A Causa Misteriosa

3 de setembro de 1982. O detetive Matheus Dias Senna reside e trabalha na capital. Neste mesmo dia, ele recebe a missão de viajar a uma cidade do interior e investigar uma estranha morte de um mordomo de 49 anos de idade, em uma grande fazenda há aproximadamente 35 quilômetros de distância da pequena cidade.

O detetive é jovem, 25 anos de idade, estatura média, cabelos lisos, olhos castanhos e, enfim, é de boa aparência. É formado em direito há apenas 2 anos. Estagiou 4 anos com um amigo detetive de muita experiência e, há 1 ano trabalha sozinho. Usa um medalhão que tem um desenho que ele não sabe o que significa, mas a mãe lhe disse que é uma lembrança do pai. É muito inteligente e tem raciocínio rápido e lógico. Tem conhecimentos em Matemática, Física e Química. Aprendeu com a mãe a falar inglês.

O capitão Andrada dá a ele a mencionada missão. No início protesta, mas acaba conformando e acreditando que esta missão será muito importante para a sua carreira, caso ele consiga desvendar o mistério. Viaja às 12 horas e 20 minutos e chega à cidade aproximadamente às 19 horas. Descansa um pouco e viaja novamente em direção ao seu objetivo. Chega à entrada da fazenda quase às 21 horas. Entra na porteira e o carro caminha mais devagar pela estrada estreita. Dos dois lados uma mata sombria e de árvores grandes. À medida que se aproxima do interior da fazenda, o frio aumenta, intensificando o aspecto sombrio e tenebroso daquele local. 20 minutos após passar pela porteira, chega ao portão da grande mansão. Portão de ferro e enferrujado com uma placa de letras bem trabalhadas avisa: “VOLTE, MUNDO ACABOU! SIGA, ENTRADA DO INFERNO!” Alguém o recebe no portão:

– Pois não, senhor, o que o traz a este lugar tão longe? – balbuciou um homem alto e magro que o recebe.

– Boa noite! Eu sou o Detetive Matheus! O capitão Andrada me mandou e...

– Entre! – cortou o homem. –Me acompanhe, por gentileza.

O detetive segue entrando atrás do homem e depara com demônios de mármore no caminho. A mansão é enorme, com uma parte mais alta no centro, parecida com uma torre. O telhado é de várias divisões. A arquitetura é espetacular, mas ao mesmo tempo, tudo é tenebroso. A porta é enorme, de madeira, com um leve desenho esculpido na madeira, que parecia um homem de asas. Na cidade, informaram a ele que aquele lugar era assombrado. Ele ouviu histórias mirabolantes. Ele estranha o fato de não ter luz naquela fazenda, pois informaram a ele que, apesar de distante, lá tinha eletricidade. O homem abre a porta e o convida a entrar. O detetive entra. A sala é grande com uma mesa no centro. Um candelabro ilumina aquela sala. Todos estão à espera do ilustre visitante.

– Boa noite, detetive Matheus. É um prazer tê-lo conosco. O senhor está aqui porque eu ouvi coisas boas a seu respeito. Sinta-se à vontade como se estivesse em sua casa.

– O prazer é todo meu. – responde o detetive.

– Eu sou o João Oliveira, mas pode me chamar só de Oliveira. Esta é minha esposa Thereza Oliveira.

O detetive cumprimenta o senhor e senhora Oliveira. O anfitrião continua:

– Esta é minha filha Rebeca. O homem que te recebeu é o Izidoro, criado e ajudante nos trabalhos domésticos. Este que está chegando é o Epaminondas, mordomo da casa, ele te levará ao seu quarto. O que está lendo no sofá é o meu irmão Zeferino. Lá na cozinha estão as empregadas Felisbina e Setembrina, são irmãs. Epaminondas, leva o detetive ao quarto, pois ele deve estar exausto. O jantar sai em uma hora.

