Chove na Terra
Ele achou a chuva fascinante, embora desagradável. Quando conseguimos nos abrigar sob uma marquise, comentou:
- Sem querer parecer estúpido, não pensei que a chuva fosse tão... molhada!
- Onde você nasceu, imagino que nunca puderam experimentar a sensação real da coisa.
A fiação entretecida nas fibras das nossas roupas começou a secar automaticamente o tecido. Ele fez um gesto afirmativo.
- Há simulações de chuva em ambientes abertos, é verdade, até mesmo com vento e um spray de água caindo por cima para aumentar a realidade, mas eu não estava preparado para... isso!
E apontou para o céu escuro cortado por relâmpagos, onde a chuva vinha em ondas empurrada pela ventania.
- Você provou a chuva de laboratório, aqui é a coisa real - redargui. - E o real é sempre bem caótico...
- Bem, quando voltar para casa, vou poder dizer que sobrevivi à uma tempestade na Terra - afirmou com orgulho.
- Está mais para uma chuva de verão - corrigi. - Já deve estar passando, inclusive.
Mais dez minutos e o tempo começou a abrir. O sol reapareceu, enquanto a chuva, agora mais fraca, ainda caía. Finalmente, um arco-íris surgiu entre as nuvens.
- É absolutamente maravilhoso! - Exclamou ele, empolgado.
- Imagino que a sua simulação não deve ter arco-íris - observei.
- Não, não - reconheceu, extasiado.
- Ainda há algumas vantagens em viver na Terra, - avaliei - mas a longo prazo, o futuro pertence à Marte.
Ele me encarou, surpreso.
- Você realmente acredita nisso?
- Claro que acredito - afirmei. - Mais alguns bilhões de anos e o Sol vai virar uma gigante vermelha. Até lá, é melhor que já tenhamos acabado de terraformar Marte...
Só então ele percebeu que eu estava fazendo blague.
- [02-11-2020]