O ACIDENTE

CAPÍTULO 1 O ACIDENTE

Sentado sozinho e no escuro, atrás de uma mesa empoeirada e balançando ao sabor de uma velha cadeira de palhinha, e com os olhos voltados para a janela de vidros opacos, via ao longe as luzes desta cidade, com os seus prédios de todos os tamanhos, onde as luzes vermelhas de controle do tráfego aéreo teimavam em não apagar, num pisca pisca interminável.

Era um homem que sentia-se bem em qualquer cidade de grande ou não porte, pois era um viajante conceituado, tendo visitado várias cidades em todo o país como também fora do mesmo., lembrou que quando aqui estivera, visitara o cemitério local e ainda lembrava que em uma quadra, havia um só túmulo, onde estava enterrada uma bela moça, fato comprovado pela foto na lápide, que jamais saíra de sua mente e agora, como que pôr encanto, esta imagem estava nítida em sua já não tão lúcida lembrança.

A espera deste homem era marcada pôr um paciência de Jó e pelo absoluto estado de inércia que se encontrava, com a habilidade de quem domina o corpo e a mente. Era do Estado do Paraná e tinha a imponência e a tempestuosidade de seus antepassados , originários do Líbano. Cabelos negros, fisionomia forte e olhos castanhos, de um castanho tão intenso que aparentava serem esverdeados. Tinha mais de um metro e noventa de altura e o seu corpo era de um homem que mantinha boas condições físicas.

Lá de fora, veio um cheiro forte de fumo adocicado, sendo tragado pôr alguém que apreciava este tipo de prazer e acompanhando a fumaça, veio também o cheiro de café moído e passado naquele momento.

João Carlos não prestava atenção a esses odores., estava pensando no e.mail que acabara de receber enviando pôr um pessoa de Londrina uma hora antes.

___ Um terrível acidente! Estamos todos arrasados, Sr. João Carlos. Tudo aconteceu com tanta rapidez, mas o socorro não conseguiu salvá-lo. O Sr. Oliveira morreu instantes depois.

Joaquim Oliveira era presidente da Joliveira Ind. de Reciclagens, uma das empresas mais conceituadas na área de reciclagem de materiais, começara ainda jovem recolhendo materiais recicáveis, vendendo-os nos ferros velhos próximos a sua residência e com o tempo, começou a usar o quintal vizinho a sua casa, autorizado pelo proprietário, onde acumulava os materiais e revendendo-os depois, vindo mais tarde a adquirir este terreno e assim começou a sua vida de comerciante do ramo de reciclagem e hoje as suas empresas atuam em diversos estados brasileiros, faturando milhões de reais anualmente, tornando-se um império.

Não podia-se acreditar na morte de Joaquim Oliveira. Sempre fora uma pessoa dinâmica, cheio de vida e energia, sempre em movimento, dentro de seu carro ou em aviões de carreira, visitando suas empresas em vários pontos do país, onde resolvia problemas que os outros nem podiam enfrentar. Havia sido casado pôr duas vezes, mas tivera sómente uma filha do primeiro casamento, seu único motivo para viver, segundo ele próprio, era o trabalho, era suas empresas., não havia dado importância às suas esposas e tampouco prestara atenção no crescimento de sua filha., achava que com cinqüenta e três anos de idade, ainda tinha muito tempo pela frente para ainda cuidar de sua filha

E agora o tempo esgotara... estava morto e quem iria cuidar de seu império?

Quem saberia de seus segredos e quem saberia dar andamento àquelas empresas?

Oliveira não havia escolhido um herdeiro legitimo.

Quando menos esperava, as luzes da sala se acenderam. João Carlos olhou para a porta, ofuscado que foi pelas luzes fortes acessas assim tão de imediato.

Era Marly, uma das secretarias da empresa de Oliveira, que ficava à disposição de João Carlos, quando ele estava em, São José dos Campos, tinha um belo corpo moreno e sensualmente movimentava-se., possuía glúteos protuberantes e roliços, fazendo com que todos os homens que a olhavam ficassem entusiasmados e imaginando “ futilidades”, dera a entender que ficaria vinte e quatro horas a disposição dele” ... para o que der e vier...” havia dito, mas João Carlos gentilmente recusou qualquer envolvimento a não ser profissionalmente, com quem quer que fosse.

