Resgatada do inferno

 
          - Levanta! Você já dormiu toda à tarde!
          Lentamente Raquel se levantou. Sentiu um estalar em sua face. Seu corpo caiu para o lado batendo contra o chão e foi chutado duramente pelo seu opressor. Ela tratou de obedecer, correu para o banheiro e se banhou.
       Voltando ao quarto Rômulo, seu gigolô, preparara uma fileira de cocaína. Raquel se ajoelhou e aproveitou de seu alimento. Ela se vestiu e foi acompanhada até um quarto próximo. Quatro horas da tarde, iniciara o seu trabalho com o primeiro cliente.
         Passava das duas horas da manhã e um homem entrou no quarto onde se encontrava Raquel. Ela se sentou à beira da cama e esperou a ação de seu cliente. Ele se sentou em uma cadeira, encarando-a por longos trinta minutos:
          - O senhor deve fazer alguma coisa, faltam trinta minutos para terminar a sua seção.
            - Você quer mudar a sua vida? – Falava o senhor de voz mansa.
            - O que?
       - O degrau do submundo se estende até você alcançar a sua percepção. Pode ser para uma subida ou uma descida para outro nível, basta você enxergá-lo. O que te ofereço é o degrau para sair desta parte do inferno.
            Raquel se levantou e ameaçou correr para fora do quarto. Mas seu corpo parou como a uma estátua ao ser cercada, o seu visitante se aproximou: - Nada é melhor que seu livre arbítrio. Cheguei aqui orientado por um nome, Ângela.
          Como um vendaval de imagens a mente de Raquel começou a ser regada das lembranças de sua amiga. Que se lançara contra o seu gigolô e fora surrada até a inconsciência, colocada em um saco e lançada em um rio:
          - Agora que lembrou saiba que estou aqui por um pedido. Trago comigo uma bebida, você deverá beber e continuar com a sua rotina. Logo você será visitada por outro seguidor, obedeça e tudo seguira conforme o pedido de sua amiga.
          Raquel ingeriu uma bebida adocicada. O visitante lhe entregou o dinheiro de sua uma hora, se levantou e saiu.
         Raquel acordou com os gritos de seu gigolô. Ele olhou para ela assustado, enojado. A face de Raquel estava inchada, seu corpo apresentava várias bolhas e manchas roxas. Ela foi orientada a tomar um banho e voltar para a cama.
          Duas horas da tarde e o gigolô entrou no quarto onde se encontrava Raquel. Acompanhado de um médico, ficou observando enquanto ela ia sendo examinada. Após alguns exames ela foi diagnosticada como portadora de varicela-zoster vírus, o mesmo vírus que causa a catapora. Seu gigolô olhou assustado para o médico que o informou que levaria alguns meses, custariam alguns milhares de reais para atingir a cura e que a doença era altamente contagiosa.
          Houve alguns minutos de silêncio até que o médico pediu para receber os seus honorários. O gigolô ficou assustado com o valor e insinuou que não pagaria. O médico informou que sairia com o valor a ser recebido ou com a propriedade de sua serviçal. Imediatamente o gigolô entregou a posse de Raquel ao médico. Ele se aproximou de Raquel e falou-lhe no ouvido: - estou aqui por Ângela. Raquel se levantou e juntou todos os seus pertences em uma mala. Se trocou e acompanhou o médico. Desceu pelas escadas do hotel onde se encontrava e percebeu suas colegas de trabalho entrarem apavoradas em seus quartos. Embarcou em um carro estacionado próximo ao estabelecimento onde morava, trabalhava e seguiu pela estrada:
           - Estamos quase acabando: - Comentava o seu médico.
          A viagem estava longa. Raquel se deixou levar pelo sono até que foi despertada. Um ônibus estava à sua frente. Ela entrou no veículo, ocupou uma cadeira e seguiu o restante da viagem acompanhada com o médico.
        Em uma encruzilhada Raquel foi deixada. Ela fora orientada a esperar um carro que lhe pegaria e a levaria pelo restante da viagem. Não demorou muito e uma limusine parou. Um chofer desceu do carro, se identificou como Rogério, abriu a porta de traz do veículo. Ao entrar ela viu Ângela, sua amiga:
      - Que bom que você está viva!
      - Realmente, viva para te ajudar. Você não poderia continuar naquela vida!
      O carro começou a seguir para o seu destino. Passado alguns minutos, como se o horizonte se abrisse rasgado por uma faca afiada o carro adentrou na escuridão. Raquel olhava assustada para Ângela, que balançava a cabeça afirmativamente. A mente de Raquel retornou a lançar-lhe imagens. Sua mente voltou ao momento em que o médico entrara em seu quarto no motel. Ela escutava novamente o médico:
         - Amigo esta mulher está morta!
         - Morta doutor?
         - Exatamente, mas posso me livrar do corpo. Vai custar um bom dinheiro.
         - Eu pago, mas me livre desta situação.
       Raquel abriu os olhos. Olhou para Ângela que continuava a balançar a cabeça. Ela olhou para frente e viu um oceano de fogo. Olhou novamente para Ângela querendo explicações:
         - O que está acontecendo?
        - Quando tudo aconteceu e eu fui morta soube que deveria te ajudar e como sua amiga deveria te livrar do inferno em que vivia.
         - Mas nós estamos a ponto de entrar num mar de fogo?
      - É verdade amiga, te tirei de Flegetonte, terra, sétimo circulo do inverno e o mais atormentador. Agora chegaremos a Maleboge e aqui temos o livre arbítrio nos dez fossos, bolgias.
 
           Fim...
 
     (Flegetonte e Maleboge são referências ao livro A DIVINA COMÉDIA de Dante Alighieri) Em Flegetonte é onde se encontram os violentos contra pessoas e seus bens, onde ficam os que oprimiram.  Os tiranos, os assaltantes, os punidos por terem praticado violência contra os bens de suas vítimas, os homicidas e os violentos contra Deus.


(Este conto não tem a intenção de expressar uma opinião ou formar uma opinião, é apenas entretenimento.)

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