O Oliveira e o Zeferino se parecem: alto, fortes, cabelos longos ondulados, cútis morena bem clara. A Thereza também é morena bem clara, só que um pouco mais bronzeada, olhos pretos repuxados no canto, cabelo preto, longo e liso, mistura de índio com branco. O Epaminondas tem uma cara de mau. Matheus não gostou dele. O jovem fica encantado é com a beleza de Rebeca: idêntica à mãe, só que a cor do pai, morena clara. Ela é linda. No jantar, todos comem, conversam e se conhecem. Matheus e Rebeca trocam olhares rápidos, mas ninguém na sala de jantar percebe. O hóspede fica assustado, pois vê nas paredes em vários cômodos da casa animais empalhados e quadros assombrados. Todos vão dormir decididos que Matheus começa as investigações no dia seguinte.

***

– Pobre Catarino, trabalhava para nós há 20 anos. Amanheceu morto há 21 dias atrás. Foi nesta sala. As costas dele foram atingidas com várias chibatadas. O criminoso escreveu nesta parede a mensagem: VINGANÇA!, com o próprio sangue da vítima. Ninguém ouviu nada. A porta da frente estava fechada, porém destrancada. Os cachorros foram dopados, pois dormiram o dia inteiro, pareciam mortos. Acho que foi sonífero.

– E a polícia, o que disse?

– Procuraram e não encontraram nada. Catarino não tinha inimigos. Registraram ocorrência e, após uma semana de investigações, engavetaram o caso. Aqui é cidade do interior, a polícia não tem capacidade para resolver este tipo de caso. É por isso que você está aqui.

– O criminoso deixou alguma pista, senhor Oliveira?

– Não que eu tenha percebido, mas se teve alguma coisa com certeza os policiais levaram.

Na mesma manhã do dia 4 de setembro, Matheus vai à polícia. Lá, conversa com os dois policiais que fizeram a análise do crime. O José, um dos policiais, diz ao detetive:

– Eu e o César não encontramos nenhuma pista. O único vestígio eram as marcas de sangue e as cicatrizes no corpo da vítima. Apenas achamos estranho um fato.

– Que fato?

– Como que o criminoso conseguiu sangue para escrever na parede se, apesar de as costas da vítima estarem no osso, devido as chibatadas, não tinha vestígios de perda de sangue?

O detetive volta à mansão com mais incertezas que antes, pois não conseguiu muita evolução nas investigações ao conversar com os policiais. A tardezinha resolve se distrair um pouco e resolve cavalgar a cavalo e ver o pôr-do-sol junto com a Rebeca, sem segundas intenções. Começam a conversar e a ficarem amigos.

– Você ainda mora com seus pais? – pergunta Rebeca.

– Não, meus pais morreram. Fui criado apenas pela minha mãe, que morreu há dois anos atrás.

– Sinto muito!

– Tudo bem. Foi difícil me conformar, mas já estou bem. Quanto a meu pai, minha mãe me disse que ele morreu antes de eu completar um ano de idade, porém nunca me deu muitos detalhes. Ela me deu esse medalhão como lembrança de meu pai. O bisavô de meu pai era bandeirante e explorou minerais, principalmente ouro, em Goiás e Minas Gerais. Ele fez este medalhão, que veio passando de pai para filho, até chegar a mim. Minha mãe voltou para a casa de seus pais, meus avós. Eles me deram todas as condições para estudar e ser o que sou hoje.

– Que bonito, parece de prata!

– É de prata. A corrente também.

– E esse desenho, o que significa?

– Não sei, nem mamãe sabia. Mas, me fale um pouco de você. Você parece muito com sua mãe.

– A Thereza? Não é minha mãe. Todos acham isso. Ela é minha tia, irmã gêmea de minha mãe. Minha mãe morreu um mês depois do meu nascimento. Papai casou com minha tia e eu fiquei com eles até os meus 6 anos de idade. Depois fui morar com minha avó materna em São Paulo, mas sempre vinha nos finais de ano ver meu pai. Também estudei. Terminei o 3° ano do 2° grau, com muita dificuldade, pois o brasileiro acha que a mulher só serve para ser dona-de-casa.

– É. Você tem razão. Faça a diferença. Volte a estudar.

– Não dá, estou aqui há um ano e meio, papai quer que eu aprenda a administrar a fazenda, pois ele não tem filho homem e minha tia não pode ter filhos. Eu sou filha única. Mas voltarei a estudar ano que vem.

– Quantos anos você tem?

– 19, e você?

– 25.

Os dois se calam. Se olham. Se aproximam. Já está quase escuro. Rebeca afasta e diz:

– Vamos voltar! Já é hora de irmos.

