Gosto de Terra
Era mais de duas horas da manhã.
Entrei naquele lugar e ao perceber o frio, senti-me em pura solidão. Era um lugar escuro, e não se via nada. Apenas sentia-se aquele cheiro forte de terra misturado com sangue.
Ao caminhar, aquele cheiro passava por minhas ventas , e, devagar, eu ia sentindo a podridão daquele lugar. Aquele cheiro de madeira velha toda mofada agoniava até santo. Não sei onde ficava. E muito menos por quê parara ali. Eu andava muito, e não conseguia sair do lugar escuro e sombrio. O gosto de sangue podia ser sentido na boca. As mãos suavam, e as pernas já não respondiam mais por meus comandos.
Eu procurava a saída a todo momento. Mas não sabia onde procurar. Aos poucos, o que estava muito escuro, foi se iluminando. Só se viam mesas de madeiras mofadas, com manchas de sangue bem escuras e uma luz balançando sobre elas. Tinham muitas moscas, e a fiação da luz estava exposta. Cadeiras com o assento quebrado. Galões grandes e pretos ao lado de uma porta. Ferramentas de jardinagem e de carpintaria ficavam sobre um armário encostado no fundo da parede. Já se via muita coisa. Já se sentia muita coisa. Era melhor ter ficado no escuro. O lugar era muito podre. Parecia cena de filme de terror. De repente gritos começavam a acuar sob uma porta velha de cor amarelada e com um vidro redondo ao meio. Percebia-se movimento ali. Mas não tinha nada. Minha cabeça doía e minha boca estava seca. Era hora de sair dali. Mas o medo de abrir a porta com manchas vermelhas e escorridas era grande. Tinha de ser feito. Em pequenos passos, e olhando pros lados toda hora, caminhei devagar na direção da porta. Fiquei parado. Olhei cuidadosamente dentro do vidro. Não tinha nada. Somente um balanço de quintal assoprado pelo vento. Arrepios tomaram conta. Não existia mais nada. Ouvia gritos e balanços, mas nada existia naquele lugar. Olhando pra mesa de madeira com manchas, fui escorregando minhas costas sobre a parede, até minhas pernas encostarem ao chão. Não tinha jeito. Estava perdido.