O Mistério da Casa da Rua 10

Fazia pouco tempo que Sofia estava naquela escola. Havia se transferido para lá pois ficava mais perto de sua casa nova e, assim, poderia ir embora a pé, não precisando pegar ônibus.

Todos os dias, ao voltar para sua casa, ela passava em frente a um antigo casarão, na rua Dez, que lhe chamava muito a atenção. Numa das menores janelas deste casarão, sempre via uma mulher jovem, de olhar triste e rosto fino, que a olhava fixamente.

Todos os dias, ao ir embora, via a mesma mulher, pela mesma janela, naquele mesmo casarão, a olhar para ela daquele jeito. No principio, Sofia teve medo. Mas, depois de algum tempo, se acostumou. Às vezes, ficava a indagar-se sobre o por quê da tristeza daquele olhar. Por que era aquela moça tão infeliz?

Essas dúvidas lhe incomodavam tanto que, certo dia, parou em frente à casa e olhou para a moça que, como sempre, estava na janela. Sofia, sendo muito curiosa e intrometida, não resistiu e foi falar com a jovem.

Foi até o portão e percebeu que o mesmo se encontrava aberto. Entrou e dirigiu-se até a porta. Bateu, mas não houve resposta. Bateu novamente na porta e está se abriu.

- Tem alguém aí? – perguntou enquanto a porta se abria

Viu toda a casa por dentro. Vários móveis cobertos com lençóis amarelados, muita poeira e teias de aranha. A casa era grande e a sala dava para outras salas e para a cozinha. Havia uma grande escada que com certeza, pensou ela, daria para os quartos. Sofia observava bem a casa enquanto dava passos tímidos em direção ao seu interior.

- Tem alguém aí? – perguntou mais uma vez.

- Aqui em cima, Sofia. – falou-lhe um voz chorosa.

A garota entrou em pânico: alguém lá em cima sabia o seu nome. E agora? Ela não sabia se fugia ou subia lá, para ver quem era. Resolveu subir.

Subiu devagar, degrau por degrau. Quanto mais subia, maior era o seu pavor e, ao mesmo tempo, maior era sua curiosidade.

Chegou ao topo da escada. A mesma voz lhe chamou novamente:

- Aqui, Sofia. Venha até aqui.

Sofia, ainda assustada, foi em direção ao quarto de onde vinha a voz. Esse outro andar estava nas mesmas condições de limpeza do outro. Tudo muito sujo, cheio de poeira.

A garota caminhou devagar. Suas pernas pareciam endurecer, tal era o seu pavor. Chegou à porta que estava entreaberta. Empurrou-a levemente e pode ver a moça sentada numa poltrona. Esse cômodo era bem diferente do restante. Estava limpo e bem arrumado. Os móveis estavam visíveis, sem cobertura de lençóis, ao contrário dos demais da casa.

- Como sabe o meu nome?

- Intuição.

- Me desculpe, moça, eu ter entrado assim, mas o portão estava aberto, a porta abriu sozinha…

- Fui eu quem abriu a porta. Não precisa se preocupar. Eu sabia e queria que você viesse.

- Por que?

- Porque percebi que você podia me ver. Imaginei que também poderia conversar comigo.

- Claro que posso. – disse Sofia, aproximando-se mais da moça. – Não querendo ser intrometida, mas, eu queria saber por que você está sempre tão triste?

- Sente-se aí – disse virando-se para a garota e apontando um banquinho que estava ao lado da cama. – Sou infeliz pois não tenho mais ninguém neste mundo.

Sofia agora podia ver a moça melhor. Usava um longo vestido azul, muito bonito. Tinha um rosto delicado, bem alvo. Cabelos castanhos, cacheados, olhos azuis. Sofia sentou-se onde lhe foi indicado.

- Por que você não tem ninguém? O que aconteceu com sua família, com as pessoas de quem você gostava?

- Amava muito meu pai e minha mãe, mas, por acaso do destino, eles faleceram, um em seguida do outro, me deixando sozinha. E para piorar a minha situação, meu amado me abandonou e eu ao menos sei o por quê de sua atitude.

