Dimensão do desconhecido.

Dimensão do desconhecido

Eram nove horas da noite, eu já havia colocado meu pijama e visitado vários sites da internet, dentre eles estava um de histórias de terror.

Bem, eu adorava uma história de terror, e meus pais haviam saído para ir á uma festa de casamento, significando que eu poderia ficar até de madrugada no computador sem ouvir reclamações.

Eu podia ter 17 anos, mas meus pais tratavam-me como criança. Recordo-me de um dia eu estar com meu ex-namorado em uma festa quando meu telefone tocou ás onze horas da noite, era meu pai dizendo para voltar para casa. Quase morri naquele dia.

Meu ex-namorado? O que posso falar dele? O garoto sabia ser carismático, conquistava qualquer um que conversava com ele, inclusive eu mesma.

O problema do meu ex é o problema da maioria dos garotos, a infantilidade, não querer um relacionamento sério.

Sacudi a cabeça a fim de espantar os meus pensamentos e concentrei-me no site.

O conto não era tão assustador em minha opinião, era a história de uma garota fantasma que se apaixonou por um mortal, mas os dois não poderiam ficar juntos, já que ela estava em uma dimensão diferente da que os vivos estão.

-Emily?

No momento em que ouvi meu nome eu quase caio da cadeira, não sabia quem havia me chamado, não era a voz de meu pai.

Olhei para o lado e vi um garoto de mais ou menos 18 anos com uma bela aparência, seus olhos eram azuis e devia ter mais ou menos 1,80 de altura.

Seus cabelos eram desalinhados, o sorriso era meigo e amigável.

-Quem é você?-Perguntei tentando não sair correndo que nem louca quando me dei conta que tinha um estranho na minha casa.

Ele sorriu novamente.

-Você pode me ver? Não era a minha intenção te assustar.

-Bem, aparentemente sim. -Arregalei os olhos quando percebi que aquele lindo garoto era um fantasma.

-Meu nome é Erik, eu venho observando você já há algum tempo. -Ele sorriu ficando ao meu lado.

Estremeci com a aproximação.

-Sabe que é feio espionar os outros Erik.-Eu disse corando um pouco.

Eu não tinha certeza do que um fantasma poderia fazer, inclusive se ele poderia espionar até demais.

-Eu respeito sua privacidade, não faria algo que você não gostasse.

-Obrigada. -Respondi um pouco aliviada.

-O que aconteceu com você Erik?

Aquele lindo garoto sorriu melancolicamente e piscou seus olhos.

-Há algum tempo atrás, nesse bairro mesmo, um assassino entrou em minha casa e assassinou meus pais e eu. Minha irmã de 12 anos continua viva porque estava na casa de uma amiga naquele dia.

Era uma noite estrelada de lua cheia, eu estava no meu quarto lendo um livro e meus pais assistindo algum filme na TV.

Ouvi um estrondo muito forte na porta de entrada da sala, logo em seguida meus pais começaram a gritar.

Eu não sabia o que fazer, eu só sei que eu queria proteger meus pais de qualquer jeito, morreria por eles.

Peguei um cabo de vassoura que minha mãe deixava atrás da porta do quarto dela e me aproximei da sala.

Estava tudo muito quieto, nenhum sinal de vida, foi quando eu vi uma imagem que eu lembraria para o resto de minha vida como uma maldição.

Meus pais estavam mortos, esfaqueados sem piedade. Eu não podia chorar, não podia correr e muito menos gritar, porque saberiam que eu estava ali.

Mal sabia que um dos assassinos estava por trás de mim.

Ele me apunhalou pelas costas, a dor era intensa, nunca havia sentido algo parecido.

Era um homem de aparentemente 34 anos, possuía olhos castanhos escuros com 1,90 de altura, juro que seus olhos estavam vermelhos quando o vi.

-Você se lembraria de quem ele é se você o ver por ai?

-Lembro-me de quem ele era, sei onde ele mora, pois eu o segui quando morri.

