O Rádio Relógio

Alcides fitou o rádio relógio no criado-mudo. O aparelho marcava uma hora e vinte e três minutos. Era um início de tarde agradável, apesar da chuva fria e intensa.

Após conferir as horas, coçou os olhos. Contente, disse para si mesmo:

- Que bom! Posso dormir mais um pouco.

Virou para o lado e desligou os pensamentos. Passara alguns minutos. Ele acordou. Espreguiçou, levantou os braços e tornou a olhar o rádio relógio. Assustou.

- Que estranho! Ainda são uma e vinte e três. As horas não passaram?

Alcides fechou os olhos e com calma, contou de um a sessenta. Abriu os olhos bem devagar. Tornou a conferir as horas. Logo gritou, em pânico:

- CREDO! QUE ISSO! As mesmas horas!

Ele sentiu arrepio na alma. Sacudiu o rádio relógio. Uma, duas, três vezes. O rádio soltou uma música sinistra: tammm… tammm tammm… tammm tammm tammm… E o som repetia entre pequenas pausas. Alcides falou bem baixinho:

- E agora? Estou com medo!

Ele tentou mudar de estação. Girava o botão de um lado a outro. Nada. Tentou desligar e não conseguiu. Entrou em desespero.

Alcides coçou a cabeça. Estalou os dedos e lembrou que tinha ganho o rádio relógio de presente num amigo-oculto de um amigo que só poderia ser inimigo. Sussurrou:

- Maldito! Ele sabia que este rádio relógio era assombrado.

E o aparelho continuava a marcar uma hora e vinte e três minutos. A música sinistra não parava. E ele transpirava por todo o corpo.

Ele ouviu uma voz atravessar a porta com seu nome. Uma, duas, três vezes seguidas. Acordou tremendo e assustado. Sonhava que estava sonhando com o bendito rádio relógio. Minuciosamente olhou para o criado-mudo e certificou que não tinha nada em cima. Respirou aliviado. Destrancou a porta do quarto para Denio, seu vizinho e amigo.

- Vamos Alcides! Te chamei por três vezes. Já é quase Uma e …

- Espere Denio! Já sei. Uma e vinte e três.

- É quase isto. Hoje é o dia do amigo-oculto.

- Desculpe, mas acho melhor não participar.

- Que pena Alcides. Tirei você no sorteio.

- Que surpresa meu vizinho. Mas não vou participar.

- Se quiser posso entregar o presente aqui mesmo.

- Tudo bem. Assim seja.

- Conte até três e espere. Já aviso: é bem simples. Um rádio relógio que …

- NAAOOO! - gritou e continuou – Dispenso o presente. Está louco? Nem nos sonhos!

- Calma amigo. Respire e conte até três. Por que não quer o rádio relógio?

- Nem pensar! Desculpe, mas já tive muitos problemas com o rádio relógio.

Cláudio Francisco
Enviado por Cláudio Francisco em 11/12/2015
Reeditado em 11/12/2015
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