- Não fique assim. – disse a garota, compadecendo-se da jovem. – As coisas acontecem sem que possamos fazer nada para evitá-las.

- Mas, às vezes, eu me sinto um tanto culpada. – Disse a jovem, com a voz chorosa.

- Você não é culpada de nada. Seus pais faleceram, não pode ser culpa sua. E, se seu amado lhe deixou, é porque ele é um tonto e não lhe merece.

A jovem sorriu.

- Obrigada! Você me ajudou e muito

- Imagina, eu não fiz nada. – Sofia olhou no relógio – Já deu a minha hora, eu preciso ir. – a garota já ia saindo, quando se voltou para a jovem – Qual é o seu nome?

- Katrina! – responde a moça feliz.

- Até uma próxima, Katrina.

- Adeus.

Sofia sorriu e foi embora.

*****

Todos os dias, Sofia continuava a passar em frente a essa casa, na rua Dez. Sempre via Katrina, porém, agora, a jovem sorria.

Certo dia, Sofia descobriu que uma de suas novas colegas morava perto de sua casa. As duas, então, resolveram ir embora juntas.

Saíram da escola e começar a caminhar. Passaram em frente à casa da rua Dez e Sofia acenou para Katrina. Sua colega estranhou:

- Sofia, para quem você está acenando?

- Para a minha amiga Katrina. Ela mora naquele casarão. Você não está vendo-a ali.

A garota olhou e nada viu.

- Não vejo nada, Sofia. Você está louca? Ninguém mora naquela casa há mais de trinta anos. Parece-me que a jovem assassinou os pais para poder casar-se com o namorado, mas ele acabou largando-a sozinha, indignado com o fato dela te-los assasinado.

- Impossível, Bianca. Eu conversei com uma jovem, dentro daquela casa, faz pouco tempo.

- Vamos até em casa que eu te mostro.

As duas continuaram a caminhar até a casa de Bianca. Entraram, deixaram o material em cima da mesa e desceram até o porão. Bianca pegou algumas caixas cheias de jornais antigos.

- É tão raro nossa cidade sair nos jornais que o vovô sempre guardava todas as reportagens. – Mexeu um pouco em uma das caixas, tirou um dos recortes e entregou-o à Sofia.

A garota pegou o jornal, sem acreditar no que via. Ao lado de uma grande foto de Katrina, leu a manchete:

“Jovem Katrina de Montaltino envenena os pais para casar-se com o namorado.”

Ainda sem acreditar,continuou lendo a reportagem:

“A jovem Katrina foi acusada de ter envenenado seus pais, o senhor e a senhora Montaltino, pelo fato de os mesmos serem contra seu noivado com o jovem Antônio Carlos Figueroa, que após saber do ocorrido, desistiu do casamento com a jovem.

Katrina foi descoberta e, por julgarem-na doente, foi internada no Hospital Estadual para Tratamentos Psiquiátricos.”

Antes de terminar a leitura, sua amiga entregou-lhe outro recorte, onde pôde ler:

“Katrina de Montaltino morre louca no HETP, negando sua culpa no assassinato de seus pais.”

Sofia levantou-se depressa, pegou seu material, agradeceu à amiga e correu em direção ao casarão. Lá chegando, não viu a jovem na janela. Abriu o portão, entrou na casa e foi até o quarto onde, dias antes, havia conversado com Katrina.

Entrou e viu um quarto muito diferente daquele que havia visto noutro dia. Todos os móveis estavam cobertos com lençóis e cheios de teias de aranhas. Não encontrou Katrina.

Procurou por toda a casa, por todos os cômodos e não a achou. Cansada e sem entender o ocorrido, foi embora para sua casa.

Porém, de uma coisa ela tinha certeza. Este fato, nem a sua Filosofia poderia explicar.

Cintia Henriques
Enviado por Cintia Henriques em 26/10/2010
Código do texto: T2579704
Copyright © 2010. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.