O problema Emily, é que eu estou seguindo você porque esse assassino quer assaltar essa casa agora.

Eu arfei e sentei no chão, Como poderia escapar de um assassino desses? E meus pais? O que aconteceria com eles?

-Erik, você esta me dizendo que esse assassino sabe quem sou?

Ele assentiu tristemente com a cabeça.

-Ele sempre observa a vida da pessoa antes de assassinar e roubar todos os pertences da casa.

-Não sei como você consegue me ver, talvez seja um dom que você possuiu, mas você tem que sair dessa casa agora, ele planejou de vir aqui hoje mesmo.

No mesmo instante, ouvi um ruído na porta de casa, o cachorro da minha vizinha começou a latir, mas parou no mesmo instante.

-Ele envenenou o cachorro, rápido Emily, você tem que conseguir sair daqui.

-Como?-Eu disse começando a choramingar e ajoelhar.

Senti as mãos de Erik me tocando, não como uma mão sólida de uma pessoa viva, mas um tipo de vento gélido a tocar meu rosto.

-Eu vou te ajudar, você vai sair dessa, eu prometo.

Eu nunca senti tanto medo na minha vida, era como se eu estivesse esperando pela vinda da morte, inevitavelmente ela ia me achar.

Ouvi uma voz rouca ao longe, seguida de duas outras vozes diferentes.

Fui para a cozinha com Erik me acompanhando, olhei para a gaveta de talheres perto da cozinha.

Eu sabia o que deveria fazer, pegaria uma enorme faca e tentaria me defender, mesmo que lutar fosse inútil, ao menos eu não estaria sendo uma garotinha indefesa gritando por socorro, embora fosse o que eu queria fazer no momento.

Novamente senti Erik me tocando gentilmente.

Eu sorri tudo estava mais fácil com ele por perto, com sua presença calma e confortadora.

-Vai estar comigo até o fim?

-Até o fim. -Ele prometeu segurando minhas mãos.

Ouvi um som muito forte vindo da porta da sala, alguém havia entrado, e é lógico, entrou alguém com a pior intenção possível.

Se Erik não estivesse comigo, eu não agüentaria passar por tudo isso sozinha, talvez eu desmaiasse ali mesmo.

Após dois minutos, um homem de cabelos grisalhos de vestes negras olhou-me com malicia, mas hesitou em continuar ao ver que eu possuía uma enorme faca.

-Hei garota, você ao menos sabe usar isso ai?-Ele disse com um tom sarcástico na voz.

-Sei muito bem, acho bom não se aproximar. – Eu disse tentando não tremer.

-Que mal educado sou, deixe-me apresentar, meu nome é Lucas, e esses meus dois companheiros aqui do lado são Fred e Rafael.

Olhei para os dois homens aparentando ter 40 anos, Fred tinha um olhar malicioso e cruel, já Rafael olhava-me com desejo e malicia. Lucas, o chefe de todos mantinha uma expressão de calma.

-Eles estão planejando te seqüestrar, posso ver no olhar de Lucas. -Erik disse cochichando em meus ouvidos.

-Fred, será que você não faria o favor de amordaçar essa jovem para nós? Sugiro que você largue essa faca se não quer se machucar garota.

Olhei para Erik ao meu lado, ele mantinha um olhar triste e melancólico.

-Faça o que ele diz, ele vai matar você se não o fizer.

Obediente, larguei a enorme faca e fiquei parada, sem ousar me mexer, se eu fosse morrer, ao menos estaria ao lado de Erik.

Fred se aproximou, foi quando senti uma picada em meu braço esquerdo e adormeci.

Acordei em um quarto com cheiro de mofo em uma cama que acho que nunca trocaram o lençol.

Apesar de saber que eu fui seqüestrada, e que talvez eu não saísse de lá viva, eu sorri timidamente ao ver Erik sentado ao meu lado.

-Você esta bem?

Eu assenti com a cabeça e tornei a fechar os olhos ao perceber que estava com uma horrenda dor de cabeça.

