"O Demônio de Blackchapel" - Parte XIV
Capítulo 14:
Medo do Escuro
- Vamos pequena, você demora demais.
Ao ouvir estas palavras, a menina de 9 anos, tornou a caminhar. Ela estava acompanhada de duas pessoas. A primeira era seu pai, um homem de 40 anos, alto e com boa postura, barba mais ou menos feita e um olhar sério, porém confiável.
A segunda pessoa era um garoto, com aproximadamente a mesma idade da jovem. Talvez apenas um pouco mais velho. Ele não possuía expressão alguma em seu rosto. Caminhava de jeito uniforme e não olhava para mais nada ao seu redor. Parecia ter sua mente distanciada do mundo físico, presa em uma espécie de universo paralelo, alheia e indiferente a todas as coisas ao seu redor.
O três caminhavam por uma bela praça em Blackchapel, iluminada pelo sol de uma manhã de primavera. Flores lindíssimas, dos mais variados tipos, ornamentavam o lugar e contribuíam para a formação de uma belíssima paisagem. Um ar tão calmo e agradável pairava sobre o lugar, uma sensação de liberdade e graça, despojava por uma tranquilidade rara de se encontrar. O som dos pássaros cantando e piando, tornavam o lugar ainda mais belo. Era como se eu belo concerto para violino, estivesse tomando forma no cenário da realidade.
A jovem de 9 anos, possuía cabelos loiros e lisos. Olhos azuis encontravam-se atrás de um par de óculos de armação preta e tamanho médio, conferindo a criança, um ar de intelectualidade e beleza jovial. A pela branca tocada pelo sol, brilhava de uma forma suave e encantadora.
Mais uma vez, a menina ficou a observar o lago adjacente a praça de Blackchapel. Foi quando então, o pai dela mais uma vez falou:
- Vamos logo Melissa, pare de ficar olhando para o nada. Eu não vou falar de novo.
Melissa Garden não tinha o hábito de desobedecer seu pai, por quem tinha uma grande admiração, tampouco era comum levar bronca. Ela poderia ser talvez a criança mais certinha e comportada que existiu, mas sempre que andava pela praça de Blackchapel, ficava encantada com a paisagem e admirada pelo ambiente florido, iluminado e harmonioso e isso, muitas vezes a fazia se perder por entre as belas imagens que se projetavam ao seu redor. Além disso, Melissa gostava da luz do dia, da claridade e de espaços abertos. Isso ajudava a ela superar o trauma de 4 anos atrás. Um fato que ela gostaria de apagar, mas sabia que não era o tipo de coisa que iria esquecer, principalmente por isso a ter deixado um sequela, um medo que a acompanharia pela vida toda. O medo do escuro.
...
Melissa Garden esteve a ponto de desmaiar. Imersa em trevas e escuridão, a jovem de cabelos loiros quase desabou. Toda àquela situação deixou a advogada de 27 anos ainda mais nervosa e desesperada. Aparentemente alguém estava brincando com ela, mexendo com seus mais íntimos pensamentos e seus mais desesperados medos. Certamente, quem quer que estivesse fazendo isso, sabia com atingi-la e sabia de seu maior medo, que quase ninguém além dela sabia. Quando a jovem estava perto de enfim abrir a porta, todas as luzes se apagaram. Melissa ficou em escuridão total. Incapaz de ver se quer um palmo à sua frente.
Desespero.
Ela foi tomada pela angústia e agonia e todo o seu mundo interior desabou. Nada podia ser visto ao redor. E isso era desesperador.
Quebrando o silêncio em meio ao escuro, um carro de som parou bem em frente ao prédio que a jovem advogada morava. Ela não conhecia a música e ficou pertubada pela altura que a música estava, mas naquele momento, havia outras coisas com o que se preocupar.
Ela havia se esquecido completamente do telefone e da situação do provável alguém do outro lado da porta. Estar diante de seu maior inimigo, que só a luz pode vencer, era a única coisa que importava naquele momento.
O homem continuava ao telefone, em silêncio. Após alguns minutos. Ele decidiu falar:
- Agora sim eu posso ver você. Como está bonita Melissa.
Ela então pode sentir que a voz parecia mais perto dela. Inicialmente pensou ser um efeito do telefone. Ela não percebeu, mas a música do lado de fora, havia parado. Antes que tivesse a oportunidade de dizer qualquer coisa, o homem ao telefone continuou a falar:
- E esse seu perfume, que saudade eu tinha desse perfume.
E então Melissa, que achava que não poderia ficar mais apavorada, experimentou do pior jeito que estava errada. O silêncio que ficou no telefone agora era um silêncio pior e ela sabia porquê. Sentiu um calafrio percorrendo o pescoço, indo e voltando suavemente. Seria a morte? O medo? Não, o calafrio era uma respiração, de uma pessoa. Física. Existente. Uma pessoa comum e bem viva. Uma pessoa parada no escuro, bem atrás dela.