Uma solução final
Brogan voltou de sua expedição arqueológica à terceira lua de Haor, informando que obtivera um meio de eliminar completa e definitivamente todos os groels que ocupavam as melhores terras em Lilara.
- É uma arma de destruição em massa, construída pelos próprios antepassados dos groels! - Informara ele orgulhoso. - Funcionou tão bem, que apenas esses remanescentes selvagens em Lilara sobreviveram.
A Federação proibira os colonos de usar armas pesadas ou matar groels, exceto em legítima defesa; afinal, tecnicamente os nativos eram os herdeiros do planeta. Mas, percebendo que não tinham muito o que temer dos humanos, sempre apareciam para saquear as plantações, e por vezes, roubar gado. Brogan achou que, se não tinham ajuda da Federação, os próprios groels da antiguidade poderiam já ter encontrado uma solução para o problema da própria existência.
- Uma Solução Final! - Foi como Brogan a denominou, entre risos.
Brogan, dentre os colonos, era um dos poucos que se preocupara em tentar decifrar a antiga escrita ideográfica da desaparecida civilização groel, e eu acabara me envolvendo com seus esforços linguísticos, embora eles não tivessem qualquer objetivo verdadeiramente científico. A Federação talvez um dia mandasse um estudioso para fazer uma pesquisa de campo, mas a Galáxia é grande, e há muitas civilizações mortas mais interessantes para serem estudadas. Portanto, Brogan era nossa principal autoridade, num campo não reivindicado por mais ninguém.
E, foi imbuído desta autoridade, que ele finalmente nos apresentou a Máquina, no Centro de Convivência da colônia. Colocada sobre uma mesa, no centro do salão, parecia apenas uma grande caixa de material transparente, com tubos translúcidos erguendo-se da parte superior, que mudavam de cor suavemente.
- É necessário que todos os colonos estejam dentro do salão - informou ele. - A Máquina projeta um campo mortífero, a partir de trinta metros da sua localização, eliminando todas as formas de vida num raio de 5 km ao redor.
- E se algum groel escapar? - Indagou um dos fazendeiros.
- Aí, nós os caçaremos até o último - retrucou Brogan.
E na manhã do dia determinado, todos os humanos da colônia aglomeraram-se ao redor da Máquina no salão. Após certificar-se de que não faltara ninguém, Brogan foi empurrando para dentro da caixa, um a um, os tubos que emergiam dela. À medida que iam entrando no dispositivo, eles se apagavam. Finalmente, quando o último foi introduzido, um círculo azul brilhante surgiu em volta dos colonos.
- Funcionou! - Exultou Brogan.
Segundos depois, o círculo desapareceu. Todos olharam para Brogan, aguardando instruções.
- Temos que sair para ver se tudo correu conforme o esperado - alertou ele.
O colono que abriu as portas do salão, virou-se para trás e gritou, apreensivo:
- Ei, vocês precisam ver isso!
A primeira coisa que notamos, é que era noite, e que o céu estava estrelado. A segunda é que as montanhas à leste da colônia haviam desaparecido.
- O que houve Brogan? - Indaguei, pegando-o pelo braço.
Ele me olhou aturdido, antes de responder:
- Creio que cometi um erro de tradução... a Máquina, na verdade, não elimina as formas de vida num raio de 5 km. Ela simplesmente realoca tudo o que está dentro do raio especificado, para uma nova localização.
- E onde nós estamos? - Indagou um fazendeiro.
- Pela posição das estrelas, do outro lado do planeta - intuiu Brodan.
- Tivemos sorte da Máquina não nos ter jogado no meio do oceano - ponderei.
Depois de tomar conhecimento do acontecido, a Federação mandou imediatamente uma equipe de cientistas para o planeta. E nos proibiu formalmente de ter qualquer tipo de contato com os groels, que, afinal, terminaram por ficar mesmo com as melhores terras de Lilara.
- [17-04-2020]