FIM DE TUDO - ESPERANÇA
 
O Conselho fora reunido às pressas. Os membros mal tiveram tempo para entender direito o relatório feito por J'Hy.

Uma decisão precisava ser tomada. Os grupos chegaram na Câmara e tomaram seus assentos.

Quando todos já ocupavam os seus lugares, os guardiões avisaram da chegada da Matriarca.

O burburinho que tomava a sala se calou. Todos se levantaram na presença da Excelentíssima Matriarca, A mãe de todos, A toda sábia. A sua direita, vinha J'Hy, carregando consigo o temido relatório.

Depois da saudação inicial e de todos se sentarem, a Matriarca iniciou sua fala:

— Hoje não estamos juntos apenas para definir o destino da nossa raça. Estamos aqui para decidir o destino do nosso Universo, ou do que sobrou dele — por um instante seu olhar se tornou vazio como o buraco negro que engolia a noite. Após uma leve pausa, continuou.

— O relatório encaminhado para vocês, embora complexo e cheio de detalhes, traz uma constatação simples e imperativa: o colapso total do nosso Universo ocorrerá ainda em nossa geração. Precisamos definir o que fazer. Alguma proposta?

Após mais alguns momentos de ponderações entre os membros do Conselho, os líderes de cada grupo se organizaram para fazer as suas considerações no plenário:

— Nós, dos Restauradores, votamos por aumentar igualmente e gradativamente os campos antigravitacionais das Estrelas Pilares. O campo repulsivo gerado deverá ser o suficiente para ganharmos tempo. — disse Vik’Thor.

— Nós, dos Mantenedores, votamos por construímos novas Estrelas Pilares, usando a conversão de matéria e energia disponível no Meio entre Universos — falou Tiss’Aal.

— Como essa não é uma questão militar, a princípio, nós, das Forças Armadas Imperiais, nos abstemos de votar. Vamos aguardar novos elementos — proferiu Fen’Ix, uma figura lendária, renomado pensador, político e militar, mas que ultimamente andava apagado, dizia que a ciência e política já não eram mais as mesmas desde a construção das doze Estrelas Pilares, o último grande feito daquela civilização.

— Nós, dos Renovadores, votamos por construímos uma Estrela Salvadora. Pretendemos usá-la como arca e migrarmos para outro universo. O colapso total desse universo é inevitável. Digo mais uma vez, ou saímos dele ou morreremos todos com ele. Não há salvação aqui!

Após a fala inflamada de Apokalip’Ttum, a Câmara toda foi tomada por uma grande algazarra.

A Matriarca pediu ordem, e os ânimos foram se acalmando, até que ela complementou:

— Vocês todos estão cientes de que qualquer alteração estrutural que façamos poderá acelerar e até mesmo desencadear o Grande Colapso? Saibam que qualquer ação que envolva captar matéria e energia do Meio entre os Universos poderá piorar o quadro.

Uma multidão de opiniões e declarações conflitantes ecoavam pelo salão novamente.

— Então, estamos todos de mãos atadas! — suplicou Vik’Thor. — até mesmo o funcionamento das Estrelas Pilares é baseado nisso!

A Matriarca novamente pediu ordem e falou:

— É por isso que precisamos de outra solução inovadora. J’Hy. Qual é o seu posicionamento?

— Boa noite a todos. Sou Chefe da Divisão Imperial de Ciência Avançada, que fez inúmeros testes e leituras tanto do buraco negro que fica no centro do nosso universo quanto das bordas externas. Nenhuma sonda jamais conseguiu cruzar esses limites, mas fizemos descobertas interessantes. O buraco negro não só engole matéria e energia. Ele emana um tipo muito sutil de radiação, mas que também é conversível em matéria, e que pode ser usada. Aparentemente, ela não vem do Meio Entre Universos, pois tem natureza distinta.

Todos se calaram. Aguardando o final da explicação.

— Poderíamos usar tal energia para criar uma Estrela Pilar Especial. Mas seria apenas um teste.

— Um teste que poderá custar a existência de todos aqui presentes! — Protestou Vik’Thor.

— Poderíamos usar essa tecnologia diretamente na borda do buraco negro e construir um Estrela Salvadora para sairmos desse universo? — Os olhos de Apokalip’Ttum brilhavam.

