SÃO JOÃO EM MARTE

Naquela tarde em que o céu de Marte caía sobre as cidades, centenas de carros de turistas seguiam, lentamente, em direção a festa do interior. Havia luar e balões suspensos pela estrada. As fogueiras na porta da cidade criavam uma cortina neblinada, e mulheres vestidas de chita ofereciam, aos homens de máscara, maças do amor. No milharal marciano, crianças brincavam de esconde-esconde, enquanto as mães colhiam caules imensos sob os raios de lua coados pela púrpura rosa vermelha, que brotava no céu. Os homens da casa se deliciavam nos caldeirões de chocolate meio amargo com gotas de uísque, e amendoins apimentados na mesa espelhada. Sentado no banco do jardim dos vaga-lumes, escutava cantorias sinuosas, silêncios e suspiros de pequenas mortes. Cem anos depois, um cineasta havia de gravar, num set de filmagens, esta cena de sonhos noturnos.

Ricardo Neto de Oliveira Mota
Enviado por Ricardo Neto de Oliveira Mota em 19/06/2020
Reeditado em 20/06/2020
Código do texto: T6982361
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