-Não se preocupe, passa logo, eles saíram para se comunicar com uma pessoa. -Erik disse tentando um sorriso.

-Hei não se preocupe comigo Erik, você sabe qual é a intenção deles comigo?

Erik arfou e começara a andar pelo quarto.

-Que droga, eu odeio ser alguém que praticamente não existe, ao menos não na dimensão dos vivos, é horrível ver que tudo isso esta acontecendo e eu não posso fazer nada.

-Erik, dor de cabeça extrema.

-Ah é, me desculpe pelo meu tom de voz alto, bem, eles são traficantes de pessoa.

Em um piscar de olhos, eu sentei-me na cama, e, ignorando a minha dor de cabeça, comecei a andar em direção a porta do quarto.

-Emily o que esta fazendo? A porta esta trancada e não existe janela nesse quarto horrível, descanse e tente pensar em alguma coisa, eu vou tentar tirar você daqui, pensarei em um jeito.

Eu comecei a chorar como nunca chorei antes, estava com medo não da morte, mas com medo de assassinarem meus pais.

-Eles não vão matar seus pais, a intenção deles é vender você, e francamente Emily, tente se preocupar só com a sua situação agora.

-Você consegue ler pensamentos?

-Sim, eu consigo, desde quando morri eu adquiri esse dom, parece que é coisa de fantasma.

Eu sorri ainda com lagrimas nos olhos.

Ouvi passos lentos do lado de fora da casa, podia ouvir o que diziam.

-Quantos anos essa garota tem Lucas?

-Dezessete, mas é muito bonita e se passa tranquilamente por uma garota de dezoito anos.

-Não sei, quero dar uma olhada nela.

No mesmo instante, com a máxima energia que consegui arranjar, corri em direção á cama e fingi estar dormindo.

A porta se abriu lentamente, logo após, podia sentir alguém tocando meu rosto.

-Bem, essa jovem é bem bonita mesmo, acho que temos um negocio aqui Lucas.

Senti tanto nojo na hora que quase vomitei, mas ouvi Erik sussurrando para mim não se mexer e nem dizer nada.

-Dou R$5000, 000 por ela.

-Ora, isso é muito pouco hein amigo, posso conseguir mais, você tem certeza que esse rostinho jovem e alegre não vale mais nada?

- R$8000 000 nada mais.

-Certo, temos um negócio então Senhor Francis, pode levá-la quando quiser.

-Eu a pegarei amanhã de manhã.

-O senhor não vai se arrepender tenha um bom dia!

Foi então que eu ouvi seus passos se distanciarem cada vez mais até que não mais os ouvi.

Levantei-me da cama novamente e fui em direção a porta.

-O que esta fazendo Emily?

-Vendo se a porta esta aberta, o que mais eu poderia fazer?

-Cuidado.

Eu assenti, e com a maior calma do mundo, segurei a maçaneta da porta e ela se abriu.

Sorri em resposta.

-Você pode escutar pensamentos e é invisível, veja se alguém se aproxima.

Erik concordou, e, desaparecendo de vista, continuei a andar.

Havia um corredor, e nele, existia uma porta, eu jurava que alguém estava gemendo, então eu a abri, foi fácil destrancar, pois a chave estava nela.

Era uma menina de aparentemente 15 anos, chorava tanto que seus olhos estavam muito inchados.

-Por favor, me deixe ir, eu não quero morrer.

-Calma, eles esqueceram a porta do meu quarto aberta então eu consegui sair, venha comigo.

A menina assentiu e segurou minha mão.

-Qual seu nome?

-Lilian, eles mataram meus pais, agora eles querem remover meus rins.

Lilian começara a soluçar, chorando novamente.

-Meu nome é Emily, e nós vamos sair dessa.

-Emily, eles estão vindo, querem te prender em outro local. -Erik disse segurando minha mão, eu apenas assenti, pois não queria falar com ele perto de Lilian.

-Vamos nos falar por pensamento. -Pensei.

Erik assentiu.

-Eles estão por perto?