Mesmo sendo gentil, Marly não estava disposta a deixá-lo em paz e sutilmente aproximou-se dele, com seu perfume Avon Female 38 e o decote provocante e fez-lhe o seguinte convite:-

___Quem sabe se não posso prestar-lhe algum serviço, digamos, extra...estou a sua disposição, repito!

João Carlos percebeu que sua virilidade havia entumecido, mas mesmo assim, coordenou seus pensamentos e sorriu, teve a impressão que haveria embate em todos os níveis e este poderia ser fatal se não estivesse preparado psicologicamente; teria que ser ágil e desvencilhar-se dela, rapidamente.

____Onde está o Sr. Pedro ?, perguntou João Carlos

Marly, abanou a cabeça e respondeu entre dentes.

____Já foi e não volta mais hoje, deseja alguma coisa? Estou à sua disposição. Alisou com as palmas das mãos, macias e hábeis, a frente do vestido, começando pelo amplo decote e terminando no baixo ventre e da mesma maneira fez na parte traseira. Tinha os olhos lânguidos, úmidos e desejosos.

____Desejo, sim. Favor procurá-lo.

____Não sei onde possa encontrá-lo.... mas não está bom só nós dois, aqui? Por quê deveria procurá-lo?

João Carlos respondeu com tom áspero, dizendo :- __Tente encontrá-lo, de qualquer maneira. Procure-o da Virtual Imobiliária ou na Blue Sky Consultores, deve estar em algum destes lugares.

João Carlos tinha certeza que Pedro estava na Blue Sky Consultores, pois possuía uma amante, já há oito anos, com a qual havia tido um filho de quatro anos. Mas Pedro poderia não estar lá, era imprevisível. Poderia estar com uma outra amante, que conhecera em uma de suas visitas a Igreja Orbital do Senhor Jesus Resplandecente; era uma mulher ainda jovem, que demonstrava gostar de Pedro e este sentia-se bem em sua presença, apesar dos puxões de orelha do Pastor Jesualdo, que não aceitava tal atitude dos dois., mas Pedro, com sua rede de informantes, descobriu que o dito pastor, também possuía uma amante, em uma outra cidade, pertencente à mesma congregação, mas os encontros eram sempre velados. Pedro mantinha em absoluto segredo estas descobertas, esperando a hora certa para dizer ao pastor ou não, dependeria da ocasião...

___Vou ver o que posso fazer, mas não sei... murmurou Marly.

___Procure-o e diga a ele que se não estiver aqui dentro de uma hora, estarei rompendo o contrato...Vá, por favor..., retrucou João Carlos.

A expressão dela mudou...

___Vou ver o que posso fazer e saiu rebolando provocantemente, encaminhando-se para a porta.

___Apague a luz quando sair, disse-lhe João Carlos.

Marly olhou-o de soslaio e com aboca carnuda, disse-lhe:-

___ Até logo! E bateu a porta.

Era mais fácil ficar no escuro em companhia de seus pensamentos, tentando fazer um check-up de seus procedimentos passados.

A imagem de Oliveira não saia de seu pensamento. Não tinha, apesar de acreditar, agilidade suficiente para praticar o esporte de asa delta; mas mesmo assim, resolvera voar, indo para São Bento do Sapucai, no morro do Baú, reduto dos praticantes deste esporte., antes passara em Santo Antônio do Pinhal e saboreara os famosos bolinhos de bacalhau na lanchonete da estação, iguaria conhecida em toda a região. Após alçar vôo e já em altura suficiente para planar, recebeu uma rajada de vento, jogando-o contra a montanha, vindo a despencar, rolando morro abaixo, indo de encontro a um despenhadeiro e tendo morte instantânea. Em sua asa delta havia o emblema de suas empresas em relevo e era orgulho para ele, divulgá-las em qualquer evento esportivo.

CONTINUA....

ALVARO PEDRO NEVES PEREIRA
Enviado por ALVARO PEDRO NEVES PEREIRA em 06/01/2007
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