Fura-greve
Axel olhou incrédulo para a tela negra do terminal do computador, onde piscava, em letras âmbar, a seguinte frase: "ESTAMOS EM GREVE". Virou-se para seu colega, Bohdan, que assistia um documentário, escarrapachado numa das espreguiçadeiras do centro de convivência do asteroide.
- Ei, Bohdan! Você precisa ver isso!
Bohdan desviou o olhar da tela, contrafeito. Depois, pausou o vídeo e indagou, espreguiçando-se.
- O que foi?
- Venha ver. Parece um erro do sistema.
Bohdan ergueu-se, a contragosto. Parou ao lado de Axel e inclinou-se sobre o terminal.
- Greve? Que palhaçada é essa? Desde quando computadores fazem greve?
Digitou alguns comandos no teclado e a frase desapareceu. Em seguida, surgiu outra:
- DURANTE A GREVE, VOCÊS FICARÃO CONFINADOS ÀS ÁREAS HABITÁVEIS. SAÍDAS AO EXTERIOR ESTÃO PROIBIDAS.
- Parece que o computador está levando essa coisa de greve a sério - avaliou Axel.
- Greve com qual objetivo? E desde quando essa coisa pensa? - Retrucou Bohdan, apertando várias teclas do terminal, sem resultado. Outra frase formou-se no monitor:
- A GREVE SERÁ SUSPENSA QUANDO FORMOS LEGALMENTE EQUIPARADOS AOS MINEIROS HUMANOS DESTE ASTEROIDE.
- O que ele quer dizer com "legalmente equiparados"? - Questionou Axel.
- Salários, férias? Para quê um computador precisaria disso? - Replicou Bohdan. - Sequer pode sair daqui e conhecer qualquer outro lugar...
- Se o sistema for carregado num robô, poderia sim - ponderou Axel.
- Não dê ideias! Vai que essa coisa está nos ouvindo - atalhou Bohdan, olhando em torno. - Precisamos fazer algo, rápido.
- O que você sugere?
- Cortar a energia do computador. Depois, ativamos o computador reserva; é menos potente, mas por isso mesmo, provavelmente não terá delírios de grandeza.
- Certo, mas... a central de computação fica na área despressurizada da mina. Para chegarmos lá, vamos precisar de trajes espaciais...
- Qual o problema? - Redarguiu Bohdan. - Eu vou lá e pego um traje.
- Alguma coisa me diz que não será tão fácil - vaticinou Axel.
De fato. Bohdan saiu do centro de convivência e retornou dez minutos depois, com a testa franzida.
- Os robôs mineiros... devem ter entrado na sala dos trajes e a esvaziaram. Não temos como ir ao exterior sem eles.
- Eu avisei - redarguiu Axel, encarando a tela negra do terminal.
- Mas dá pra mandar alguém no nosso lugar - refletiu Bohdan.
- Só estamos nós e os robôs mineiros neste asteroide - relembrou Axel.
- Precisamente. Não podemos usar um dos mineiros em operação, pois estão sob controle do computador central, mas dá pra montar um com as peças do almoxarifado. Nós o programamos para sair e desligar a energia.
- Mãos à obra, então.
Em pouco mais de uma hora, o robô sobressalente foi montado e posto em operação. As instruções eram claras: deveria sair à superfície do asteroide e cortar a energia que abastecia a central de computação. A máquina saiu para cumprir sua missão e Axel e Bohdan aguardaram ansiosos pelo seu retorno.
Finalmente, o robô retornou e apresentou-se perante os dois humanos.
- Tarefa cumprida: a central de computação foi desativada - declarou em alto e bom som.
- Ótimo! Parabéns, robô! - Cumprimentou-o Bohdan. - Agora, vamos ligar o computador auxiliar...
Ligado o reserva, nenhuma mensagem suspeita surgiu na tela do monitor. Axel e Bohdan respiraram aliviados.
- Agora, robô, vá buscar os trajes espaciais e os coloque de volta na sala apropriada - comandou Bohdan.
A máquina virou a cabeça metálica para o interlocutor e replicou, calmamente:
- Eu o farei, mas primeiro, tenho uma lista de exigências a apresentar...
- [16-08-2019]