À noite, no jantar, o detetive Matheus pergunta ao Oliveira:

– Não entendi a palavra VINGANÇA na parede, o morto não tinha inimigo. E vocês da casa, não têm nenhum inimigo?

– Só se for os mortos! – responde o Oliveira, e continua. – Há quase 25 anos atrás, houve um tiroteio entre os da minha família e os antigos donos desta fazenda. Era uma rivalidade que vinha de gerações. Todos eles morreram e foram enterrados na parte mais alta da fazenda. Só um que, baleado nas costas, caiu cachoeira abaixo e, nunca mais foi visto. Acredita-se que o corpo foi devorado por piranhas. Nossa fazenda era vizinha desta e, em um leilão, arrematamos esta. O contrato reza que podemos usar essas terras até aparecer um herdeiro, ou seja, alguém que comprove o parentesco. Produzíamos leite de vaca holandesa, eles produziam café. Com a união das fazendas, produzimos leite e café, até os dias de hoje.

– Que história! Bom, é, vou dormir, pois estou exausto!

– Boa idéia, vamos todos dormir! – concluiu o Oliveira.

***

No dia seguinte, 5 de setembro, Matheus levanta às 10 horas, pois mesmo cansado, custou a pegar no sono aquela noite. Acha as medidas da mansão bastante desproporcionais. Solicita a planta da mansão, mas não existe. Então, ele toma o café-da-manhã e consegue uma trena. Passa o dia inteiro medindo detalhadamente as paredes internas e externas da mansão. Termina e analisa. Ele estava certo. As medidas são desproporcionais. Passa então a acreditar que a mansão tem “ocos” não utilizados. Acha estranho, mas não diz nada a alguém. Acredita que esses ocos são partes secretas. Bastante exausto, dorme com facilidade às 23 horas.

No dia 6 de setembro, Matheus começa a interrogar os moradores, já que não tem boas pistas do crime. O primeiro a ser interrogado é o mordomo Epaminondas.

– Na noite do assassinato, senhor Epaminondas, onde você e cada morador da casa estavam, já que sabes os passos de todos os moradores da casa?

– Todos foram dormir. Só o Zeferino Oliveira que não, pois preferiu ficar lendo na biblioteca, dizendo estar sem sono. Acabou dormindo lá mesmo sentado no sofá.

– Obrigado. Está dispensado por enquanto, mas chama o senhor Zeferino, por favor.

– Bom dia senhor Zeferino.

– Bom dia, detetive, o que você quer comigo?

– Fui informado que na noite do crime todos foram dormir, mas você ficou na biblioteca. Não acha isso estranho?

– Está insinuando o quê? Eu estava apenas lendo. – respondeu ele irritado.

– Nada. Desculpe. Não quis ofender você. Mas você não viu ou ouviu nada?

– As duas da madrugada, aproximadamente, o Catarino disse para eu ir dormir. Eu respondi que ainda estava sem sono e que ia depois. Ele me deu boa noite e saiu. Logo eu acabei dormindo no próprio sofá da biblioteca, onde estava.

– Certo! Obrigado, pode ir.

O detetive Matheus interroga todos da casa. Interroga também alguns trabalhadores do cafezal e do curral. A única informação importante que consegue, é a de dois homens do cafezal, que dizem que muitas vezes vêem sinais de cavalo sempre na mesma trilha, no caminho que vai da casa em direção à cidade. Na mansão, ninguém reconhece esse caminho. Ele não passa nenhum relatório ao Oliveira. Quando questionado, diz que está investigando, e é o que todos estão vendo. Em três dias de investigações, tudo o que ele tem é uma trilha de cavalo misteriosa e um suspeito: o senhor Oliveira. Vai dormir quase à uma hora da madrugada, já no dia 7 de setembro.

Às 8 horas da manhã, acorda assustado com os gritos de desespero e terror vindos lá de baixo. Matheus levanta correndo. Desce as escadas. O alvoroço vem da biblioteca. Os que estavam dormindo acordam e se dirigem até lá.

– Setembrina, você está louca? – exclama o senhor Oliveira.

Mais uma vítima. O defunto está todo ensangüentado. Um corte no pescoço atingiu fatalmente os nervos e as artérias. A vítima foi chicoteada até ficar mostrando os ossos nas costas. Na cabeça, foi posto uma coroa de espinhos. É o mordomo Epaminondas.

