Coisas da vida

A tarde toda ele a esperava. Já tinham se passado duas horas do horário marcado, mas ele não desistira de esperar. Ela nunca tinha faltado ou mesmo se atrasado num compromisso com ele. Já estava preocupado, muito preocupado. Afinal era uma exceção aquele atraso. Com tanta coisa acontecendo, já estava pensando que tinha sido uma grande besteira ter marcado encontro naquele local. No banco de cimento, duro e frio, o vento cortante, e ainda aquela ansiedade que já andava mais para angústia, ele a esperava. Começou a imaginar se teria sido atropelada, ou seqüestrada. Falava com Deus que a livrasse. Ou teria ficado mais tempo no trabalho? Talvez tivesse esquecido afinal tudo tem sua primeira vez. Meu Deus o que teria acontecido? E se ela estivesse caída desfalecida em algum local deserto. E se fosse um cativeiro. O desespero já tomava conta. O que tinha de tratar com ela nem era tão importante assim. O que é que ele tinha feito? Meu Deus! Jamais se desculparia, jamais esqueceria. Trabalhadora e esforçada. Ele trazia agora à memória todas as virtudes. Tão nova com tanta vida pela frente. E um fim tão abrupto. Isso era um absurdo. Começou a reclamar com Deus. Onde estava justiça? O amor? A misericórdia? O que ela tinha feito para ter fim tão violento. Sua imaginação estava a mil por hora. Agora já se aproximava de quatro horas o atraso e nada dela aparecer. A rigidez do banco machucava e o frio agora era mais forte. Então se levantou com a idéia de andar em volta da praça e aquecer-se, mas sem deixar de prestar atenção no local combinado esperando que ela ali ainda aparecesse. Assim andou, andou, por exatas mais quatro horas. Mas ela nunca apareceu. Nem bilhete. Nem telefonema. Nenhuma explicação. Simplesmente não apareceu ao encontro. Coisas da vida.