Luz nas trevas

Ao entrarem no estacionamento, Jepp puxou Maren para baixo de um dos grandes veículos de superfície dos Antepassados, e desligou as lanternas, antes de sussurrar:

- Fique em silêncio, cara no chão, e olhos bem fechados!

Um facho de luz veio deslizando lentamente pelo corredor que haviam acabado de deixar, passando por entre as fileiras de veículos, enquanto o zumbido aumentava de intensidade. Depois de ir até o fim do estacionamento, o facho voltou pelo caminho contrário na fileira seguinte. Jepp puxou um objeto cilíndrico metálico da mochila e manteve pressionado um botão vermelho na lateral do mesmo; quando a luz estava a menos de cinco metros de distância deles, soltou o botão, e rolou o cilindro para o meio da passagem. Em seguida, cerrou os olhos com força e encostou o rosto no chão empoeirado. Cinco segundos depois, um clarão mais brilhante do que a luz do sol encheu o subterrâneo. O zumbido tornou-se errático, aumentando e diminuindo, enquanto o facho de luz dançava loucamente sobre os veículos estacionados.

- Vamos! - Sussurrou Jepp para Maren, ligando novamente sua lanterna. - O efeito não deve demorar muito.

Esgueiraram-se encurvados por entre os transportes, tomando o rumo do buraco por onde haviam entrado no estacionamento. Antes de saírem para a luz do dia, Maren ainda viu o facho de luz dançando loucamente na escuridão do subterrâneo.

- O que era aquilo? - Indagou ela assustada, quando tomaram distância da torre.

- Um Módulo de Vigilância - redarguiu Jepp. - É uma máquina voadora, construída para patrulhar edifícios civis. Alguns são equipados com armas de eletrochoque, que podem ser letais em determinadas circunstâncias. Teoricamente, não deveria haver mais nenhum em funcionamento, mas parece que este fabricante caprichou no modelo.

- E como você o afugentou?

- Uma granada de radiação eletromagnética. Originalmente, serviam para ofuscar soldados inimigos, mas também podem sobrecarregar sensores ópticos de máquinas como aquela do prédio. Cegueira temporária - explicou.

Maren pareceu fazer um esforço para concatenar as informações que acabara de receber.

- Aquilo era algum tipo de demônio que vivia nas trevas da Cidade Morta, e quando entramos lá, nós o despertamos - deduziu ela, encarando-o com admiração. - E aí, você o deixou cego, trazendo a luz do sol para dentro!

- É uma boa explicação - acedeu Jepp, dando de ombros. - Talvez possa usar esse relato no futuro, quando estiver contando histórias ao redor de uma fogueira...

No caminho de volta para o acampamento dos Yelocaah, passaram junto a carcaça de um drone blindado, meio encoberto pela vegetação, e Jepp chamou a atenção para ele.

- Vê este aparelho? O Módulo de Vigilância é parecido, porém menor. E, felizmente, não tem o armamento que essas coisas costumavam transportar.

- Se um desses aparecesse, você conseguiria pará-lo da mesma forma que fez no subterrâneo? - Questionou Maren, preocupada.

- Talvez sim - avaliou ele. - Mas prefiro não ter que testar a possibilidade.

[Continua]

- [10-04-2020]