Saga Novo Tempo -- O resgate - Cap. IX Lembranças
Eu estava muito inquieto. Já havia mais de 40 minutos que o presidente estava reunido com o Consórcio dentro do Bunker. Não conseguia sequer ficar sentado.
Pela primeira vez desde que descobrimos que o planeta iria ser destruído eu enxergava a possibilidade de salvar todos os habitantes, não só um pequena minoria.
Ao mesmo tempo um turbilhão de dúvidas, perguntas e temores à respeito dos nossos supostos salvadores.
Seriam mesmo bem intencionados como falam? Será que não estão atrás de escravos? E este império? Se fosse bom e perfeito como disseram não haveriam rebeldes separatistas.
Bom seja como for, o consórcio vai decidir se vamos com eles ou não.
E se decidirem não aceitar a ajuda? Enquanto todas as Bilhões de vidas humanas que deixaremos pra trás para serem exterminados pelo frio e pela fome e muito possivelmente serem destroçados junto do planeta... Eles têm direito de saber o que está acontecendo? De decidirem se vão com os Imperialistas ou se ficam para enfrentar a fúria cósmica do nosso Sol?
Novamente me vem a memória a frieza e a firmeza do meu pai nestas decisões difíceis... Se não fosse aquele acidente com o helicóptero ele ainda estaria à frente desta missão... Tenho certeza que ele saberia exatamente o que fazer...
Agora me vem à mente a imagem da Jane... Ela é sempre compreensiva e acertada nos conselhos que me dá... Saímos da sala de controle tão rapidamente que nem pude falar com ela... Deve estar fascinada com os nossos visitantes. Ela sempre me falou o quanto seria maravilhoso se encontrássemos outras raças inteligentes... No fundo ela sempre acreditou na existência de vida extraterrestre, e eu sempre brincava com ela que seriam lagartos gigantes que viriam nos devorar...
Agora me encontro rindo sozinho...
Como será a aparência deles? Serão várias raças convivendo juntas como vemos nos filmes de ficção? Como falam a nossa língua tão perfeitamente? E sua tecnologia? Pelo tamanho de sua nave e a distância que dizem ter percorrido devem estar milhares, talvez milhões de anos à nossa frente...
Ah... São tantas perguntas... A Jane me volta à mente... Ela sim deve estar se fazendo estas mesmas perguntas à respeito deles...
Passo a mão pelo comunicador preso no meu pulso... Vejo a aliança em meu dedo... A tanto tempo não temos um tempo só nosso, para passar como um casal normal... Será que um dia teremos uma vida normal? O que é uma vida normal? Já nem sei mais se posso dizer que existirá uma vida como conhecemos antes de tudo isso...
Minha mãe nunca quis vir pra cá... Também disse que não iria fazer parte da evacuação. Segundo ela meu pai não concordava com os métodos usados para escolher quem vai e quem fica... Ela prefere ficar aqui na Terra... Meu pai nunca deixou transparecer insatisfação com a missão, pelo contrário, sempre deu o melhor de si. Sem ele jamais estaríamos prontos a tempo...
Volto a pensar na Jane... Ela sempre se mostra muito forte, mas também deixa transparecer preocupação com a Doutora Cristina que também se recusa a seguir com a missão. Segundo ela, é muito velha, e não tem mais o que contribuir e só iria ocupar o lugar de alguém que realmente pode fazer a diferença... Não consigo entender... Ela assim como meu pai, também foi peça chave na descoberta do eminente desastre, e deu tanto por este projeto.
Eu e a Jane estamos convencidos de nosso papel fundamental na missão, mas se houvesse tempo de passarmos os planos, os detalhes, tudo para outras pessoas, também não iríamos...
Vou chamar ela, preciso saber o que acha de tudo isso...
Me assusto com o chamado no comunicador.
--Senhor?! --Era a voz do General Chan.
--Sim General. Na escuta.
--O presidente deixou o Bunker. Está indo em sua direção.
--Obrigado General. Estou aguardando.
Hora de saber se vamos ou não vamos embarcar na viagem com nossos visitantes...