-Não, estão conversando com aquele senhor que negociou com ele, distraído, mas cuidado Emily, ele esta indo em direção ao seu quarto.

-Bem, ele vai ter uma pequena surpresa. -Pensei.

Erik assentiu, mas continuou sério.

-Emily, você sabe se é essa a saída?-Lilian perguntou ainda com lagrimas nos olhos.

Meu instinto era de proteger a Lilian, eu não sabia por que, mas todo o meu ser dizia para protegê-la.

-Preciso te contar uma coisa Emily.

- O que é Erik?

-Lilian é minha irmã.

Eu tive que me esforçar para não parar no meio do caminho e olhar para Erik pasmada.

-Por que você não me contou? Você disse que a sua irmã não morreu porque estava na casa dos amigos dela. -Pensei olhando para ele.

-Não tive tempo de te contar, eu estava concentrado em avisar você sobre os assassinos.

Eu assenti segurando a mão de Lilian mais fortemente.

-Pare alguém se aproxima Emily, acho que é Rafael, descobriram que você fugiu.

Eu arfei o corredor não possuía nada para se esconder, e não existia mais nenhuma porta.

Esperei que o pior acontecesse.

-Ah, ai esta você garota, Lucas, eu a encontrei, ela esta com a Lilian também.

Rafael olhava-me satisfeito e com um sorriso malicioso no rosto.

-Erik, dizem que as pessoas podem ficar possuídas por espíritos, essa é uma boa hora de você tentar. -Pensei olhando nos olhos de meu inimigo.

-Emily, eu não sei se posso, eu não...

-Tente por mim e por Lilian.

Erik assentiu e andou rapidamente em direção á Rafael.

-Muito bem, quero que liberte Lilian e Emily agora, talvez você não me ouça, mas eu sei que você pode sentir minha presença.

Rafael começou a tremer rapidamente e olhou para os lados.

Erik mantinha um olhar perverso em Rafael.

Em um piscar de olhos, eu não consegui mais ver Erik, senti medo e angustia.

Lilian me abraçava fortemente, podia sentir suas lagrimas umedecendo minha blusa lentamente.

Quando olhei novamente para Rafael, ele mantinha um sorriso amigável e satisfeito.

-Lilian, Emily, venham por aqui, Lucas chegara á qualquer minuto, ele não pode ver vocês e nem á mim.

Eu sorri aliviada e segurei as mãos de Lilian mais fortemente, indo em direção á Erik, que agora, estava no corpo de Rafael.

-Emily, o que esta fazendo? Ele vai nos matar!

Eu sorri para Lilian.

-Não se preocupe, ele não vai mais.

Erik sorriu e assentiu, olhando carinhosamente para Lilian.

-Vamos, sei como nos tirar daqui sem sermos vistos.

Erik segurou minha mão e eu a de Lilian. Enquanto íamos em direção á saída, fiquei reparando em Rafael. Sua face havia ficado mais parecida com a de Erik, seus cabelos milagrosamente ficaram desalinhados, era claro que o espírito de Erik estava se adequando á seu novo corpo. Mas o que havia acontecido com o espírito de Rafael?

-Mais tarde eu te conto. -Erik sussurrou, concentre-se em sair.

Após alguns minutos de caminhada, eu conseguia ver a saída, conhecia o lugar. Era um bairro abandonado que eu costumava andar de bicicleta com alguns amigos quando eu era criança.

-Corra até sua casa, chame a policia e me espere ok? Eu vou ficar aqui para garantir que ninguém siga vocês.

Eu assenti e corri junto com Lilian com a máxima velocidade que conseguia.

Passaram-se dois meses desde que fugi daquele lugar horrível. Nunca mais vi Erik, e Lilian passou a morar comigo, já que ela não queria ir morar com seus tios ou outros parentes.

Minha mãe aceitou-a com muito carinho, mas nos mudamos de casa por causa do acontecido.

Até hoje ela se culpa por ter me deixado sozinha enquanto se divertia no casamento, e eu sempre falava que a culpa não é dela, isso acontece sempre.

