Revelação

Não foi uma viagem longa, apenas alguns minutos para escapar da atmosfera. Após uma velocidade de aproximadamente 28.440 km/h a cápsula finalmente entrou em órbita do pequeno planeta.

Era a primeira vez que um artefato deixava a atmosfera do planeta. Mais de cem longos anos de pesquisa e experimentação foram necessários para tornar possível essa curta viagem.

Durante a existência de Aldor sempre se considerou que este fosse um mundo plano. Todas as religiões sempre apregoaram isso e seus habitantes acreditavam nessa premissa como uma verdade suprema.

Com o passar dos anos e o desenvolvimento da ciência aos poucos tais ideias foram sendo deixadas para trás. Bastava olhar por um simples telescópio doméstico para ver que todas as estrelas possuíam uma forma arredondada. Por que Aldor seria diferente dos demais corpos celestes? E o mais importante: um levantar de cabeça em uma noite estrelada e qualquer um perceberia a beleza prateada e esférica de Aldebaran, o minúsculo satélite que circundava Aldor. Sim, o mundo com certeza era redondo.

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Dentro da nave um solitário, amedrontado e ansioso astronauta fazia as últimas checagens em seu painel de instrumentos enquanto aguardava a ordem de abrir a escotilha.

Após um breve momento de hesitação, em que mil coisas passaram por sua cabeça, este finalmente abriu uma pequena escotilha de formato oval.

Inicialmente seus olhos ficaram maravilhados com o espetáculo de luzes que as miríades de estrelas proporcionavam. Um encantamento indizível tomou conta de si diante do que a natureza lhe oferecia.

Tudo durou uns poucos segundos, pois logo ele lançou um olhar para baixo e viu aquilo que nunca nenhum aldoriano jamais havia visto: o seu mundo avistado do espaço.

Uma profunda decepção tomou-o. Ele não estava preparado para o que seus olhos mostravam e os instrumentos de bordo registravam: Aldor era plano.

Surpreso com tal constatação ele não conseguia sequer formular um pensamento coerente que lhe propiciasse entender aquilo que seus sentidos mostravam. Lá estava Aldor com seus três grandes continentes cortado por vários oceanos. Ao fim de uma borda plana encontrava-se uma muralha de gelo referente aos dois polos do planeta.

O que mais chamou a atenção do assustado astronauta, deixando-o de boca aberta, foi a constatação de que seu planeta, além de plano, era sustentado por dois grandes felinos que aparentavam serem feitos de um material parecido com granito.... Exatamente como sempre foi dito pelas escrituras sagradas das mais variadas religiões.

Uma tristeza imensa assolou o espírito do astronauta. Ele achou seu mundo feio e muito diferente dos outros planetas. O que fazer com as centenas de evidências que apontavam para a esfericidade de Aldor ? Seu planeta tinha estações climáticas bem definidas e isso era uma prova mais do que condizente sobre o quanto o planeta era redondo.

Uma pergunta de imediato assomou-lhe: toda a ciência teria que ser mudada porque suas leis não se aplicavam ao funcionamento do pequeno planeta?

O astronauta olhou mais uma vez para o seu dissonante mundo e concluiu que algo além da compreensão havia decidido que aquele planeta destoaria de todos os outros.

Ainda com o pensamento vagando de um lado a outro voltou-se para o painel de instrumentos de sua nave. Lá embaixo, pensou ele, devia estar um alvoroço imenso com as informações e fotos enviadas.

Lançou um último olhar para o planeta e decidiu que era hora de fazer contato radiofônico com sua base lançadora.

Fora da pequena nave um mundo plano flutuava perdido na imensidão de um universo de corpos celestes arredondados.

Jota Alves
Enviado por Jota Alves em 20/06/2019
Reeditado em 24/06/2019
Código do texto: T6677734
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