Noticiário da manhã
Era mais uma segunda feira. E como ele odiava segundas-feiras! O mesmo som infernal de buzinas e o calor matinal. Homens robôs cumprindo apressadamente as suas tarefas para proverem o sustento da família. Pessoas que competiam que corriam contra o tempo, pessoas que em sua normalidade ainda se perguntaram o porquê de tanto querem ser o melhor, de querer crescer, de pisar, de humilhar, de viver sua vidinha que era como a vidinha de todas as outras máquinas controladas por algo que elas odeiam e que parece que nunca vai mudar. São pessoas que atarefadas demais não se davam o mínimo de tempo para observar que existiam outros iguais a elas. São pessoas comuns que travam batalhas por ideais semelhantes, que querem estar à frente, querem tomar o pódio, querem competir, querem vencer! E com esse mesmo desprezo, ele levantou da cama e foi ao banheiro.
Meia hora depois estava numa mesa redonda, sozinho, tomando seu café da manhã em frente à televisão ligada num som baixo e tranqüilizante de sempre. Não bastou muito tempo para que ele olhasse de novo para o que se passava lá embaixo. O nojo por aquela gente medíocre e desprezível crescia a cada vez a as olhava.
Voltou para dentro do apartamento.
Era mais um dia de verão. A mesma coisa de sempre. As pessoas cansadas partindo para o primeiro dia de trabalho da semana e ainda sonhando em estar embarcando para a praia mais próxima do litoral...
Sentou de novo em frente à televisão. Iria desligá-la, mas não... Disseram alguma coisa que ele sabia. Aumentou seu som.
“Em mais um dia de calor foi encontrado um corpo perto desta casa. A polícia ainda não tem informações sobre o culpado e por isso a dúvida ainda persiste. Mas sabe-se que foi encontrado veneno na bebida do indivíduo. É alguma variação de veneno de rato ou cianeto de potássio. Bem, o corpo está aqui. Os legistas pedem que se alguém puder dar alguma informação avisem-nos. Estaremos a toda a disposição no telefone abaixo do vídeo”
Ele deu um pulo do sofá.
O rosto gelado, branco e morto no televisor ele sabia quem era. Era mesmo incrível. Um tanto sarcástico, mas era incrível...
Mas não era possível...
Ele, então, aproximou-se do televisor, chegando cada vez mais perto, seu coração batendo cada vez mais rápido e seu cérebro trabalhando ativamente. Uma confusão de cenas fazia vir e voltar o tempo todo.
Diante do televisor da sala Alberto sentiu um frio correr-lhe a espinha. Um frio como o de um inverno Europeu. Mesmo naquele dia quente, ele sentiu frio, um frio cortante e que o fez se assustar. Agora ele só podia ver uma névoa azul envolta dele. Enquanto sua alma era arrancada Alberto percebeu. Estava morto.