— Sim … — mal J’Hy respondeu quando foi interpelado por outro questionamento.

— Poderíamos usar essa tecnologia para criar uma Estrela Restauradora e reexpandir o nosso Universo? — interrompeu Fen’Ix.

J’Hy ficou paralisado por um instante. O silêncio tomou conta do recinto, aguardando as palavras dele. Após alguns segundos refletindo ele falou:

— Ambas as hipóteses são viáveis. Porém, qualquer que seja o uso dessa Estrela, o nosso Universo não será mais o mesmo. Temos um projeto de conversor que já se mostrou aplicável, basta ver se conseguiria trabalhar numa escala grande o suficiente para dar conta da empreitada a tempo. Contudo, será necessária uma enorme quantidade de energia acumulada para ambas as tarefas.

Gritos e uivos de júbilo ecoavam pelas Câmaras do Conselho. A Matriarca estava um pouco mais tranquila, pois imaginava que, com os ânimos acirrados, pudesse eclodir dali mesmo um conflito que separasse ainda mais seu povo.

— Bem. Pelo que notei, vamos primeiro votar sobre a construção ou não da Estrela da Esperança. Depois, quando verificada a possibilidade de seu uso, votaremos o que for mais viável, a migração para outro universo ou a expansão desse.

Após bater o martelo, ela iniciou a votação:

— Os membros do conselho podem votar e embasar o seu voto, se acharem conveniente — e, batendo o martelo novamente declarou — Está iniciada a votação:

Tiss’Aal subiu ao pleito e declarou:

— Nós, dos Mantenedores, rejeitamos a ideia dessa construção mirabolante. A tecnologia das Estrelas Pilares já bem conhecida e documentada. Uma inovação dessas, sem o devido conhecimento, poderá desencadear nossa derrocada! Uma solução mais tradicional, de aumento da capacidade das Estrelas Pilares ou mesmo construção de novas nos é mais aprazível.

Após se retirar, Apokalip’Ttum tomou seu lugar e falou:

— Nós, dos Renovadores, votamos não só pela construção da Estrela da Esperança como esperamos que ela nos liberte desse universo moribundo. Meu voto é sim!

Em seguida, Vik’Thor subiu ao palanque e disse:

— Em um momento inédito, nós, dos Restauradores, acompanhamos o voto dos Renovadores, mas divergimos da função da Estrela. Desejamos que ela seja usada para reexpandir o nosso Universo! Sim para a construção da Estrela.

Antes de dirigir ao púlpito, Fen’Ix questionou J’Hy mais uma vez:

— Prezado Chefe da Divisão Imperial de Ciência Avançada, antes de votar preciso saber de mais alguns detalhes: tal energia e tal Estrela seriam capazes nos defender e de atacar eventuais inimigos?

Aquela pergunta, a princípio, não fazia o menor sentido para ele, mas acabou respondendo que sim. Que, em teoria, seria possível, embora não fosse o objetivo original.

— Desde que tal Estrela seja capaz de defender o nosso povo de ameaças eventuais, voto pela sua construção!

Ao final da votação, a Matriarca determinou a Construção da Estrela da Esperança o mais rápido possível, sendo realizadas as adaptações apontadas pelas Forças Armadas Imperiais.

Após a votação, todos saíram festivos, a comemorar a tão sonhada solução para o destino final.

Vik’Thor se aproximou de Fen’Ix discretamente e perguntou:

— Marechal, por que o senhor fez tanta questão de colocar armas e estruturas defensivas na Estrela da Esperança? Não há mais inimigos externos, nosso povo está unificado à milênios. Não entendi essa sua exigência!

Fen’Ix se virou, com um sorriso confiante e disse:

— Meu caro, eu conheço nosso povo muito bem. Chegará um momento em que vocês me agradecerão por ter posto esses dispositivos na Estrela da Esperança…. Nome esse ridículo, mas que, em consideração A Mãe de Todos, vou ignorar. Seu nome deveria ser Estrela da Morte!

Sorriu um riso sarcástico e se evadiu, aproveitando-se da multidão que seguia em festa.

*Imagem créditos:  
VedranR

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Manassés Abreu
Enviado por Manassés Abreu em 18/07/2020
Reeditado em 24/07/2020
Código do texto: T7009176
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