A escolha.
Fez a escolha, se tinha sido a certa, não saberia dizer. Fez a escolha movido pela curiosidade, movido sem pensar no que poderia lhe acontecer. A vida é uma aventura, costumava dizer. Ainda tinha muitos momentos pela frente até que fosse consignado a estar frente a frente com a porta e, no entanto, optou a enfrentar o que achava ser correto, se fosse seu destino ou não, quem haveria de lhe dizer.
Deslizando, meio que ligeiramente pela esteira, com os olhos presos aos pequenos detalhes os quais, muitos escapavam aos seus olhos, mesmo assim, não deixou de fixar no que lhe poderia acontecer.
Onde terminaria a esteira? Será que agira certo? Pequeno tremor percorreu a esteira. Logo em seguida percebeu que ela terminava e que ele cairia. Desesperado, tentou correr contra a esteira, mas perdeu o equilíbrio e caiu. Como última imagem que seus olhos guardaram na retina, foi um imenso caldeirão fumegante. Seu corpo afundou no líquido amarelo fervente se debatendo entre outros que ali estavam. Instante depois não mais se deixava boiar na borbulha do líquido amarelo.
No momento em que se ouviu um silvo longo e penetrante, o líquido parou de borbulhar e um gancho puxou-o pela perna levando-o para ser preparado para a feira semanal que acontecia na rua Dos Assados.
Lá estava ele entre outros, pendurado pelos ombros, onde se viam dois ganchos furando a pele, de braços abertos, peito e barriga totalmente cortados, sem os órgãos internos, os quais estavam depositados numa bacia embaixo dele. Se seus olhos vidrados fitando o vazio a sua frente, pudessem ver, veriam uma família primitiva, mulher homem e filhos, verificando a mercadoria.
- O que vamos levar? – disse o homem olhando para a esposa.
- O que você escolher. – respondeu a mulher meio que apressada.
- Posso escolher? – resmungou o menino apontando para ele.
- Claro – concordou o pai, chamando o vendedor.
- Pois não? – perguntou solicito o vendedor.
- Vamos levar esse.
Puxando-o pela perna, o arrancou com único safanão do gancho. Numa destreza impecável, cortou o corpo em três partes, jogando tudo dentro de um recipiente de plástico, tampou e entregou a família.
- Bom apetite. – disse o vendedor.
- Obrigado, bom serviço – disse ao sair levando numa das mãos o
corpo que logo seria devorado num belo e delicioso banquete familiar.