– Podem chamar a polícia e não deixem a Thereza e a Rebeca entrarem aqui. – afirma o detetive.

– Felisbina ou Setembrina, providencia logo um lençol, o que estão esperando? – gritou o Oliveira.

***

Depois da análise policial e funeral, na mansão reina o silêncio, o terror e o medo. O detetive Matheus continua investigando. Na noite do crime, ele mesmo olhou a porta da frente e estava trancada, mas amanheceu destrancada. Interrogou os moradores da mansão e trabalhadores do cafezal e do curral. Pôs alguns com arma para vigiarem a tal trilha de cavalo. Suspeita que o assassino seja o Zeferino, mas não tem provas. Na cabeça dele, tudo está confuso. Tudo está misterioso.

No dia 10, todos vão à mesa para almoçar.

– Eu e Rebeca vamos embora à casa de minha família em São Paulo. Estou passando muito mal devido a gripe e, como é longa a viagem, em no máximo 5 dias estaremos partindo, tempo suficiente para eu melhorar.

– Concordo com você, Thereza, essa idéia é muito boa. O detetive Matheus só tem mais cinco dias para encerrar o caso, pois você e Rebeca vão à São Paulo e eu e os demais vamos sair desta mansão. Vamos voltar à antiga mansão que era de minha família. Detetive, mesmo sem solucionar o caso será bem recompensado pelos dias trabalhados. – afirma o senhor Oliveira.

– Amanhã na parte da manhã, quero te passar o relatório de toda a investigação, senhor Oliveira. Mas não conclui ainda, por falta de provas e pistas.

– Agradeço pelo seu esforço, detetive, se você quiser continuar aqui na fazenda para investigar, pode ficar. Pode até escolher dois funcionários da fazenda para te ajudar.

A tardezinha, Matheus e Rebeca saem novamente.

– Quase não estamos tendo tempo para conversar, Rebeca. Estamos muito ocupados ultimamente.

– É. Nos conhecemos em um momento de muitos constrangimentos, Matheus.

– Você vai embora, vamos nos separar e eu vou sentir saudades.

– Eu também. Gostaria muito de ficar aqui. Eu gosto daqui. Com todos esses acontecimentos, preciso ir. Mas um dia eu volto.

– Eu também moro em São Paulo, estaremos perto um do outro.

Ela dá um sorriso. Os dois, de mãos dadas, se olham. Aproximam– se. Abraçam– se. E ela se afasta com os gritos do pai chamando-a. Ambos voltam à mansão.

***

No dia 11 de setembro, às 9 horas, no momento em que o detetive Matheus conversa com o senhor Oliveira, ambos são surpreendidos com a notícia da Felisbina:

– O Zé, que trabalha no cafezal, acaba de falar que ninguém passou na trilha de cavalo, mas descobriu uma nova trilha, indo e voltando da cidade, desviando dos que estavam em vigília.

Ambos ficaram surpreendidos. O detetive e o Oliveira vêem as pegadas surgirem do nada próximo à mansão, mas não encontram a origem. Vão a cidade pedir informações. Comerciantes do local relatam que duas vezes por semana aparece um homem alto, de barba cavanhaque, jovem e corpo forte, mas não gordo. Porém ninguém sabe de onde ele é. Compra mantimentos e vai embora. Não tem amigos aqui na cidade. Não fala com ninguém. Os dois voltam à fazenda.

– Acho que você tem companhia na fazenda, senhor Oliveira!

– Não acho, tenho certeza, mas quem será?

– É o que vamos descobrir. Seja quem for, está bem próximo de nós.

Ao chegarem à fazenda, alvoroço total. A 2 quilômetros da mansão, em um morro alto, outra vítima. O pescoço está cortado, igual à vítima anterior. As costas estão no osso, também levou chibatadas. Na cabeça, uma coroa de espinhos. A única diferença em relação à vítima anterior é que o corpo foi crucificado. A cruz, feita com tronco de árvore e pouco mais de dois metros de altura. Era o Zeferino Oliveira.

– O cara é religioso fanático, reproduziu passo a passo a morte de Jesus Cristo. – exclama o detetive Matheus.

