"O Demônio de Blackchapel" - Parte X

Capítulo 10: O Lamento de Sophie

Aproximando o objeto peculiar de seu rosto, Sophie contemplava a sua beleza e sensualidade. Ela o havia conseguido há aproximadamente em ano, quando viajara a lazer para a cidade de Veneza, na Itália. Desde a primeira vez em que vira, ela ficou encantada e não pensou duas vezes antes de compra-lo. Desde então, Sophie cuidava daquilo como se fosse um filho e não permitia que ninguém soubesse de sua existência. Não que ela fosse uma jovem de muitos amigos, para compartilhar coisas. Na verdade, até aquele momento, Sophie não tinha nenhum amigo.

Com o objeto em mãos, ela disse em voz baixa:

- Você é quase um reflexo de meus mais profundos e obscuros pensamentos.

Agora levantado pelas mãos suaves e delicadas de Sophie, o objeto tornara-se reluzente, ao ser tocado pela fraca e suave luz do sol matinal. Então a forma do artefato tornou-se clara.

Uma máscara Veneziana Branca.

As máscaras venezianas são o principal souvenir da cidade. Outrora usadas como símbolos fetichistas, as máscaras de Veneza possuem toda uma história, contexto cultural e uma hierarquia dos seus mais variados modelos, estabelecidos pela Commedia Dell’Arte Italiana. O modelo que estava em posse de Sophie, era do tipo "Volto" , conhecido também como "máscara de cidadão" e era usado por pessoas comuns durante dos feriados.

O belo souvenir também era um símbolo característico dos carnavais de Veneza, uma tradição surgida a partir do século XVII onde a nobreza usava máscara e disfarces para se misturar ao povo. Desde então, as máscaras de Veneza, ganharam um contexto simbólico na história da cidade, tornando-se o elemento mais importante da festa.

A máscara encarava Sophie com uma expressão vazia e ao mesmo tempo sedutora, como se escondesse muitos mistérios, tais como a própria mente da jovem. Havia ali, um tom macabro e profundo, mas em um estilo único e persuasivo, dotado de uma frieza sedutora inexplicável.

A frieza de um assassino.

Após um longo tempo, contemplando a máscara, Sophie se deu conta de que estava na hora de ir. Devolveu o souvenir de volta ao baú e o colocou dentro do armário. Ela então se dirigiu às escadas e foi embora e sua casa por fim, foi tomada novamente pelo silêncio.

...

De volta aos tempos atuais, Clarisse encarava com medo o indivíduo parado ao seu lado. Àquela máscara veneziana branca que ele usava, causava nela uma pavor ainda maior. A falta de expressão e a frieza explícitas no souvenir mais famoso dos carnavais de Veneza, provocou em Clarisse uma sensação muito desagradável e desconfortante.

"A máscara desumaniza o assassino" pensou.

Então, quebrando o silêncio perturbador do lugar, ele falou:

- Como se sente Clarisse?

Pergunta óbvia e insana por sinal.

Aproximando-se do ouvido de Clarisse, ele disse baixinho, próximo ao seu ouvido:

- Eu já estava com saudade Clari.

Clarisse então ficou pálida.

"Somente minhas amigas mais próximas me chamam assim"

Agora ela não havia de ter mais nenhuma dúvida quanto a identidade da pessoa de máscara. De fato, Clari a conhecia.

- Por favor, não me diga que você... - falou Clarisse interrompendo às próprias palavras.

Ela então pensou no perfume de lavando de Sophie, impregnado no sujeito junto ao cheiro de sangue e na forma familiar como ele a tratara.

"É você!"

A jovem se deu conta de mais um fator: o conteúdo do saco preto, jogado ao chão.

Novamente ela sentiu o estômago embrulhar e a vontade de vomitar foi forte, mas ela conseguiu se conter.

O indivíduo prosseguiu:

- Eu estou aqui bem ao seu lado e Sophie esta bem ao seu lado também. Acho que agora você entende não é?

Clarisse sabia que àquela pessoa gostava de enigmas e dessa vez, Clari havia entendido muito bem.

"Sim, eu sei exatamente quem você é."

Agora parecendo disposto a acabar logo com tudo isso, a figura macabra pôs suas mãos sobre a máscara e lentamente começou a tira-la. Seu rosto então foi revelado. Clarisse expressou surpresa e logo normalizou sua expressão. A pessoa era exatamente quem ela imaginara.

- Eu sabia que era você, só me diga, por que?

- Você não precisa saber por quê. Só precisa saber que é divertido. - Respondeu.

- Há 7 anos atrás, meu destino foi selado quando conheci você - falou Sophie.

Sem nada dizer, a figura sombria se abaixou e pegou o saco preto, revelando seu conteúdo, espalhando tudo que havia ali dentro, por cima da garota.

"Membros"

"Membros e carne humana"

"Tripas"

O conteúdo do saco, era um corpo humano, totalmente em pedaços e dilacerado. Com muito sangue misturado às tripas. Uma visão horrenda daquilo que um dia já foi um ser humano.

Clarisse quase desmaiou e sabia que não iria conseguir segurar o vômito por muito tempo.

A pessoa já sem a máscara pegou entre os pedaços do corpo, uma cabeça decapitada. Disse em seguida:

- Você conhece não é? Ela veio mais cedo aqui, achando que poderia salva-la.

Clarisse então reconheceu a rosto da cabeça decapitada, agora pouco centímetros à sua frente. Àquela era uma pessoa que sem dúvida, ela conhecia muito bem.

Sophie Rockfeller.

"Sophie Rockfeller estava bem ao lado de Clarisse"

De fato, Sophie estava bem ao lado de Clarisse, sem vida e aos pedaços. Clarisse então, da maneira que pode, inclinou-se para vomitar no chão.

Nameless
Enviado por Nameless em 18/12/2013
Reeditado em 18/12/2013
Código do texto: T4616884
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