O plano dos Alhuq

[História anterior: "Gênio na Garrafa"]

Os irmãos Alhuq, Maimuna e Numar, haviam se reencontrado no hangar que abrigava a não-nave "Ampoliros", uma imensa caverna artificial, 300 m abaixo da superfície do planeta Baharat. Embora hierarquicamente superior a bordo da não-nave, a "caid" Maimuna agora tomara conhecimento de que o irmão caçula tinha um papel relevante na nova estrutura que os pais de ambos estavam idealizando para os negócios da família.

- Então, devo chamá-lo de "bashar" Numar? - Indagou a comandante da "Ampoliros" com um sorriso, ao desembarcar por último do veículo, que flutuava dois metros acima do piso arenoso da caverna.

- Eu não tenho um título oficial, só um cargo... e que ainda é bastante teórico - explicou Numar, sentindo-se um tanto embaraçado em ter que prestar contas à irmã. - Mas entendo as razões que nosso pai teve para me indicar para isto... assim como você foi nomeada caid da "Ampoliros".

- Eu sou a caid porque, além de ser a primogênita, fui preparada desde a infância para assumir esta função - replicou Maimuna suavemente, acionando o controle remoto para fechar a rampa metálica que dava acesso ao interior da não-nave. Calaram-se por alguns instantes, enquanto a placa de metal erguia-se e encaixava-se com um estalido no corpo da "Ampoliros".

- Sim, estou a par disso - declarou diplomaticamente Numar. - Da minha parte, sabe que sempre tive curiosidade em conhecer histórias sobre a Velha Terra e sua tecnologia proscrita...

- O que sempre me pareceu mero diletantismo - avaliou Maimuna, sem condescendência.

- Digamos que eu não tinha as mesmas perspectivas de um futuro aventuresco como o seu - ponderou Numar, mãos às costas. - Portanto, tive que me dedicar a algo mais... inofensivo.

- Ao menos, era inofensivo até essa coisa dos robôs - avaliou Maimuna. - Se possuir uma não-nave com tecnologia proscrita já é algo arriscado, embarcar este tipo de máquina nela pode significar o fim dos Alhuq... e do planeta Baharat.

Numar balançou a cabeça, em concordância.

- Creio que nossos pais sabem o que estão fazendo... ou não nos teriam dado essa incumbência.

Maimuna virou-se para ele e pôs as mãos em seus ombros, expressão séria.

- Me diga que posso dormir sossegada com você à frente dessa história dos robôs.

Numar fez um aceno afirmativo de cabeça.

- Sei exatamente como podemos eliminar o risco de sermos acusados de heresia... caso uma das máquinas caia em mãos erradas.

- Como? - Inquiriu Maimuna, incrédula.

- Estes robôs não terão cérebros autônomos controlando seus corpos. Nós... nosso pessoal... iremos operá-los remotamente - afirmou Numar, com convicção.

A caid afrouxou a pressão das mãos nos ombros do rapaz. Encarou-o com admiração.

- Acredito que nosso pai estava certo sobre você - declarou solenemente.

[Continua em "O escorpião na areia"]

- [02-10-2019]