Apenas uma lata de areia...
Apenas uma lata de areia...
Theo Padilha
Essa história tem como palco uma alfândega à margem do rio Paraná. Divisa com o Paraguai. Corria o ano de 1995. Bruno, um de nossos personagens, trabalhava como fiscal na Alfândega.
Outro é Popeye que era tido como pedreiro. E morava próximo ao trabalho de Bruno. Um certo dia...
— Bom dia, Bruno! O dia hoje está lindo! – gritava Popeye, enquanto amarrava sua Caribean, novinha, no Píer ao lado do posto de fiscalização.
— Bom dia, Popeye! O que você trás nessa lata, posso ver?
— Claro que pode, afinal de contas, é o seu serviço, não é? Pode abrir!
— Parece uma lata de tinta Suvinil. Nossa é areia. Por que trazer areia da outra margem?
— Sou pedreiro. E essa é melhor areia que encontrei para fazer minha casa. Abra a lata. Pode derramar a areia no assoalho da pick up! Depois eu recolho. Não pense que tem cocaína, ou armas no meio da areia. Não sou traficante, Bruno!
Popeye sempre chegava na lancha Caribean 1987. A caminhoneta o esperava para carregar a lata de areia. Bruno às vezes nem olhava. Estava acostumado e confiava no amigo.
E essa rotina foi longe. Eles se conheciam desde 1987. E quase todo o final de semana, eles se cruzavam para um bate papo. Ficaram amigos de tomar cerveja juntos nos quiosques que existiam no bairro. Depois de algum tempo, Bruno nunca mais quis abrir a lata que Popeye carregava na caminhoneta. Sabia que era pura areia. E a casa de Popeye ficava cada vez mais bonita à margem do rio.
Depois de alguns anos.
— Popeye, bom dia! Quero lhe apresentar meu amigo Nardoni, que irá me substituir. Hoje é o meu último dia. Estou aposentado. À noite quero que compareça no quiosque da Isabel para nossa despedida. Vou embora para Curitiba!
— Que beleza, Bruno! Fico alegre com isso e ao mesmo tempo triste, não queria perder o amigo! À noite eu te vejo!
No bar da Isabel,naquela noite, lá estavam Bruno e Nardoni à espera de Popeye. Popeye chega e se senta à mesa.
— Popeye, este é Nardoni, do qual lhe falei!
— Nardoni, este é Popeye, o pedreiro, meu amigo de fé, meu irmão, camarada! – brinca Bruno.
Feita a apresentação pediram uísque e cerveja e beberam até tarde. Bruno muito feliz. Nardoni também, pois estava começando um novo serviço, bem remunerado. Quando o novo fiscal se afasta para ir ao banheiro, Bruno olha bem para Popeye e diz:
— Popeye, seu malandro! Juro que não vou lhe entregar. Estou aposentado e isso seria depor contra mim mesmo! Tenho a impressão de que não era só areia que você trazia. Posso saber o que mais você trazia do Paraguai?
Popeye ficou meio assustado. Olhou para todos os lados para ver se ninguém escutaria. Olhou nos embrulhos sobre a mesa para ver se não havia gravador e sussurrou no ouvido do amigo de confiança:
— Todo esse tempo eu passei mais de 200 lanchas. SUPER OVERHAULIN, Marca Caribean 1987. Que me traziam dos EUA!
Copyright by Theo Padilha, Joaquim Távora, 16 de julho de 2010.