O ENTERRADO VIVO

O ENTERRADO VIVO

THEO PADILHA

Lázaro era um cidadão comum. Advogado, cheio de planos, político, casado com Eva, pai de uma linda menina. E vivia numa pequena cidade do interior.

− Eva, minha querida, acho que vou embora desse lugar!

− Ué! Ué! Por que isso agora? Até ontem você estava tão feliz!

− É que perdi mais uma ação! E parecia tão fácil. Acho que esse Juiz não vai com a minha cara! Seria bom se fôssemos para Curitiba. Todos os meus amigos foram para lá e estão muito bem. A Jeniffer iria gostar de lá. Nós a colocaríamos numa escola particular. Você continuaria lecionando e eu continuaria trabalhando no resto de processos que tenho por aqui, até me firmar lá!

− Veja bem o que você vai fazer Lázaro! Será que teus pais concordariam com tua idéia de deixá-los? Ele têm nos ajudado muito. Fale com eles!

− Papai! Papai! Veja! Um homem foi enterrado vivo numa cidade do Rio Grande do Sul. – gritou Jeniffer, sua filha de sete anos, mostrando a revista “Isto É”, que ela estava cortando figuras.

Havia a foto de um caixão de defunto sobre um túmulo. E na hora de ser colocado no jazigo, um braço havia rompido a lateral daquele caixão. Numa cena fantástica de terror. O homem, agora morto, estaria sendo enterrado vivo. Lázaro pediu a revista para a menina e leu a reportagem em voz alta para toda a família.

− Credo, é muito assustador esse caso, Eva. Quando eu morrer quero que você ponha um celular dentro do meu caixão, pelo menos durante o velório!

− Pode deixar Lázaro, não vou me esquecer disso!

− Você nunca vai morrer paizinho! – respondeu a menina.

E alguns dias se passaram. Lázaro e família foram morar em Curitiba, num belo apartamento de seu pai. Uma nova vida começou. Agora todo mundo estava contente. Eva foi lecionar na mesma escola de sua filha. Lázaro foi trabalhar numa banca de advogados famosos. Todo final de semana a turma de advogados se reuniam para uma peladinha e churrasco.

Certo dia Lázaro veio mais cedo para casa e foi se deitar. Estava sozinho na casa. Pouco depois chegaram a mulher e a filha. Lázaro começou a reclamar de umas dores no peito.

Eva imediatamente o colocou no carro e levou para o Hospital.

− Como se sente Lázaro?

− Tenho muita dor no peito!

Lázaro foi levado para o atendimento. Meia hora depois o médico foi se encontrar com a esposa e deu a triste notícia.

− Lamento muito senhora. Ele teve um ataque cardíaco. Fizemos de tudo. Foi fulminante. Ele está morto!

Eva chorou muito. Seus irmãos a confortaram. Assim que chegaram os pais do rapaz eles foram preparar o enterro.

Mas Lázaro não parecia morto. Então Eva se lembrou da conversa que tiveram no dia do enterrado vivo. E cuidadosamente colocou o celular do marido na mão, sem que ninguém percebesse.

E assim foi. Durante o velório ela ficou aguardando. O celular de Eva não parava de tocar. Eram os amigos deles. Cada vez que tocava ela rezava para ser o marido. E foram para o cemitério no outro dia. Um pouco antes de fechar o caixão pela última vez, Lázaro acordou e viu que estava no caixão. Sentiu o celular na mão, mesmo deitado tentou ligar o celular, ninguém percebeu o seu gesto de terror. O celular não tinha mais bateria...

Joaquim Távora, 14 de janeiro de 2013. All the rights by Theo Padilha Comunications©.

Theo Padilha
Enviado por Theo Padilha em 15/01/2013
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