O Desconhecido - Capítulo 01
*Dia seguinte*
Já fazia uns dois anos que nada acontecia naquela cidade que realmente desafiasse a inteligência do detetive Ghagas. Apenas crimes corriqueiros, baderneiros e afins.
Chagas era um homem bem apessoado, nos seus 35 anos de idade. Solteiro por convicção, nuna concebera a idéia de uma mulher mandando em sua vida. "Já basta a minha mãe!" - dizia ele, quando perguntado sobre o por quê de nunca ter se casado.
Olhava atentamente o lindo dia de sol que fazia lá fora, quando percebeu uma viatura que chegava com demasiada pressa.
- Que diabos é isso? - perguntou para si mesmo, como se ele pudesse responder.
O policial Fernando, que era fã assumido do detetive Chagas estava ao volante. Trazia no semblante uma aparência assutada, de quem tinha visto assombração... E realmente quase o fizera.
- Detetive, detetive! - vinha ele aos berros, antes mesmo de ter saído do automóvel.
- Quéisso, homem?! Parece que viu um fantasma!
- Quase isso, Detetive Chagas!
- Ora, mas tome fôlego antes de falar, senão desmaia!
E foi assim que, estupefato, Ghagas ouviu atentamente a tudo o que seu bom e jovem policial narrava. Contava de um homem, que havia sido atacado na noite anterior, proximo à entrada da cidadezinha. Uma mulher que passava de carro viu algo que aparentava ser um corpo humano próximo ao acostamento da avenida. Viu que era mesmo, e resolveu ligar ainda cedinho prá delegacia, na esperança de que alguém a atendesse.
- Ah! Então foi por isso que não encontrei você aqui de manhã, não é Fernando?!
- Sim senhor! A mulher parecia estar tão assustada, que resolvi nem esperar pelo senhor! Me desculpe, detetive!
O detetive assentiu com a cabeça e pediu que ele terminasse a história. Contou que, quando chegou no local, muitos curiosos estavam sobre o corpo. Fernando se lembrou do detalhe de ter dito "parecem urubus!"
O corpo, de frente, não parecia estar muito machucado, mas a poça de sangue não mentia: algo de muito errado havia acontecido com o pobre homem que jazia estirado ao solo. Uma senhora, no alto de seus 70 anos, vinha desesperada falando num tom um pouco elevado, que sabia o que tinha acontecido. Deram então espaço à senhorinha que, esbaforida, chorava e falava ao mesmo tempo:
- Eu vi, eu vi! Oh, meu Deus! Por quê não tive coragem?!
- Viu o que, dona?! - perguntavam os vários transeuntes que por ali passavam.
- Isso é coisa de lobisomem! Eu vi de longe! Minha casinha fica naquela baixada ali! Ele já comeu algumas galinhas minhas!
- Parece que ele quis algo mais encorpado dessa vez, não é madame?! - brincou Xande, um homem que vivia fazendo piada de tudo.
- Ora essa, deixa de bobagem, Xande! Isso é coisa séria! - ponderou Fernando.
- Tá bom, policial, não tá mais aqui qyuem falou! - desculpou-se Xande!
- Então, senhora, prossiga!
-Então, seu polícial, eu vi de longe, o pobre homem que vinha meio em zigue-zague, desde lá da baixada. Parecia meio zonzo. Vi que ele ia encontrar... - e nesse ponto da narrativa, a velhinha começou a tremer. Parecia se lembrar de algo apavorante.
- Encontrar o que, madame?! - insistiu o policial.
- Ele ia encontrá o animar...