– Já chamaram a polícia? – pergunta o Oliveira aos funcionários nervoso e desesperado.

– Sim, senhor, já chamamos.

O detetive volta à mansão e se tranca no quarto. Vê um rato e começa a persegui-lo. Acidentalmente, atrás do guarda-roupa esbarra em uma alavanca. Algo que parece uma passagem secreta abre atrás do guarda-roupa. O detetive entra. Fecha a passagem. Sai em um corredor todo iluminado. Segue e desce uma escada. Ele acaba de encontrar outra parte da casa, só que tem energia elétrica. Não tem animais empalhados e os quadros são alegres e bonitos. São dois lados totalmente diferentes. Entra em uma sala grande e bem mobiliada. Depara com um homem sentado em um sofá. Os dois se olham, surpreendidos. O homem diz ao detetive:

– Boa tarde, detetive Matheus Dias Senna. Estou a dias te observando. Achei que nunca ia me encontrar!

– Boa tarde, mas quem é o senhor?

– O dono desta casa. Meu nome também é Matheus.

– Por que duas partes da mansão totalmente diferentes?

– Os Oliveiras que mudaram a decoração na parte que moram. Quanto à energia elétrica, quando eu vim para cá, constantemente eu cortava a energia deles. Eles acabaram decidindo parar de usar a eletricidade.

– Olha senhor Matheus, já houve 3 mortes nesta casa nos últimos 28 dias. De repente eu encontro o senhor aqui, escondido. Enfim, o que está acontecendo?

– Lembra daquela história que o senhor Oliveira te contou sobre os antigos donos da casa?

– Lembro. O que isso tem de importante?

– Tudo. Eu sou aquele que ele disse cair baleado do alto da cachoeira. Não fui comido por piranhas, pois elas ficam mais embaixo do local onde caí. Também tive sorte, um turista estava no local, que rapidamente me socorreu. Ele era médico e pastor cristão. A bala pegou nas costas e em um local que não era fatal. Ele retirou a bala e fez o curativo em mim. Fiquei 22 anos com esse pastor. Me converti ao cristianismo. Ele me ensinou medicina. Sempre quis voltar para me vingar dos Oliveiras, mas o pastor não deixava e dizia que a vingança pertence a Deus. O pastor faleceu há 3 anos e eu contratei um mordomo e eu voltei para cá. Ele está chegando aí. O nome dele é Paulo. Os rastros de cavalo na trilha que vocês chamam de misteriosa são causados quando ele precisa ir à cidade buscar mantimentos.

– E as mortes?

– A primeira morte, o mordomo Catarino bebeu veneno. O coitado vivia angustiado e deprimido. Já estava morto há mais de duas horas, por isso não sangrou, usei o sangue de galinha para escrever VINGANÇA na parede. Foi quando iniciei a minha vingança contra os Oliveiras. As duas mortes seguintes fui eu mesmo quem provocou. O detetive aponta a arma aos dois homens e diz:

– Estão presos! Mãos ao alto! Qualquer palavra que disserem pode ser usada contra vocês no tribunal.

– Você só vai me prender depois que eu prender o Oliveira. Você pode me mostrar seu medalhão que carrega escondido dentro da camisa?

– Claro, mas isso não mudará sua situação!

– Sim, eu sei. Obrigado. Você tem uma mancha na coxa direita, detetive Matheus?

– Tenho, mas porque me faz essas perguntas?

O criminoso vira as costas ao detetive. Vira de repente com os olhos em lágrimas, e desabafa:

– Tenho uma mancha igual a sua, no mesmo lugar. Meu nome completo é Matheus Senna. Eu sou o seu pai. Antes de você completar um ano de idade, mandei sua mãe ir embora com você, à casa dos pais dela, pois a família Oliveira estava nos perseguindo. Não queria que algo ruim acontecesse com vocês dois. Os miseráveis Oliveiras assassinaram meu pai e meus dois irmãos mais velhos. Sua avó já era morta há 3 anos, atacada pela tuberculose. Depois que me livrei da morte na queda da cachoeira, não consegui encontrar vocês, mas procurei muito, sem êxito.

O detetive, chorando, abaixa a arma e abraça o pai. E de semblante emocionado, mas ao mesmo tempo triste, diz:

– Mamãe morreu há dois anos atrás. Morávamos em São Paulo.