Lilian e eu nos tornamos grandes irmãs, mas sempre que eu a olhava sentia falta de Erik, pois ela tinha os mesmos traços do irmão mais velho.

Foi em uma noite chuvosa que uma pessoa bateu á porta de minha casa.

Só estava eu e Lilian em casa, meus pais saíram para ir á uma festa de aniversário de um amigo de meu pai. Eu e Lilian havíamos insistido em ficar em casa, não queríamos ir.

Com muita relutância, eles concordaram.

A pessoa que batera no portão possuía cabelos desalinhados, olhos azuis e um sorriso muito amigável, era muito parecido com...

-Erik!-gritei sorrindo e correndo para abrir o portão.

Logo após abrir, eu o abracei satisfeita por ele estar novamente comigo, mesmo que com o corpo de Rafael.

-Erik, como conseguiu permanecer assim, estou feliz por você estar aqui!.

-Quero fazer uma coisa que faz tempo que sonho em fazer.

Ele me segurou pela cintura e me beijou, eu podia sentir os pingos da chuva gélido caindo em nós enquanto uma sensação de calor invadia meu corpo por completo.

Quando entramos em casa, estávamos encharcados, Lilian ficou pasmada.

-Será que vocês não agüentavam entrar em um lugar seco para se beijarem?-Lilian disse sorrindo.

-Bem, vou até meu quarto ver TV, fiquem á vontade.

Calmamente, Lilian entrou em seu quarto e ligou a TV.

-Queria que ela soubesse quem realmente sou.

-Por que não conta á ela Erik?

O olhar dele ficou angustiado por alguns instantes.

-Por que ela nunca iria acreditar, eu a conheço.

Eu suspirei lentamente.

-Esta certo, acho que você tem razão.

-Preciso te dizer uma coisa Emily, eu não posso ficar nesse corpo para sempre.

-Vamos aproveitar o Maximo, eu não quero que você vá.

-Entenda, eu não tenho permissão para ficar no mundo dos vivos, posso ser cruel demais.

-O que você quer dizer?

-Quero dizer que matei todos os assassinos que estava naquela casa, inclusive os que assassinaram meus pais e seqüestraram você e Lilian.

Eu podia ver nos olhos dele o sentimento de culpa que sentia.

-Mas isso é humano, todos sentem raiva.

Erik sorriu melancolicamente.

-Bem, você tem razão, mas não posso ficar com um corpo roubado para sempre, eu já chamei os policiais, eles sabem que Rafael assassinou todos aqueles trastes.

-Então quer dizer que você veio para se despedir?

Erik assentiu tristemente com a cabeça.

-Sei que Rafael quer esse corpo, então eu o prenderei na cadeia para sempre quando o espírito dele voltar.

Em alguns poucos minutos, ouvi a sirene da policia se aproximar de minha casa rapidamente.

-Como você disse que estaria aqui Erik?

Ele sorriu docemente e segurou minha mão.

-Liguei anonimamente e disse que tinha visto o assassino Rafael indo a sua casa, Emily, prometa-me que quando eu me for, você vai seguir a sua vida, não fique pensando nos acontecimentos do passado.

-Como eu posso te esquecer? È impossível, não quero te esquecer.

Erik beijou minha testa.

-Eu também nunca vou te esquecer, e obrigado por tomar conta de minha irmã.

Eu sorri divertidamente.

-Eu queria tê-la conhecido antes, adoro a companhia de minha irmãzinha adotiva.

Erik riu também.

-Também queria ter te conhecido antes.-Eu disse num tom tristonho na voz.

Erik sorriu tristemente.

-Talvez se nada disso tivesse acontecido, nunca nos conheceríamos, sabe, o destino é engraçado, nada é por acaso.

Eu assenti positivamente para as palavras de Erik e o abracei.

-Vou vê-lo de novo?

Erik sorriu docemente.

-Se é nosso destino nos encontrar, então sim, esse não é um adeus Emily.

Ele me beijou novamente e me abraçou.

