Insônia (Final)
Uma vez escutei que a vida é fugaz, mas eu não imaginava que a morte chegaria diante dos meus olhos tão depressa.
Tudo aconteceu rápido demais para meus olhos acompanharem.
Era um pesadelo em que não parecia estar dormindo.
No alto de um penhasco me deixaram, mas não sei ao certo como fui parar ali ou até mesmo por quanto tempo me encontrava naquele lugar. Névari não estava comigo como havia prometido.
O rufar de asas que havia notado outrora, logo se desfez o enigma. Um enorme dragão voava sobre mim. Colocaram-me numa prisão mais segura de qualquer lugar.
Não havia nenhuma maneira de escapar, a não ser pulando e entregando-me diretamente a morte.
Talvez fosse essa intenção dos meus carrascos.
Perdi-me no tempo completamente, poderia estar ali por horas ou dias... Não saberia jamais dizer precisamente.
Até que num feixe de luz um daqueles homens que haviam falado com Névari na ultima vez que o vi, surgiu e levou-me na peculiar forma deles de viajar.
De repente eu me encontrava num grande salão. Havia um homem grande e forte sentado num trono, que parecia feito por chamas. Outros homens estavam ao seu lado, parados como estátuas.
Uma porta se abriu e por ela trouxeram Névari, ele parecia estar machucado, mas nada me doeu tanto quanto ver seus olhos angustiados.
Alguém me empurrou para perto do homem em seu trono, ele era tão intimidante, que só então notei que tremia sem sentir frio.
- Em primeiro lugar, seja muito bem vinda, minha querida. - disse o homem
- Quem é você? - indaguei quase sem voz.
Ele sorriu falsamente, com seu olhar prepotente, como se eu fosse um animal que seria pisado a qualquer momento. - Sou o Lorde Murark, já deves te ouvido falar de mim.
Instintivamente afastei-me, mas alguém me empurrou novamente.
- Acho que nada deve estar muito claro para você - disse ele - Mas posso lhe ajudar. Antes de qualquer coisa, nem se dê ao trabalho de tentar fugir de mim, por que não há como, nem no seu mundo e muito menos no meu.
Ele levantou-se e caminhou de um lado a outro. - Não há nada pior que ingratidão, sabia? E sabe o que é pior do que um inimigo? - dessa vez ele olhou somente para Névari - Um traidor.
- Eu apenas fiz o que é certo e não me arrependo por isso. - Névari rosnou.
- O que é certo? - Murark sorriu - Contou a ela o porquê de tudo?
Fez-se silêncio.
- Bem como pensava... - então o homem voltou-se a mim - Vamos parar com os rodeios, você irá morrer hoje querida. Na verdade exatamente agora.
Faltou-me ar nos pulmões. O que eu estava vivendo? E minha vida na cada do tio Edmundo? A escola, os amigos... Meu mundo.
- Eu quero saber por que, o que fiz de errado? - as lágrimas começaram e minha voz soou rouca.
Pensativo, Murark me observou. - Talvez deva saber a verdade. Como já disse não há nada pior que ingratidão e um dia, há 17 anos um traidor como Névari atravessou a fronteira entre nossos mundos numa missão. Contudo ele falhou ao ter a audácia de alegar amor eterno a uma criatura como você. Eu não aceito e jamais aceitarei um de meu povo juntar-se com sua raça impura! - ele gritou.
- Do que está falando? Isso é mentira.
- Falo dos seus pais! Dos seus malditos pais! - ele bradou diante de mim. - Eu lancei-lhes uma maldição e meus homens mais fieis os caçaram como animais até acabarem de vez com todos e até então procuravam por você, mas somente agora descobrimos que esse traidor - apontou para Névari - estava lhe escondendo muito bem.
- Ela não merece! - Névari indignou-se.
- Não cabe a você julgar minhas ordens! Eu digo que ela morre então ela morrerá!!
Mais lágrimas rolaram do meu rosto, lágrimas pesadas, que me cegavam.
- Ela não merece e ela não morrerá! Eu a tomo para mim, toda a maldição! - gritou Névari
- Não diga isso! - desesperou-se Murark
- Eu a tomo para mim, toda a maldição!
- Pare agora!
- Eu a tomo para mim, toda a maldição!
Como um raio, uma chama azul e resplandecente atingiu Névari com tanta força que até mesmo os seus carrascos caíram para trás.
Névari levantou-se com dificuldade. Caminhou até o Lorde e com um semblante de hostil, ele disse. - Ela está livre, eu prometi protegê-la e o fiz.
- Maldito seja por toda sua existência! - berrou Murark - Leve-a daqui.
Sem hesitação, um homem guiou-me para fora, embora eu gritasse por Névari. Ele seria morto em meu lugar, e isso não era justo. Eu precisava fazer algo.
Por escadas tortuosas ele me guiou, até que num grande pátio eu avistei um rosto conhecido.
- Elyn! Por favor, precisamos fazer algo! - gritei
Ela prontamente veio a mim - O que Névari fez? O que ele fez?
- Ele tomou a maldição de mim! Ele morrerá em meu lugar!!! - continuei gritando. - Eu sei que por mim sentes apenas aversão, então me diga um jeito de salvá-lo.
Ela pensou durante um tempo, então se voltou a mim com olhos atribulados - Precisa aceitar ser aprisionada para sempre, precisa submeter-se à Lorde Murark. Somente assim o salvará.
Antes que eu pudesse falar qualquer outra coisa, ela continuou exasperada. - Mas olhe Isabel! Não há mais tempo!
Eu estava mais transparente que fumaça, eu estava deixando seu mundo contra minha vontade e não conseguia ser forte, não conseguia impedir.
- Encontre uma forma de voltar o quanto antes, Névari não terá muito tempo. Você precisa... Precisa... Precisa...
Meus olhos se abriram. Meu coração batia acelerado. Suor escorria de minha testa. Estava em meu quarto, na casa de tio Edmundo.
O tique taque do relógio continuava como um martelo. Tudo havia sido real? Eu tive uma insônia e viajei para outro mundo ou fora apenas um pesadelo?
Passei um bom tempo sentada na cama sem saber ao certo o que vivi, mas ao olhar para minha foto sobre o criado mudo ao meu lado, havia também algo familiar.
Uma grande pena preta, como de uma águia bem grande. Meu coração bateu mais rápido e eu sabia o que eu devia fazer.
O vento uivava lá fora, a lua estava brilhante e o tempo era meu maior inimigo.
Fim.
Ótimos sonhos a todos!