– Sinto muito, eu a amava de verdade. Meu filho, este medalhão tem um desenho. Este desenho tem um significado. Deixe eu ver. Observe: uma torre, um quadrado dentro de um círculo, uma janela e um sol. Vamos à torre.

Pai e filho chegam à torre. O pai pergunta se o filho tem alguma idéia do significado do desenho. O detetive, com sua mente brilhante, olha para o teto, para o chão, para os lados. Triunfante, diz:

– Estive aqui nesta torre investigando a morte do mordomo Catarino. Tem um horário que a luz do Sol passa por aquele espaço na torre que parece uma janela e atinge exatamente este lugar no chão do círculo, que tem 12 metros de comprimento. Acredito que, nas partes secretas da mansão, mais embaixo, no mesmo rumo deste lugar marcado pelo Sol tem algo escondido. Vamos descer e ver se encontramos alguma coisa.

Pai e filho entram nas recâmaras secretas e vão à parte mais baixa da torre, no subsolo. Alias, é no subsolo que fica quase todas as partes secretas da grande mansão. Lá encontram várias prateleiras com artesanatos de barro. Eles retiram tudo. Em seguida, retiram o tapete que cobre todo o chão e encontram o desenho de um Sol. Na mesma direção da luz do Sol entrando pelo espaço nas partes superiores da torre, encontram uma tampa de ferro quadrada. Retiram a tampa. Encontram um baú. Com dificuldade retiram o baú do buraco pelas alças e o abrem. O detetive Matheus fica surpreso e diz:

– Papai, o que é isso?

– É ouro, meu filho. Barras de ouro. Meu bisavô Pedro Senna era bandeirante e explorou regiões de Minas Gerais e Goiás. Acredito que isto é o que sobrou de suas explorações e ele guardou para a posteridade.

– E o que vamos fazer com tanto ouro?

– Escuta filho, a voz de seu pai: eu já sou velho, e não tenho mais saúde para usufruir esta riqueza. O ouro é seu e dos filhos que você tiver. Seja prudente. Invista este ouro nas grandes terras de nossa família. Solicite as terras porque você é o único herdeiro da nossa família. Cuide destas terras e faça-a produzir tudo o que ela conseguir, pois são solos férteis. Tente comprar as terras dos Oliveiras e dominar a produção de leite e café da região. Mas não queime a sua reputação como detetive. Entregue a mim e ao João Oliveira a polícia. Eles mataram minha família e eu matei a deles. Eles farão uma queixa contra mim. Eu farei uma queixa contra eles. No final, ambos os lados retiram a queixa contra o outro e todos acabam livres ou com penas muito leves, segundo o que o tribunal determinar. E o ouro é segredo nosso. É uma herança de nosso antepassado. O Governo não vai nem sentir o cheiro deste ouro.

***

Dia doze de setembro. O detetive Matheus sempre usou o medalhão por dentro da camisa. Aquele dia, contente, deixa por fora e todos na mesa do café– da– manhã vêem. O pai dele, sem ninguém saber, observa a cena do outro lado da parede, por uma fresta que atravessa o olho de Picasso do quadro na parede. João Oliveira arregala os olhos ao ver o medalhão, disfarça e pergunta:

– Que medalhão é este e onde conseguiu, senhor detetive?

– É uma lembrança de meu falecido pai. Foi feito pelo meu tataravô Pedro Senna.

– É maravilhoso, detetive, assombrosamente maravilhoso. Thereza, vou subir ao quarto. Quero que subas em 30 minutos. Podes tomar café tranquilamente.

O Oliveira levanta e vai ao quarto. Com muita dificuldade, o Matheus Senna chama o filho em exatamente quase 30 minutos.

– Filho, siga seu pai, é urgente.

Ambos descem e sobem escadas e passam por corredores nos lugares secretos da mansão. O pai diz em voz baixa:

– Olha, escuta e faz silêncio. Aqui é o quarto do Oliveira e da Thereza. Esqueci de te avisar. Eles souberam do segredo de nossa família e do medalhão. O mordomo Epaminondas, que eu matei, trabalhava para meu pai e nos traiu, contando aos Oliveiras nosso segredo. Agora escuta.

