A Grande Operação

Eram seis da manhã de uma segunda-feira, e a população daquele país latino-americano preparava-se para suas atividades cotidianas - trabalho, estudo etc - quando os alienígenas chegaram com suas naves imensas e começaram a desembarcar tropas e blindados em pontos-chave das principais cidades, sem encontrar qualquer resistência. Instalou-se o pânico generalizado, e quem podia, fugiu para bem longe dos invasores. Os alienígenas, que eram humanoides, vestidos com armaduras negras e usando capacetes com visores alaranjados que não permitiam lhes enxergar as feições, pareciam acompanhar sem muito interesse o caos que haviam provocado; finalmente, vendo que não davam sinal de querer partir, o governo central enviou uma delegação para conversar com as tropas aquarteladas numa praça, tentar descobrir o que era toda aquela movimentação. O líder da delegação, um célebre linguista, foi acompanhado por uma secretária do Ministério da Defesa.

- Mas por que eu? - Indagara a pobre mulher.

- Oficialmente, você vai representar o governo - disseram-lhe. - Veja se consegue lhes dizer, através do intérprete, que somos pacíficos e vamos colaborar.

- Mas e se o intérprete não souber a língua deles? Vieram do espaço! - Arguiu a secretária.

- Você sempre foi muito competente em dar desculpas para a imprensa, faça o seu trabalho - ordenou-lhe o presidente.

E lá foram os dois caminhando lentamente rumo aos alienígenas, que estavam dispostos em torno de um blindado de aparência estranha, com dois canhões espiralados na frente. O poliglota levava uma bandeira branca, a qual, esperava, fosse reconhecida como tal pelos invasores.

- Viemos em paz! - Declarou, parando a alguns metros do grupo e erguendo a mão direita espalmada.

Um dos alienígenas virou-se para o companheiro ao seu lado, e comentou, no idioma local:

- É aquele gesto da placa da sonda espacial... quer dizer que estão desarmados.

- Venham cá - ordenou o alienígena para os emissários.

A dupla aproximou-se, perplexa.

- Vocês falam o nosso idioma? - Indagou a secretária.

- Claro que falamos - replicou o alienígena que os chamara. - Não íamos vir sem saber tudo o que fosse importante para o cumprimento da nossa missão.

- Eu sou a representante do governo deste país, e gostaríamos de saber como poderemos ajudar para que cumpram a sua missão... pacificamente - arguiu a secretária.

- Isso é ótimo, porque não queremos explodir nada nem matar ninguém desnecessariamente - comentou o alienígena em tom casual. - Fazemos o nosso trabalho e partimos, para que vocês retomem suas atividades normais o mais rápido possível.

- Sendo assim, o que querem de nós? - Inquiriu a secretária.

- Cada um dos nossos destacamentos, possui uma lista de pessoas que devem ser entregues a nós, em 24 h. Caso isso não ocorra, usaremos de força letal, tanta quanta for necessário. Não nos responsabilizamos pela morte de inocentes e destruição de propriedades.

- Mas... querem que entreguemos nossos concidadãos... para quê? - A secretária estava surpresa.

- Eles não são seus concidadãos - retrucou o alienígena. - São membros do nosso povo que alteraram sua aparência para se fazer passar por habitantes da Terra. São facínoras procurados, meliantes. Devemos levá-los de volta para serem julgados e, em muitos casos, executados por seus crimes.

Tirou uma folha prateada de um escaninho da armadura e a entregou à secretária.

- Essa é a lista completa; faça com que seu governo a cumpra. Cada um dos citados deverá ser entregue a qualquer um dos nossos destacamentos, em 24 h. E, lembre-se: se não nos entregarem todos, haverá retaliações.

A secretária leu a lista com os olhos arregalados.

- Todos esse são... alienígenas disfarçados? Têm gente muito conhecida aqui... líderes religiosos, políticos, banqueiros, empresários...

- Vocês são fáceis de enganar - redarguiu o alienígena com uma risadinha seca.

- Eu vou convencer o meu governo - disse a secretária, decidida.

- Faça isso - assentiu o alienígena.

A secretária estendeu a mão para ele.

- Sabe o que significa esse gesto? - Indagou.

- Negócio fechado?

- Nesse caso, não - explicou ela. - É um muito obrigado.

- [22-06-2019]