O Prémio do Herói - Parte Final
III Parte
Capítulo II - O Afilhado do Rei
Enquanto os enamorados se deliciavam com o seu amor e paixão, na sala de jantar, os companheiros de armas, jantavam em conjunto enquanto iam relatando as peripécias do dia e comentando á sua maneira.
E como não podia deixar de ser, o tema preferido era Pedro Escuro, a sua bravura e coragem, e o seu prémio que todos invejavam mais ou menos abertamente.
Entre ditos e risotas, iam comentando como seria o afilhado do rei, e tudo servia para rir, descontraindo das lides da batalha, até o facto do estalajadeiro trazer para eles comerem aquelas deliciosas frutas que se cultivavam no outro lado do rio, para os lados de Al-meirim, segundo ele lhes explicava com paciência e que se chamavam melões.
De risada em risada, algum mais atrevido lançou um comentário picante, sugerindo que os seios da sua filha eram tal qual aquela fruta!
Mas todos se calaram instantaneamente á entrada de El-Rei que vinha passar revista ás tropas, antes de se recolher e saber se estavam bem acomodados.
Perante os acenos afirmativos de todos, relanceando os olhos pela vasta sala, perguntou pelo herói do dia e entre novas risadas, alguém afirmou que estava a tomar conta do seu prémio!
Tranquilo El-Rei retirou-se recomendado moderação e pouco a pouco todos abandonaram, a sala, retirando-se para os seus aposentos.
O novo dia amanheceu tranquilo e os habitantes que tinham permanecido, começaram a limpar os despojos da batalha, a enterrar os mortos e cuidar dos vivos, e a lançar as bases para o novo tempo que se avizinhava.
Pedro Escuro e Ana, compareceram perante Deus, numa cerimónia discreta na Igreja da praça, e viram seus destinos unidos pelo sagrado matrimónio perante o contentamento do seu Rei, e de sua Rainha que os apadrinharam, assim como o seu filho nascido nove meses depois, são e escorreito.
Josef, o Judeu continuou os seus negócios com a sua estalagem sendo a mais procurada e vendo a sua fama e fortuna crescerem todos os dias, enquanto infatigável ia recebendo os seus hóspedes com a sua costumeira hospitalidade e cordialidade.
E a cidade foi-se recompondo e crescendo, rumo ao futuro, próspera e fecunda, abrigando os seus habitantes, vendo novos casais multirraciais todos os dias se formaram, unindo os cavaleiros guerreiros e as mouras que tinham ficado e que se convertiam á fé cristã para seguirem seus esposos e educarem seus filhos na palavra de Deus.
Capítulo III – Cumprindo as promessas
Enquanto isso, Pedro Escuro e seu sogro, ajudados pelos soberanos, começaram as obras da construção de uma nova ermida e de um hospital, conforme a sua promessa do dia da batalha.
Ele era conhecedor das artes de cura, e sob o seu comando e orientação, depois do edifício construído, foram contratados os melhores físicos do reino, e a Sancta Irena, começaram a chegar atraídos pela fama das suas artes curativas, doentes de lugares distantes, a quem ninguém conseguia curar e que tinham vários padecimentos não só do corpo como da alma.
A todos Pedro Escuro recebia com humanidade e profundo amor ao seu próximo, e estudava cada caso que lhe apresentavam em conjunto com os seus físicos e prescreviam o tratamento mais adequado.
Aos que apenas restava o consolo divino, rezavam na ermida por sua alma pedindo que fosse cumprida a vontade de Deus e seu Filho Jesus e todos se sentiam consolados.
Deus abençoava aquele casal dando-lhe saúde e vida produtiva, e filhos que iam nascendo belos, bondosos e meigos, ajudando sua família e mostrando-se filhos obedientes e carinhosos.
El-Rei continuava as suas batalhas para a reconquista cristã e a cada nova cidade conquistada, Pedro Escuro partia com os seus cavaleiros que tinha sob seu comando directo, e sempre se distinguia na batalha e no auxílio aos feridos que por vezes trazia de volta a Sancta Irena para uma cura mais prolongada no hospital por si fundado.
Até que um dia, já em idade avançada, chegou o momento da sua partida ao encontro de Deus e de seus anjos, e fiel á sua promessa, os seus filhos e sua esposa, sepultaram o seu corpo junto á porta de Valada, para que pela eternidade ficasse esperando a volta do mouro, conforme tinha prometido naquele dia memorável, vivo ou morto.
Capítulo IV – O último herói
Hoje Sancta Irena, deu lugar a Santarém, cidade com mais de 3000 anos de História e histórias de heróis, santos, reis, rainhas, princesas, escritores, poetas, homens e mulheres comuns e outros que por seus feitos se foram da lei da morte libertando, como dizia o imortal Luís de Camões nos Lusíadas.
O comércio tem lugar de destaque na cidade, a agricultura faz dela uma cidade conhecida em todo o mundo a que pela feira anual que se realiza acorrem pessoas de diversos países expondo os seus produtos e vendo os locais.
Os melões de Almeirim adquiriram justa fama e continuam a ser cultivados e comercializados em todo o país, embora com técnicas mais modernas, mas que foram iniciadas pelos árabes no tempo da ocupação da cidade e do país.
E ainda os homens continuam a dizer em tom admirativo perante uma jovem de seios grandes e cheios: - Que melões!
O antigo hospital, e igreja foram reconstruídos no reinado de D. Manuel I no século XVI e agora no edifício antigo do hospital funciona uma escola e a igreja ao lado, mantém-se em actividade também, tendo sido os ossos de Pedro Escuro transferidos para um túmulo no seu interior, onde ainda se mantêm passados mil anos desde aquele dia.
Recentemente a praça em frente foi toda remodelada para fazer uma moderna rotunda e ao proceder-se á abertura de valas para colocarem cabos eléctricos, ficaram os trabalhadores admirados ao surgiram ossos naquele local tão inesperado.
Chamados os técnicos de arqueologia, foram as obras paradas para estudos mais aprofundados, e durante um ano estudantes e sábios, procederam a exames minuciosos, tendo concluído que naquele local existiu outrora um cemitério muçulmano, datado dos tempos da ocupação árabe da cidade.
Agora á saída para Lisboa, a memória do último herói da cidade, Capitão Salgueiro Maia que se distinguiu na revolução que derrubou a ditadura, comandando as tropas que de Santarém partiram para tomar os pontos chaves da capital Lisboa, afirma-se com uma estátua sua, junto a um tanque de guerra, entre um pequeno jardim de cravos plantado.
Ao fundo, os edifícios do antigo hospital e igreja e por sobre tudo pairando a recordação do primeiro herói da cidade, junta-se com a do último, protegendo o mesmo local da volta do inimigo.
Arlete Piedade
16 de Julho de 2006
Completa-se assim a publicação do conto "O Prémio do Herói", que também poderão ver publicado no meu site Bosque Encantado, magníficamente emoldurado em riquíssimo papiro antigo, e ilustrado pelo Cavaleiro Mago, Roberto Oliveira, a quem agradeço emocionada por toda a colaboração, afecto e carinho, neste endereço: http://www.mundopoeta.net/fadadasletras/o.premio.do.heroi/
Prevista também a sua edição em breve, em formato E-Book, que colocarei á disposição para download aqui mesmo.
Agradeço a todos os leitores e amigos que acompanharam esta nossa inovadora publicação que valeu pela experiência e nos ensinou algumas lições.