– Thereza, aquele é o medalhão da família Senna e, provavelmente, o detetive deve ser um herdeiro. Ele pode ser uma ameaça. Mas ele não sabe de nada. Temos que fazer alguma coisa.

– O que tens em mente, amor?

– Ele parece não saber o significado deste medalhão. Nós procurando desvendar o segredo dos Senna e o último herdeiro aparece não sei de onde e o entrega a nós. Não vamos perder tempo. Vamos dar vinho envenenado a ele hoje no almoço. Não conte nada a nossa filha, pois ela parece estar apaixonada pelo detetive. Ele morrerá em menos de duas horas após ingerir o veneno. Pegamos o medalhão, encontramos o ouro, vendemos nossas terras e vamos para bem longe daqui.

Na hora do almoço, João Oliveira manda a Thereza pegar o melhor vinho da casa, que é reservado para ocasiões especiais. O detetive, sabendo de tudo, acredita que a essa altura o vinho já está envenenado. Come bem pouco e, ao ser servido pelo vinho mortal, finge estar passando mal, levanta e diz:

– Estou com indigestão, acho que foi o excesso de queijo no café-da-manhã. Perdi o apetite. Vou à biblioteca ler uns livros e me concentrar nas investigações.

Passado uma hora, o Oliveira chega à Thereza em particular, pega um revólver e diz:

– Vou matar esse maldito Senna. Se não morreu por bem morrerá por mal.

O Oliveira vai à biblioteca. O pai Matheus Senna ouve a conversa e vai ao mesmo lugar, também armado, a fim de proteger o querido filho. Inocentemente, sem saber o que está acontecendo, Rebeca vai ao encontro do detetive Matheus para conversar com ele e ver se ele está bem. O Oliveira chega e aponta a arma ao detetive.

– O que pensa que está fazendo, senhor Oliveira?

– Você tem algo que me interessa detetive.

E atira. No mesmo instante, Rebeca se joga em cima de Matheus e os dois caem no chão. Ela por cima e ele por baixo. Antes de o Oliveira dar o segundo tiro, aparece o Matheus Senna pai.

– Ressurgiu do inferno para destruir minha família, Matheus Senna?

– Não, um enviado de Deus me livrou da morte e eu voltei para colocar a família Senna aos domínios. Morra! Oliveira Miserável!

Um tiro acerta bem no meio da testa do último Oliveira. Enquanto isto, no chão, apesar de todo terror, os dois jovens, como se nada estivesse acontecendo, se beijam pela primeira vez, como se ambos estivessem fazendo algo que há muito desejavam e planejavam. Ao passar as mãos nas costas da moça, Matheus sente que está molhada e, ao olhar para elas vê o sangue carmesim do grande amor da sua vida. O tiro atingiu as costas da virgem que, para ele, era a mais linda do mundo. O detetive, desesperado, levanta e implorando, clama:

– Minha linda. Minha princesa Rebeca, amor da minha vida, não morra, resista! Viva! Não me abandone! Eu te amo, desde o dia que te vi pela primeira vez.

Enquanto o pai do detetive, que tem conhecimentos médicos, vem dar os primeiros socorros, acreditando que o tiro pode não ter sido fatal.

***

Após dois dias no hospital, Rebeca recebe alta. O tiro atingiu de raspão. Ambos vão congregar em uma grande igreja na capital. Ela inicia a universidade no ano seguinte. Matheus começa a fazer pós-graduação. Rebeca herda a fazenda que era da família dela, pois a tia não era esposa legítima do Senhor Oliveira. Matheus herda a fazenda dos Senna e fica com o ouro, pois o pai dele decide ir para uma cidade bem longe. Ele dá um lindo haras cheio de cavalos de raça de presente ao pai, como forma de agradecimento. É comum ele visitar o pai nas férias. Ele e Rebeca contrataram excelentes administradores para cuidar das duas fazendas. Eles apenas gerenciam através da internet ou indo pessoalmente sempre que possível. Os dois pombinhos começam a se relacionar dentro dos princípios bíblicos, orientados pelos pastores, ou seja, começam a viver uma linda história de amor e um romance à maneira de Deus.

FIM

Rafael Caetano
Enviado por Rafael Caetano em 18/01/2010
Reeditado em 18/01/2010
Código do texto: T2036312
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