REALIDADE ALTERNATIVA

Planeta Maggestine em algum lugar na constelação de Orion...

Zênio deu mais uma mordiscada em seu lanche artificial sabor hambúrguer e sugou mais um gole de um suco verde, sem sabor.

Na verdade nem reparou que a luz havia acabado e cortado a internet, deitado num sofá bege, velho e sôfrego ele gritou:

-Mãe, o que houve com a internet?

Sua mãe já cansada fazia um café e respondeu quase sem querer:

-Eu realmente não sei, mas a luz acabou, você não viu?

Zênio olhou ao redor, sua cortina azul desbotada esvoaçava com o vento ele gritou:

-Ué Mãe, que diabos é isso?

A mãe apenas observou o filho, já com 23 anos despojado no sofá como um velho caquétipo, a vida não corria para ele já de forma usual, pois seu tempo e energias eram gastos apenas com acessos infinitos a internet, jogos etc.

Apesar de já adulto, Zênio parecia desconhecer certas coisas essenciais da vida. Sua mãe voltou a dizer:

-Filho, nossa luz foi cortada hoje!

Ele ergue-se sobressaltado:

-Foi cortada? Como assim, porque?

-Porque não pude pagar!

-Oras, mas porque não pôde?

-Porque estou desempregada filho, e tudo tem custo, ou comemos ou ficamos com energia...

-Sem energia e sem internet ora essas!- retrucou ele

-Filho quantas vezes lhe falei para estudar, fazer cursos e se preparar pra vida, mas você nunca me ouviu, veja agora como estão as coisas... A mãe passou a chorar, Zênio deu-lhe as costas e foi para o sofá com uma idéia maquinando na cabeça:

-É claro, vou roubar o sinal do Vangledson, isso é fácil!

Após conseguir seu intento deitou-se novamente e começou a navegar.

No meio da madrugada ainda no sofá ouviu um grito abafado, mas não deu atenção pois seu jogo estava no final, outro grito agora mais fraco, mas o jogo não poderia esperar, afinal o que seria aquilo? Talvez alguém arfando na rua, um bêbado ou drogado, um quem sabe uma briga de gatos.

Zênio concluiu seu jogo eram 4:29 da manhã, cochilou... A fome apareceu e foi até a cozinha, havia apenas uma vela acesa, mas alguém estava caído no chão! Correu reconhecendo a pessoa, era sua mãe.

Tentou reanima-la, mas sem sucesso, já estava morta.

Zênio ouviu seu celular emitir um som por falta de energia, atordoado não sabia o que fazer, correu até a avenida e chamou a polícia.

Nos dias que se seguiram Zênio sentia seu mundo virar, jamais concebera a idéia de perder sua mãe, aquilo estava sendo deveras muito difícil, passou por privações que antes jamais sonhara, a comida estava acabando, pouca coisa sua mãe lhe deixara. Foi então que caiu em sí, do tempo que perdera em sua vida. Numa noite quando passava por um bar de esquina resolveu ver a TV, um noticiário dizia que estavam recrutando jovens para uma viajem intergaláctica, mesmo sem experiências. Ele anotou o endereço e no dia seguinte enviou uma carta.

Dias extenuantes se seguiram, a comida acabou, cortaram a agua e o telefone, nem mesmo vela ele tinha para acender a noite, havia recarregado seu celular na prefeitura, havia internet que ele hackeou do vizinho, mas ele não se interessou, como não havia nada, bebeu agua pois ouvira que agua matava a fome.

Na manhã seguinte uma carta chegou:

Instituto Nacional de Astrofísica e Espaço

Leu a carta rapidamente, ele fora convocado para o teste, nela havia um bilhete metálico.

Na dúvida se era um equívoco ou sorte, Zênio vendeu seu celular e conseguiu o dinheiro para viagem, no caminho mensurava sobre tudo que passou, se a vida desse outra chance seria tudo diferente.

Entrementes, horas depois chegou ao Instituto, falou com o recepcionista que lhe orientou.

O lugar era imenso, decerto que nem acreditara que existisse algo tão complexo, ainda encantado com o local foi abordado por um homem vestido com uniforme laranja:

-O que faz aqui rapaz?

-B-bem, eu fui chamado para o concurso, meu nome é Zênio, prazer!

-Ah sim, fique a vontade! Qual o numero do protocolo?

...

Zênio entregou um bilhete metálico e foi conduzido a uma antecâmera onde outros dois jovens estavam, ouviu-se um burburinho dentro da sala, alguém disse:

-Vamos lá, eles estão todos aqui!

Após apresentações, os três foram levados a um elevador estranho que parecia blindado, começaram a descer, Zênio disse:

-Senhor em que consiste esse concurso?

-Bem, são testes de resistência, visão e noção de tempo e espaço...

-Noção de tempo? Como assim?

