O canto dos mudos
Prólogo (A fala)
Aquele era um mundo distinto, particularmente único em aspectos evolutivos. Suas criaturas evoluíram todas evoluíram a partir ancestral comum há muito, muito tempo atrás. Naquela época em que a primeiro ancestral comum evoluiu o ambiente em que aqueles seres viviam era muito diferente do que é hoje, o que impunha uma pressão evolutiva totalmente distinta e única a aqueles seres. Uma característica marcante naquele primeiro ancestral era que ele não possuía cordas vocais e não podia emitir qualquer tipo de som com seu corpo. Assim a primeira e mais marcante característica que estes seres desenvolveram refere-se a sua comunicação. Como se comunicariam uns com os outros se não podiam emitir sons?
Ninguém jamais saberá ao certo o que realmente aconteceu nesse evento pré-comunicativo de fato, mas especulam-se algumas hipóteses. A mais aceita diz que foi por curiosidade que um daqueles seres começou sem querer a emitir sons de forma indireta, através do que poderia se chamar de instrumento musical primitivo e como todos os outros seres já possuíam órgãos similares a um tímpano que utilizavam para ouvir o ambiente e se defender contra predadores eles ouviram aquele som e ficaram maravilhados se aglomerando ao redor deste empreendedor musical e também começaram a emitir sons utilizando aquele instrumento rústico primordial. Logo eles perceberam que aquilo poderia ser utilizado para chamar uns aos outros e estabeleceram assim a primeiro ato comunicação entre aqueles seres daquela espécie naquele planeta.
Assim com o tempo aquela espécie estabeleceu um sistema comunicativo todo baseado na altura de cada nota emitida por aquele instrumento.
Embora possa parecer banal, tal peripécia permitiu que eles se organizassem em grupos e formassem as primeiras comunidades colaborativas que se protegiam mutuamente, uma vez que antes viviam isolados e por isso eram mais vulneráveis a seus inimigos naturais.
Capitulo Único (A escrita)
Sgmal vivia uma vida isolada em uma caverna já que nunca havia aprendido a tocar nenhum instrumento e não podia se comunicar com os outros de sua tribo, uma vez que em sua tribo quem não aprendia a tocar um instrumento era escravizado.
Assim Sgmal, que pouco após seu nascimento havia diagnosticado por sua mãe como sem aptidão musical, uma vez que sua mãe aprendera a diagnosticar bebês sem aptidão musical através de um teste que havia sido passado de geração em geração em sua família até ela.
Vendo que aquele bebê nunca iria conseguir tocar nenhum instrumento ela preferiu abandona-lo em uma caverna provendo-o vez por outra ao vê-lo tornar um escravo Assim Sgmal cresceu protegido em uma caverna, tendo como companhia apenas o carinho de sua mãe.
Sgmal era o que entre os seres humanos chamamos de: “autista”. Assim ao invés de falar, ele desenvolveu sozinho um sistema complexo de desenhos onde cada som tinha um correspondente símbolo em um heptagrama.
Embora Sgmal se orgulhasse de seu inovador invento e imaginasse o quanto ele poderia ser útil tanto a ele como a seus iguais escravizados, sendo útil até para os seres normais.
Havia, porém, um obstáculo quase intransponível. Como ensinaria a sua mãe tal artifício se sua mãe não dava atenção a ao que ele tentava lhe indicar, se mesmo ao toda vez que ele a ouvia ela emitir uma nota ele sempre se punha a indicar no heptagrama a nota correspondente à aquele som e mesmo assim nunca havia conseguido que sua mãe notasse a relação entre os símbolos na parede da caverna e os sons que ela emitia. Sgmal se via cada dia mais frustrado e sem esperança.
Certo dia Jkol, um vizinho da mãe de Sgmal notou que ocasionalmente e muito discretamente em algumas manhãs ela sempre saia levando alguns mantimentos, e sempre voltava ao entardecer sem os mantimentos.
Para ele havia alguma coisa errada com ela. O que ela estaria escondendo?
Tão prontamente na primeira oportunidade ele se pôs a segui-la e acabou descobrindo, que, o que que ela escondesse, ela o escondia naquela caverna. Logo que ela abandonou a caverna rumo a tribo Jkol entrou na caverna e se deparou com Sgmal.
Embora seu primeiro impulso fosse o de denuncia-lo para que ele fosse escravizado ele se viu instigado e um pouco com pena pois ele também era quase fora escravizado por não ser um eximo tocador musical de modo que solfejava as notas muito lentamente e muitas vezes repetia as melodias como se fosse gago musicalmente, então ele decidiu tentar se comunicar com a garoto tocando seu instrumento e vendo sua reação.
Assim que Sgmal ouviu aquele som de Si bemol logo apontou na pauta de sete linhas a nota musical que correspondia aquele som, transcrevendo em pouco tempo a melodia que jkol solfejou em seu contato inicial.
De imediato Jkol não entendeu o que Sgmal tentava lhe comunicar sendo preciso várias e tensas tentativas em que tanto Sgmal quanto Jkol quase desistiram. Foi em um esforço de ambas as partes que eles finalmente começaram a se entender quando Jkol compreendeu que Sgmal compreendia os sons que ele emitia, notando que toda vez que ele tocava um dó Sgmal sempre apontava para a mesmo símbolo na mesma posição do heptagrama.
E como que para testar aquela teoria que confabulara em sua mente emitiu uma escala ascendente de três notas, com todas as notas a um intervalo de um tom e meio a partir da nota anterior partindo da nota dó.
Ele repetiu a mesma melodia algumas vezes prestando atenção a cada nota apontada por Sgmal. Então Jkol fez a mesma escala só que partindo de um Ré, ou seja, um tom acima da escala anterior e viu que Sgmal começou a nova escala com um símbolo uma linha acima da escala que ele havia tocado antes, confirmando a suspeita de Jkol. Logo os dois puderam se comunicar e tal inovação foi transmitida ao resto da tribo.
Assim aquele garoto pode enfim abandonar sua vida solitária na caverna e a tribo pode enfim registrar suas histórias musicais que antes eram passadas de instrumento em instrumento.