A proposta de Byrd

Quando Leon Byrd desembarcou de um transporte da Frota Estelar Solariana em Barlow-IV, um planeta próximo à fronteira com o Império Maa'tik, sua superiora hierárquica, Brianna Hamilton, já o aguardava em seu gabinete de trabalho na Chancelaria.

- Fez boa viagem? - Indagou ela protocolarmente.

- Foi rápida - declarou Byrd, entregando-lhe um cubo de dados com as informações e o relatório que escrevera durante o trajeto pelo hiperespaço até o planeta.

Brianna Hamilton colocou o cubo num leitor holográfico, e uma projeção tridimensional surgiu entre os dois, suspensa no ar.

- São os planos da frota de exploração extragalática? - Indagou, apenas para confirmar.

- Sim, e isso não é exatamente um segredo, como a senhora sabe - redarguiu Byrd. - O "segredo" é o papel que Amleset desempenhou no desenvolvimento da mesma; e eu digo "segredo" entre aspas, porque os maa'tik nunca se preocuparam em escondê-la.

- Diferentemente do que nós, humanos, teríamos feito - ponderou a diplomata. - Mas eles sabem que teríamos todo o interesse em repatriar Amleset... depois de descobrirmos do que ela é capaz.

Byrd assentiu.

- Talvez seja exatamente por isso que tenham dado ampla publicidade ao trabalho dela. É como se dissessem: "veja, Amleset, seu povo nunca se importou com você... até que descobriram que poderia ser útil para eles".

Brianna Hamilton mordeu o lábio inferior.

- O certo é que ela só teria a lucrar vindo para o nosso lado... o lado dela.

- O que, em outras palavras, vem ao encontro do que acabei de dizer, senhora - replicou Byrd. - Nunca nos importamos muito com estes náufragos recolhidos pelos maa'tik, e até achamos uma boa solução que tenham sido "adotados" pelos insetoides, pois nos eximia da obrigação de repatriá-los. E agora, anos depois, eles têm uma dívida de gratidão para com o império e nada querem conosco.

A diplomata acelerou a exibição dos arquivos do relatório e parou numa imagem de Amleset, uma jovem de pele escura e longos cabelos encaracolados, com duas tranças pendendo nas laterais da cabeça, no estilo dos humanos que trabalhavam a serviço dos maa'tik. Ela estava com a versão humana do uniforme cinzento da frota imperial, e usava as divisas que a identificavam como uma oficial júnior.

- Você antecipou que Fitsum, o Adido para Assuntos Humanos em Ta'lythara-III havia concordado com nossos pedidos, sobre pacientes em estado terminal... - comentou ela, olhando pensativamente para a imagem tridimensional da jovem.

- Em parte, senhora - disse Byrd. - Não vão nos permitir levar de volta os pacientes que forem submetidos à "cura" por Amleset... eles também deverão concordar em se tornar cidadãos do império.

- Os maa'tik são ardilosos - ponderou a diplomata.

- Creio que foram obrigados a se tornarem, por nossa causa - admitiu Byrd. - Já lhes demos demonstrações, em outras oportunidades, de que não éramos plenamente confiáveis.

Brianna Hamilton ergueu as sobrancelhas.

- Às vezes me pergunto de que lado você está, Byrd. Parece que passa tanto tempo entre os maa'tik que pode já estar se considerando um dos humanos que trabalham para eles...

Byrd deu uma risadinha irônica.

- Vou considerar o seu comentário como um elogio, senhora - respondeu. - Ocorre que eu já estava prevendo que tomariam essa atitude... justamente porque, como disse, passo muito tempo com eles. E tenho a lhe propor uma ideia, para transformar esse revés em ganho.

- Bom, agora estamos falando a mesma língua - aprovou a diplomata. - Sou toda ouvidos.

- Na verdade, não vamos mandar ninguém com doença terminal para sessões de cura... teremos voluntários perfeitamente saudáveis, prontos a se infiltrar na colônia humana dos maa'tik e nos manter atualizados sobre a vida de Amleset.

Brianna Hamilton balançou a cabeça em concordância.

- Então, a ideia sempre foi essa... infiltrar espiões no coração do império?

Byrd assentiu.

- Mas há um outro aspecto que poderemos explorar, e sobre o qual os maa'tik não impuseram nenhuma restrição: os mortos. Não nos disseram que não poderemos repatriar quem eventualmente morrer durante uma dessas sessões de cura.

A diplomata franziu a testa.

- Alguém vai se voluntariar para morrer numa suposta sessão de cura?

- Eu não estou falando de pessoas, senhora - corrigiu-a Byrd. - Vamos utilizar sintéticos.