Eu sorri para ele e assenti.

Eu o observei sumir perante meus olhos na escuridão da noite de lua minguante.

É claro que não fazia muito tempo que conhecia Erik, mas era se como parte de mim estivesse com ele.

Comecei a andar na rua escura até ver as luzes dos carros de policia.

Um policial forte e musculoso algemava Erik e o revistava.

Naquela hora ele me olhou e deu um sorriso de conforto para mim. Seus olhos estavam tristes, mas satisfeito por ter comprida a sua missão no mundo.

Essa foi a ultima vez que vi Erik, o garoto que um dia amei, nunca mais senti o mesmo por outra pessoa.

60 anos depois.

Era um dia que eu contava a história de Erik para a minha sobrinha de 10 anos.

Eu nunca me casei, não por falta de pretendentes, mas porque nunca achei alguém pelo qual envelheceria junto.

Minha sobrinha Ana era neta de Lilian, às vezes ela gostava de dormir em casa para ouvir minhas histórias, a favorita dela era a história de quando conheci Erik e a vó dela.

-Tia Emily, será que a senhora vai encontrar Erik novamente?

Eu sorri para os olhinhos azuis de Ana.

-Se o destino quiser assim, nada é impossível.

Ouvi a campainha e fui atender.

Era Gabriela, filha de Lilian e minha sobrinha também, lembro-me de quando eu contava histórias para ela, ficávamos a noite inteira acordadas conversando.

-Desculpe Tia Emily, eu esqueci que Ana tem aula de inglês amanhã, não quero dar trabalho para a senhora.

Ora Gabi, não tem problema, eu a levava.

Gabriela deu um sorriso meigo e chamou Ana.

-Mãe, a tia Emily estava contando uma bonita história dela e de Erik.

Gabriela sorriu novamente.

-Eu adorava quando a senhora me contava essas histórias, mamãe disse que virá aqui visitar a senhora amanhã, eu a trarei.

Eu sorri docemente.

-Seria adorável ter a companhia de Lilian aqui, obrigada Gabi.

Dei um beijo de despedida em Ana e Gabriela e fui me deitar.

Estava mais cansada que nunca aquele dia, então logo fechei meus olhos.

Eu não saberia dizer o que estava acontecendo, mas de uma hora para outra, um campo de flores apareceu em minha frente com uma cachoeira jorrando água cristalina.

Não sentia mais minhas dores nas costas, e nem cansaço, pois eu estava alegre.

Olhei para meu reflexo na água, e era o reflexo de uma garota de 17 anos.

Toquei automaticamente meu rosto e senti que era o rosto de uma jovem e não de uma senhora.

Eu sorri com isso, mas me assustei ao pensar que eu poderia estar morta.

-Você não esta morta Emily, você apenas passou para outra dimensão.

No momento em que ouvi aquela voz, queria correr, abraçá-lo e nunca mais largar.

Ele estava lá, sorrindo para mim e vindo em minha direção.

-Erik! È você mesmo?

-É claro, sou eu.

Eu o abracei como nunca o abracei antes, eu estava morrendo de saudades dele.

-Eu o esperei por todo esse tempo.

Erik sorriu docemente. -Eu sei, eu também á esperei, mas enfim estamos juntos.

-Quer dizer que alma gêmea existe? – Eu disse não conseguindo conter o sorriso.

-Sim, caso contrário nós não conseguiríamos nos encontrar. -Ele disse assentindo.

Naquele dia em diante, Erik eu ficávamos o tempo inteiro juntos, felizes como nunca havíamos sido.

Lilian morreu cinco anos depois, ficou muito alegre em ver Erik e eu juntos e descobrir que ele era seu irmão mais velho, mas após encontrar seu marido em nosso mundo, ela fica a maioria do tempo com ele.

Essa é a minha história, é claro que isso é só um pedaço dela. Para mim, a morte é apenas o principio de uma nova vida. A luz da vida sempre estará em nós, é só acreditarmos em nossos sonhos e em nossa fé.