Mensagem - de texto - pra você
Era um lindo sábado de céu azul da cor do mar, mesmo estando a algumas centenas de quilômetros longe da praia. Era um azul vivo, desses que ao mesmo animam e acalmam, refletido numa grande e retangular piscina de água cristalina.
Na beira do domingo e da piscina do clube as irmãs e melhores amigas Rosana e Silvinha tomavam tranquilamente suas bebidas e papeavam sobre a nova namorada do primogênito de uma, entre uma folheada e outra de Caras.
Ambas à vontade como o que vestiam: um biquíni discreto, com a canga enrolada na cintura. Na cabeça, um chapéu de palha macia, com o adereço de um pano rosa claro envolto com um nó logo em cima da aba.
Cinquentonas, realizadas, mães de meninos com mais de um quarto de século completo e casadas há mais de 30.
A manhã era mansa, calma como os domingos foram criados para ser. Até um celular apitar.
Homem de poucas palavras e espesso bigode, o engenheiro de tráfego Amadeu aproximou-se por trás de sua digníssima senhora e companheira. Pouco antes dela se virar, tascou um beijo entre sua nuca e boca, logo onde desenha o rosto. Antes que ela pudesse por em palavras sua surpresa, Amadeu respondeu com ternura:
- Eu também. – E sorriu, esticando as franjinhas de seu bigode.
- Eu também o que, Má? – Respondeu Rosana, entre curiosa e carinhosa.
- Eu também… Recebi sua mensagem no celular. Eu também. - E sorriu de volta, ainda enternecido.
- Que mensagem? Eu nem sei mandar mensagem direito Amadeu.
- A mensagem, Rosana. “Má, te amo muuuuito”.
- QUE MENSAGEM? – o que antes era carinho transformou-se em um raivosa curiosidade.
Do repentino beijo do cunhado ao “que mensagem?”, Silvinha foi instintivamente entrando aos poucos debaixo da mesa, que já passava da altura do seu umbigo.
Amadeu ficou perplexo. Se sentindo culpado mesmo sem ter culpa.
- Não foi você?
- Não! Claro que não né! Deixa eu ver esse troço – Rosana começou a ficar impaciente.
- Ma-mas você escreveu “Má”!
- EU SEI. Quem mais te chama de Má, Amadeu? Só eu. – Caixas altas não expressam a ira contida que começou a tomar conta do seu rosto.
- Você só, ué!
- Vou ligar. – tentou mexer no aparelho por alguns segundos, bufando a cada tecla aperta. – Que droga! Como que faz pra ligar pra esse número?
- Mas pode ser engano, Rô. Só pode ser! Marcelo, Mauro, Marcos, Marcondes… São muitos “Más” por aí! – Enquanto falava, a papada de Amadeu balançava freneticamente em sua defesa.
Silivinha, sabendo do ciúmes que conhecia desde os tempos na casa de bonecas, e na tentativa de ajudar o seu cunha, interveio:
- Além de Marcelas, Marianas, Marias… Mandaram errado, acontece. Eu já li-
Rosana já cortou.
- E pode ser Amadeu! Vou ligar.
E ligou. Segundos foram estendidos para horas a cada longo toque de chamada.
- Alôquemfala? – Disse assim mesmo, sem vírgulas e pausas. – Roberto? Escuta Roberto, você namora alguma Maria? Por que você mandou uma mensagem pra lá de melosa para o meu marido.
Silvinha e Amadeu se entreolharam, apreensivos. Rosana continou:
- Pois você olhe bem nos olhos da Márcia e fala “eu te amo” com todo seu coração. Por que além de muito mais bonito, você não se declara pro marido dos outros!
Apertou o botão “end” com força, e desligou. Mexeu sua caipirinha com o misturador de plástico, e sorriu amarelo. Rindo. Ambos riram na mesma cor.
Resolvida questão, Amadeu se despediu das duas e voltou para sala de sinuca do clube, só parando para mexer no celular e mandar uma única mensagem:
“Beto, você é muito burro. Mas eu te amo muuuuuuito!”