agitado pelo vento e o céu tão estrelado, como uma mina reluzente de diamantes.
Tão longe da cidade viviámos que não possuiámos energia elétrica. A casa, era alumiada por um lampião a querosene. As paredes, repletas de fotos familiares. Na cômoda um rádio a pilha, um espelho e uma caixinha deixada pelo meu avô como herança.
Nunca havia sido aberta, e não possuía tanta curiosidade assim. Esperava abri-la em alguns meses, em nosso aniversário de cinquenta anos de casados.
Naquela noite, pouco antes de dormirmos, uma gélida brisa soprou, como se fora um prenúncio de morte. Fizemos nossa prece, como de costume, e nos deitamos.
Mas despertei-me em meio à madrugada com latidos pertubadores do pobre cão. Penso eu que alguém entrou na casa para roubar minha caixinha. Minha herança.
Ao meu lado, não encontro minha esposa. Levanto-me em desepero e a vejo em frente ao espelho, de costas e com a cabeça abaixada. No chão, a caixinha jogada, aberta.
Aproximo-me aos poucos e, com seu olhar arregalado, sorri. Com a dentadura do meu avô.