Guarda-costas

Precisava sobreviver, e por míseros tostões me submetia à volta para casa sempre em altas horas. Trabalhava de casa em casa oferecendo meus préstimos; ora babá, ora manicure, ora simplesmente companhia a senhoras e senhores já esquecidos pelos entes queridos – geralmente em noites festivas em que não eram bem-vindos. Idosos deixados em meus cuidados, às vezes pelo horário, mas, geralmente, por seus entes não tolerarem mais a presença das mazelas e queixumes da idade já avançada.

Era noite de feriado na cidade. Mais uma vez descia solitária pelas ruas sombrias e desertas da noite daquele lugar.

A região só apresentava vida à noite em dia útil. Aos sábados, domingos e feriados era sempre horripilante àquela hora - cidade morta. Vez ou outra um farol ofuscava-me os olhos e logo desaparecia tão repentinamente quanto surgia.

O trajeto daquela noite até o metrô duraria em torno de uns quinze longos minutos. Desci uma rua, entrei à direita, de novo a esquerda e finalmente descia longamente a última rua entrecortada por uma praça antes da passarela do metrô.

Foi neste ponto, passando pela praça, que me deparei com umas almas da noite. Eram três homens que exalavam o odor de quem o corpo não sentia a carícia de água há muito. Senti um sobressalto no peito, as pernas mal se aguentavam de tanto pavor. Vieram em minha direção e afoita pensei em correr o quanto pudesse. Correr para onde? Éramos apenas nós quatro naquele lugar. Gritei por socorro e qual não foi minha surpresa.

– Calma, dona! A gente só vai acompanhar a senhora até o metrô. Não parece, mas tem muita gente olhando a senhora descer sozinha por estas ruas. Nóis mora aqui e sabemo que a senhora dá duro..., então não esquenta, não. Somo seu guarda-costa!

Nil de Sousa
Enviado por Nil de Sousa em 21/08/2011
Reeditado em 21/08/2011
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