O rosto
O homem vinha caminhando pelas ruas caladas e desertas das noites de Paris. Vestia um terno e por cima do mesmo um sobre-tudo negro como o céu da noite. Caminhava lentamente de esquina em esquina, de passo em passo. Naquela noite chovia fraco e ele caminhava na alta sintonia do silêncio. Caminhou e caminhou até encontrar, sentada nas calçadas, uma moça. A rua onde eles estavam era estranha, fria e um tanto sombria. A moça chorava com a cabeça baixa escorada sobre seus braços. Estava toda encolhida e coberta por uma capa de chuva e capuz.
Ele então se aproximou e sentou-se ao seu lado e com um timbre curioso na voz perguntou:
- Senhorita... o que faz em uma hora dessas aqui?
- Monsieur... eu... eu q-quero encontrar a passagem. O caminho.
Ele ficou ainda mais curioso e então perguntou:
- O caminho para o que?
- Para o inferno...!
O olhar do homem mudou imediatamente. Ele suou frio, o seu coração acelerou, um frio correu por sua espinha e foi até sua nuca. Ele olhou para ela e ela continuou de cabeça baixa.
- Senhorita...
Ela então levantou a cabeça e olhou para o homem.
O homem ficou de olhos arregalados. Não piscou.
Não havia nada por baixo da capa de chuva, não havia rosto ou pessoa ali. Apenas ar. O capuz inteiramente vazio.
O medo tomou conta de si. Não correu, não gritou. Ficou apenas parado. Suou frio. Não moveu um músculo. E o que poderia fazer naquele momento, em que o medo o paralisava?
- Você sabe onde fica...?