-Bem meu jovem, vocês foram premiados para participar de um experimento de ultima geração, a Realidade Alternativa.

-Realidade alternativa? O que é isso?

-Bem meu jovem, vocês serão colocados numa máquina na qual poderão ver varias partes do Universo e até Universos paralelos se houverem, na verdade é isso que mais importa, descobrir se existem os Universos paralelos! Bem, nós vamos monitorar tudo e filmar, somente vocês serão nossos voluntários entende?

-Entendo, mas porque nós e não robôs?

O homem ficou sem palavras e os outros entremearam a conversa, logo chegaram. Zênio observava ao redor, alí havia um imenso complexo, logo foram conduzidos a algo que parecia uma câmera, as paredes eram de algum tipo de metal e com cerca de 20 cm de espessura!

-Vamos, entrem! - disse um homem alto e forte

Os três entraram e se colocaram em poltronas, um capacete com visor de tela verde foi colocado em cada um, Zênio disse:

-Onde estamos senhores?

-Bem, estamos há 60 metros abaixo da superfície, nosso acelerador de partículas passa aqui por esta câmera... Nesse momento os três que estavam sentados sentiram braceletes os prenderem nas poltronas, Zênio gritou: -Seus mentirosos, o que vão fazer conosco?

-Nada demais, aliás vocês não se perguntaram porque foram "escolhidos"? Hum, mas eu explico, vocês tiveram uma vida bem parecida, não estudaram nem se formaram em nada e não tem mais familiares, então quem vai sentir vossas faltas?

-Está nos chamado de inúteis seu verme?- disse um deles

-Não é pra tanto, vamos aproveitar seu nervo óptico são únicos, nenhuma engenharia genética se compara a ele! Depois que copiarmos todo proto plasma da realidade alternativa, soltaremos vocês, só não sei se vão encontrar o caminho de casa... (risos)

Um dos homens que estavam com ele ordenou que todos saíssem, a sala foi fechada e sua parte interna começou a girar ao mesmo tempo que uma luz opaca se propagava de modo pulsante, Zênio tentava soltar-se sem sucesso enquanto uma outra luz brilhante pulsava na sala, o tempo passou rápido e nesse ínterim Zênio percebeu que tudo havia parado, só visualizava agora um lugar escuro sem nenhuma luz.

Os olhos pareciam perturbados com aquela escuridão sem precedentes, uma espécie de desespero começou a se propalar entre eles, mas algo aconteceu...

Imagens difusas começaram a se formar, eram galáxias, estrelas e até pulsares gigantescos que giravam em velocidade alucinante, minutos depois imagens diferentes surgiram e eles pareceram entrar em uma delas. Zênio observava atentamente cada detalhe, era como se ele estivesse alí, os outros não estavam pois haviam caído em realidades diferentes, era um lugar lindo, ao que parecia num planeta singular de rara beleza, do lado de fora podia se ver a vegetação, flores, borboletas, arvores frondosas, cachoeiras, pássaros coisas que já não existiam em seu tempo, pois tudo era de origem artificial. De repente outra realidade apresentou-se e ele estava agora num apartamento, ouviu um barulho no quarto a frente, havia ali um jovem com um aparelho na mão onde deleitava-se com as imagens que via, ele assustou-se:

-Olha só é parecido com meu antigo celular!- pensou- logo, resolveu falar com o jovem:

-Hei garoto sai dessa, não sabe o que esta perdendo!

Mas o jovem sequer reagiu, na porta alguém o chamou:

-Filho você precisa estudar! Largue esse aparelho!

-Ah mãe, não enche!

-O tempo não se recupera filho, vamos você tem que estudar, se preparar para a vida!

O rapaz virou-se de banda e colocou fones de ouvido, Zênio indignou-se:

-Meu Deus acorda cara! Sai dessa matrix!

Outras imagens vieram e ele entrou nela, onde pessoas se apinhavam num local, Zênio podia ver a todos face a face, era um enterro, pessoas choravam, um clima de pesar terrível, ele viu um rosto e era do rapaz, ele chorava muito! Zênio não conseguia entender o porque daquilo, parecia estar revendo um remake da sua vida, um sentimento indescritível o sufocando, entre uma imagem e outra aquela o marcara deveras.

Logo, outra imagem surgiu e os três voltaram a se reencontrar, um grande conglomerado de galáxias se formava e uma luz intensa os cegou... Todos desmaiaram, mas seus olhos permaneciam abertos por um mecanismo; nos confins do Universo o aparelho vagueava entre imagens e luzes extenuantes de proporções inimagináveis.

