O Conto das Baratinhas

Era uma vez duas criancinhas muito levadas. Uma morava no ocidente e a outra no oriente. E por esta razão tinha costumes diferentes. No entanto, duas coisas tinham em comum: eram inteligentes e muito egoístas. Sempre queriam tudo para si e que tudo fosse do seu jeito. Os pais de ambas achavam esse jeito absolutamente normal e até bonitinho. Era, segundo eles, um sinal de personalidade forte. E, afinal, eram apenas duas crianças.

Os papais do ocidente compravam muitos brinquedos luxuosos para a pequena criança. Carros de controle remoto, jogos fantásticos. E quando a criança queria qualquer coisa, se punha a chorar. E logo estava tudo resolvido. Era uma criança que nunca ouviu um não de seus pais. Eram de fato pais bons. Penas que não sabiam ser bons pais.

E os papais do oriente compravam para seu filho com arminhas de brinquedos. Esta era o brinquedo que a criança mais ganhava. De diferente só tinha bolas de futebol.

Este menino aprendeu que para valorizar o que é sagrado vale a pena até matar ou morrer. O que nos parece um contra senso, pois não há nada mais sagrado do que o respeito pela vida e pela opinião alheia.

Certa vez o menino do ocidente e seus pais assistiram a um filme em que um treinador de futebol feminino fantasiou um menino de menina para ganhar o jogo. Todos riram muito daquela aula de malandragem. E mais uma semente do mal estava plantada.

E os meninos cresceram e começaram freqüentar a escola. Melhor dizer as escolas, pois já dissemos que eles moravam em continentes diferentes. E nas escolas a história era sempre a mesma. O menino do oriente era muito brigão. Pois aprendeu com pai que isto era ser macho. E o menino do ocidente era muito exibicionista. E queria as coisas sempre do seu jeito. Mas brigar ele não sabia. E por esta razão usava a inteligência para se dar bem. Juntavam garotos interesseiros para lhe proteger. E quando alguém o contrariava estes amiguinhos entravam em ação.

Nas suas casas eles não eram diferentes. Batiam os filhos da visitas freqüentemente. Era só os amiguinhos deles fazerem alguma coisa que os chateasse. E os pais riam e diziam que isto era coisa de criança. Mas já nos avisou um sábio brincalhão que o menino é o pai do homem.

E já na adolescência o menino do ocidente estava muito vaidoso. E a palavra eu era a que eu mais gostava de usar. E dizia desaforos para qualquer um que ousasse contraria-lo. Os professores destes eram freqüentemente humilhados.

Já o garoto do oriente embora não fosse exibicionista, era muito intolerante. Passa o tempo e o tempo passa. E o garoto do ocidente na faculdade entrava. E o do oriente um militar se tornava. E na faculdade o primeiro o seu caminho de libertinagem seguia. E o segundo, no militarismo embrutecia.

Ambos eram inteligentes, isto já dissemos. E cada na sua respectiva carreira se destacavam. E de cargo rapidamente eles subiam. E o cargo de líder eles queriam. E qualquer coisa para isto eles fariam.

Passa o tempo e o tempo passa. E o que ninguém esperava aconteceu. Os dois garotos assumiram o cargo de líder dos seus países. E decidiram que o mundo eles iriam dominar. Começou então uma corrida armamentista. E bombas atômicas começaram a fabricar.

E um dia seus caminhos se cruzaram. E pontos de vistas diferentes eles tinham. E o poder mundial, ambos desejavam. E por isto um alto preço a Terra ia pagar. E como nenhum deles cedia, bombas atômicas começaram a soltar. E o mundo ao caos retrocedia. E sua linda forma começava a se apagar. E a última bomba partiu a Terra ao meio, desmanchando metade e só a outra restando. Não é preciso mencionar que não houve vencedores, só vencidos.

E quem lhes conta esta triste história, somos nós, baratinhas anônimas, que neste paraíso destruído vivemos a chorar. Lembrando quando aqui vivia a raça que se dizia humana. E contando isto nos abraçamos, para nunca esquecermos que o fim de tudo começou quando as famílias entraram em decadência, e os pais deixaram de, a seus filhos, educar.