Não demorou muito e Zênio despertou, parecia estar se dirigindo para uma fenda entre muitas estrelas, era um buraco negro! Algo terrificante que sugava toda matéria ou fóton de luz que se aproximasse, o propósito era de entrar no buraco negro e descobrir o que enfim haveria alí. Sem poder fechar os olhos ele se via diante de uma das coisas mais temerosas do Universo. Sentia perder as forças quando entrou dentro do monstruoso buraco negro; instantes depois viu uma luz intensa ao longe, uma formação de galáxias desconhecidas a ele, estavam num canto oposto do Universo! Raios gama emanavam de estrelas moribundas e outras estrelas maiores, Zênio já não podia conceber se tudo aquilo era um pesadelo ou algo real, em seu sofrimento conseguiu livrar sua perna e debatendo-se bateu em um painel na sala de controle, subitamente tudo enegreceu, as pulseiras se soltaram e eles pularam ao chão, estava muito escuro e o local parecia balançar um pouco, seus olhos ardiam como que queimados...

Recobrando parte dos sentidos, Zênio conseguiu abrir a porta e assim saíram, ele disse:

-Estamos há 60 metros da superfície, temos que pegar o elevador!

-Não- disse o outro- vamos pela escada de emergência, mas vamos acionar o elevador e eles vão pensar que estamos nele!

-Boa idéia Naglesh!

Minutos depois, os encarregados chegaram:

-Malditos! Como conseguiram?

-Não sei chefe, mas pegaram o elevador, não podem ir muito longe!

-Ok faça o que for necessário.

-Está bem! Homens vamos ao andar 11 pelo elevador reserva, lá poderei parar esse elevador e então vamos atirar!

Minutos depois o elevador foi parado e após terem atirado nele, resolveram checar para retirar os corpos, contudo não havia ninguém alí. -Nos enganaram de novo! gritou o chefe- procurem esses infames!

-Hei- disse um deles- a porta da escada de emergência estava entreaberta, eles saíram por lá!

momentos mais tarde, já na superfície, os tres entraram numa caçamba de caminhão, onde haviam muitas caixas. Zênio abriu uma delas, eram enlatados, milhares deles. Os tres jogaram seus chips identificador num caminhão que viajava pro lado oposto, repleto de animais. Logo, os tres entraram no caminhão sem saber seu destino...

Os homens do governo surgiram minutos depois com sensores, um deles digitou uma senha numa maleta metálica e esta transformou-se num veículo voador, após subir um pouco direcionou um míssil que explodiu o caminhão com animais que estava parado no cruzamento.

Horas mais tarde, Zenio e os outros que ainda dormiam profundamente, sonharam ter caído em um buraco escuro, a essa altura não sabiam se estavam se lembrando do experimento ou se era algo real. A sensação era estranha, tão logo viram uma luz se propagar foram acordados, uma matrix impensada os sugara rapidamente ao que parecia ser um outro mundo. Apesar de não se verem parecia que podiam sentir um ao outro, o medo ainda imperava, o coração batendo descompassado... Como se soubessem o que lhes esperava. Os olhos ainda fechados pelo medo, mas tudo então parou, Zênio lembrou-se de algo e uma sensação de segurança passou a pairar, a luz foi aumentando a medida que abriam os olhos, sentiam-se amparados por algo, apesar do medo deixaram se levar... Após abrir os olhos, Zênio reconheceu a janela, a cortina azul desbotada, sua débil estante... Estava em sua casa, sim sua casa...

Elevou-se sentando-se na cama, esfregou os olhos, aquilo parecia estranho demais...

Sentiu um cheiro de café invadir o quarto, uma nostalgia indelével subiu-lhe ao coração, seria aquilo possível? Ainda que não fosse seu coração estava acelerado apenas com a idéia, mas ele não merecia... Aquilo só poderia ser mais um sonho distorcido, enquanto pensava via lágrimas descer pelo seu rosto... Um som estranho pareceu ecoar pelo corredor, alguém girou a maçaneta... Era sua mãe!

Ela trazia alegremente uma xícara de café na mão, recostou-se a ele e disse: - Sabe filho, eu sei que você não gosta muito de café, mas é o que temos hoje... Zênio tremia... como seria bom se fosse real!

Ele pegou o café e bebeu lentamente sem questionar, podia sentir o calor do líquido descer em sua garganta enquanto sua mãe olhava-o com surpresa no olhar, ele pegou suas mãos.

Após estar convencido que vivenciara uma realidade alternativa, Zênio sentia-se incrivelmente contente com seu despertar, e murmurou:

- Mamãe, eu daria qualquer coisa do mundo para beber o seu café. Qualquer coisa, prometo que tudo será diferente!

"As vezes muitos demoram a se dar contas da realidade em que vivem, e desperdiçam seu valioso tempo naquilo que pensam ser mais importante. As vezes a vida passa num piscar de olhos e quando vemos já perdemos as coisas mais preciosas."

" Certifiquem-se das coisas mais importantes. " — FILIPENSES 1:10.

Fim

Mario B Duran
Enviado por Mario B Duran em 01/06/2019
Reeditado em 16/06/2019
Código do texto: T6662557
Classificação de conteúdo: seguro
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